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Libertem Tilikum e todos os animais do circo

16 de abril de 2010
5 min. de leitura
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No mês passado, no parque de diversões Sea World na Flórida, uma baleia agarrou sua tratadora, Dawn Brancheau, levou-a para debaixo d’água e infligiu-lhe diversos golpes. Na altura em que as equipes de salvamento chegaram, Brancheau já tinham morrido.

Mas este incidente levanta algumas questões: o ataque foi ou não deliberado? A baleia, uma orca conhecida por Tilikum, com a alcunha de Tilly, reagiu ao estresse de ser mantida em cativeiro num tanque esterilizado? Estava cansada de ser forçada a fazer piruetas para entreter a multidão? É correto manter animais deste porte em locais tão pequenos?

Tilly já esteve envolvida na morte de duas outras pessoas. Num dos casos, um tratador caiu na piscina e Tilly e outras duas baleias afogaram-no. No outro caso, um homem, que aparentemente entrou no recinto à noite, quando o Sea World estava fechado, foi encontrado morto na piscina com a Tilly. A autópsia revelou que ele tinha sido mordido. Uma das crias da Tilly, vendida para um parque de diversões na Espanha, também matou o tratador, tal como já aconteceu com outras orcas noutros parques de diversões.

Richard Ellis, conservador marinho do Museu de História Natural dos Estados Unidos, acredita que as orcas são animais inteligentes e que não fariam algo do gênero simplesmente por impulso. “Estes atos foram premeditados”, disse Ellis à The Associated Press.

Nunca saberemos o que passou na cabeça de Tilly, mas sabemos que tem estado em cativeiro desde os dois anos de idade – foi capturada na costa da Islândia em 1983. As orcas são mamíferos sociais e Tilly deveria viver, em conjunto, com a mãe e os outros familiares. É razoável supor que a separação repentina tenha sido traumática para Tilly.

Além disso, o nível de confinamento num aquário é extremo. Nenhum tanque, por maior que seja, está em condições de satisfazer as necessidades de animais que passam a vida em grupo nadando longas distâncias no oceano. Joyce Tischler, do Fundo Legal de Defesa dos Animais, afirma que manter uma orca de seis toneladas num tanque do Sea World é semelhante a manter um ser humano numa banheira durante toda a vida. David Phillips, diretor do Projeto Internacional de Mamíferos Marinhos para o Earth Island Institute, que liderou os esforços para reabilitar a orca Keiko – famosa pelo filme “Libertem Willy” – afirma que as “orcas merecem um melhor destino do que viver em piscinas limitadas.

Mas se vamos apontar o dedo ao Sea World pelo que faz aos animais em cativeiro, devemos ampliar a análise e considerar a forma como confinamos os animais amestrados. Na maioria dos países, é possível visitar jardins zoológicos e ver animais aborrecidos que deambulam de um lado para o outro em jaulas, sem nada para fazer a não ser esperar pela próxima refeição.

Os circos são lugares ainda piores para os animais. As condições de vida são deploráveis, especialmente em circos itinerantes, onde as jaulas são pequenas para poderem viajar. Treinar os animais para desempenharem truques envolve, muitas vezes, crueldade e fome. Investigações secretas já revelaram, por diversas vezes, animais a serem espancados e a quem são aplicadas descargas eléctricas.

Vários países – entre eles a Áustria, Costa Rica, Dinamarca, Finlândia, Índia, Israel e Suécia – proíbem ou restringem severamente o uso de animais selvagens em circos. No Brasil, foi lançado um movimento para proibir a utilização de animais selvagens em circos depois de dois leões famintos terem atacado e devorado um rapaz.

Muitas cidades e muitos governos locais por todo o mundo não permitem circos com animais selvagens. No ano passado, a Bolívia foi o primeiro país a banir todos os animais, selvagens ou domésticos, nos circos. A decisão ocorreu após uma investigação secreta levada a cabo pela Animal Defenders International, e que expôs abusos chocantes aos animais dos circos. Atualmente, o governo britânico realiza uma consulta pública online sobre a utilização de animais nos circos. Muitos esperam que seja o primeiro passo para a proibição.

As tentativas para defender os parques de diversão e os circos com o argumento de que “educam” as pessoas sobre os animais, não devem ser levadas a sério. Estas empresas fazem parte de uma indústria de entretenimento. A lição mais importante que ensina mentes jovens impressionáveis é que é aceitável manter animais em cativeiro para que os seres humanos se divirtam. Isto é contrário à atitude ética com os animais que deveríamos transmitir às nossas crianças.

Também não nos deveríamos deixar convencer pelo argumento de que os circos são fontes de postos de trabalho. O comércio de escravos humanos também era uma fonte de emprego mas esse não foi um argumento para perpetuá-lo. Em qualquer caso, em muitos países onde existem restrições ou proibições para os circos com animais, começaram a surgir em maior número os circos que funcionam apenas com seres humanos.

Não há desculpa para manter animais selvagens em parques de diversões ou circos. Até que os governos tomem medidas, devemos evitar apoiar locais onde animais selvagens estão cativos para nosso entretenimento. Se o público não pagar para os ver, as empresas que se beneficiam com a manutenção destes animais em cativeiro não serão capazes de continuar a prosperar. Quando as nossas crianças nos pedem para as levarmos ao circo, devemos averiguar se o circo usa animais selvagens. Se sim, devemos explicar às nossas crianças porque não as levamos ao circo e, em troca, levá-las a um circo sem animais selvagens.


Fonte: Negócios Online

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