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Ecofeminismo: essência da mudança

10 de abril de 2010
2 min. de leitura
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No início de sua palestra sobre ecofeminismo, durante o I Congresso de Bioética e Direito Animal, a escritora e ativista Marti Kheel lembrou a platéia de um componente importante na personalidade dos defensores dos direitos dos animais: o sentimento de empatia, de colocar-se no lugar do outro. Ela contou que há 30 anos, quando resgatou um gato abandonado, resgatou também este sentimento que havia perdido ao longo de inúmeros conflitos entre sua consciência individual e o modo de vida aceito e praticado pela comunidade. Marti exemplificou relatando um fato marcante da sua infância: Em um acampamento, ela presenciou o abate de galinhas que iriam servir de jantar. “Galinhas que há poucos minutos estavam correndo soltas, ciscando, enfim, levando suas vidas. Fiquei chocada com aquilo.
Mas como todos se comportavam como se fosse um fato banal, logo passei a agir da mesma forma”.

Depois de resgatar o gato, Marti entrou em contato com várias organizações de proteção e acabou tendo acesso a informações sobre o assunto. “Li o livro de Peter Singer, Libertação Animal, o que me ajudou a confiar nos meus sentimentos. Sei que são as questões lógicas que norteiam as teorias, e elas têm seu papel. Mas sem mudanças internas a teoria não é posta em prática. Precisamos descobrir porque algumas pessoas não se importam com o sofrimento alheio, e isso passa, em primeiro lugar, pela ausência do sentimento de empatia”.

É neste ponto que o ecofeminismo mostra sua importância, pois aponta para novas formas de compreender e de se relacionar com a natureza que vão muito além do simples conhecimento racional. Em outras palavras, aponta para um novo paradigma baseado na compreensão sistêmica, em que cada ser é parte inseparável do todo. Neste novo modelo, o sofrimento do outro não pode passar despercebido, pois há unicidade entre todas as formas de vida.

Atualmente, porém, nossa percepção da realidade é fragmentada. De acordo com a ativista Tamara Bauab, que também palestrou sobre o tema, isso faz com que tenhamos um sistema de valores que desvaloriza a mulher e a natureza. “Nosso modelo patriarcal se baseia na dominação, na mercantilização das relações, na valorização de uma ciência cartesiana e linear tida como a única forma válida de entendimento da realidade. Neste contexto, o capitalismo (domínio pelo poder econômico), o machismo (domínio pelo gênero) e o especismo (domínio pela espécie) ganham contornos comuns, pois são fruto de uma lógica distorcida”.

 


Mariana Hoffmann
– É jornalista, educadora, vegana e ativista pela causa animal. Em 2008 deu início a um projeto de mídia independente – o fanzine  bimestral “Informe Vegano”, uma publicação de cunho abolicionista.

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