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Onivorismo e exploração sexual

20 de março de 2010
3 min. de leitura
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Por Tamara Bauab

A maioria das pessoas afirma ser contra a violência, gostar de animais e muitas até devotam grande amor a seus animais de estimação; mas poucas são capazes de pensar sobre sua alimentação como resultante violência contra os animais.

Muitas vegetarianas se apoiam na ideia de que a alimentação é uma manifestação do livre arbítrio, presumindo que nós podemos escolher nosso alimento sem que isso tenha outras consequências políticas. A aparente liberdade de escolha esconde na verdade uma imposição mercadológica e sociocultural.

O onivorismo tem estranhamente se sustentado por um mercado que faz o cultural parecer natural, saudável, eficiente e indispensável, quando no fundo visa a manter dependência a um sistema de dominação. Nós não escolhemos nem nos damos conta dos fatores sociopolítico-econômicos implicados na simples presença da carne em nossa dieta.

A ingestão de produtos de origem animal é a introjeção do sistema masculinista, de forma que o patriarquismo possa nos atacar por dentro. O consumo desses alimentos reflete a exploração reprodutivo-sexual de fêmeas.

Diferentemente dos animais machos, que são assassinados ao nascerem ou ainda bem jovens, as fêmeas animais, que um dia serão convertidas a um pedaço de carne como seus iguais masculinos, ainda são condenadas a viver sob regime de escravidão sexual.

A fim de gerar novos seres para fins alimentares, as fêmeas são ainda mais exploradas para fornecer leite e ovos, alimentos estes sabidamente inadequados à alimentação humana.

A exploração sexual dessas fêmeas de vacas (e outros tantos animais usados na alimentação humana) começa em uma fazenda de produção de leite, ao nascerem já separadas de seus irmãos e irmãs (que não estejam adequadas aos padrões de produtividade), uns assassinados imediatamente, outros mantidos em restrito cativeiro para serem mortos após 2 ou 3 meses, quando são comercializados como carne de vitela ou baby-beef. Já as “afortunadas” fêmeas que gozem de boa saúde e possam ser mais exploradas como fontes de proteína feminina têm seu desenvolvimento e maturação sexual acelerados por hormônios do crescimento e hormônios sexuais – hormônios estes que muito se assemelham aos hormônios humanos e que são lipossolúveis, podendo ser igualmente absorvíveis e atuantes no organismo de quem ingere a carne ou o leite desses animais, podendo provocar casos de câncer de próstata e mama e outras doenças degenerativas.

Após ter sua maturação sexual forçada, a vaca, que ainda seria uma criança, é inseminada artificialmente, fazendo desta cena de estupro também uma cena de pedofilia.

Em uma fazenda de produção, as vacas são constantemente inseminadas em mesas de estupro a fim gerar novas escravas e produzir mais leite – refletindo, assim, a escravidão reprodutiva das fêmeas humanas que perderam o controle sobre seus diretos sexuais e reprodutivos.

Para as ecofeministas, o veganismo é uma forma de dizer não a esta violenta cultura de estupro.

Tamara Bauab é bacharel em Comunicação Social pela Fundação Cásper Líbero, licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), mestre em Ciências Biológicas – laboratório de Síntese Orgânica IP&D – Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento (UNIVAP), especialista em Biologia Celular e Histologia Geral – Departamento de Morfologia da Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina, autora do livro Vítimas da ciência – Limites éticos da experimentação animal, terapeuta Ayurvédica formada pela School of Ayurveda e Panchakarma em Kannur Kerala Índia, diretoa científica do grupo VEDDAS – Vegetarianismo Ético e Defesa dos Direitos dos Animais e Sociedade, e diretora de projetos do Instituto Abolicionista Animal.

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