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Autora do livro "Cleo" afirma que os animais oferecem um amor que os humanos não têm capacidade de dar

3 de março de 2010
5 min. de leitura
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Após ter perdido subitamente o filho mais velho, a neo-zelandesa Helen Brown recuperou a alegria de viver graças à entrada de uma gata bebê na sua família. Cleo, o livro que a colunista lançou, 27 anos depois, é um tributo ao poder curativo dos animais.

Em entrevista ao Jornal Visão, a autora fala sobre a importância da convivência com os animais.

Helen Brown (Foto: José Carlos Carvalho)
Helen Brown, autora do livro "Cleo" (Foto: José Carlos Carvalho)

Como é que Cleo entrou na sua vida?

Na altura eu tinha 28 anos, dois filhos, um casamento a ruir e um cão. Tinha prometido aos miúdos que lhes faria a vontade de aceitar mais um animal, no 9º aniversário de Sam: um gatinho de uma ninhada que havíamos visitado. Três semanas depois disso,  Sam morreu atropelado perto de casa, na presença do irmão mais novo, enquanto tentava salvar um pássaro. Quando os amigos de Sam bateram à porta com a cria, a quem já tínhamos dado o nome de Cleo, vi o meu filho Rob sorrir pela primeira vez desde o funeral do irmão.

O que representou esta gata para você?

Há uma coisa de que as pessoas nem sempre se apercebem: os animais exercem um efeito terapêutico, e até mágico, nas suas vidas. Acima de tudo, ela significou – para mim e para Rob – o último elo de ligação com Sam.

Depois do acidente, tudo se transformou: voltei a casar, mudei de casa, tive mais dois filhos. A gata persistiu como a nossa única ligação ao passado. Creio que Cleo permaneceu conosco durante o tempo que achou que nós precisávamos dela, da sua proteção. No caso, foram 23 anos, que equivalem a 160 nos humanos…

O que quer transmitir com o seu livro?

Testemunhar que a morte de alguém muito próximo não é o fim de tudo. Nos filmes, o herói morre, e vamos para casa no fim. Na vida real, nem sempre estamos preparados para o que acontece depois. Achei importante partilhar o facto de ser possível ter uma vida plena, depois de um incidente trágico. E mostrar como um animal pode dar amor e salvar vidas.

Que reações teve dos leitores?

Não podia ser melhor. O livro já vendeu três mil exemplares e foi traduzido em oito línguas. Recebi, e continuo a receber, correspondência de várias partes do mundo. Houve mulheres que me confessaram: “Se não tivesse os meus dois gatos, não sobreviveria ao meu divórcio como o fiz, mantendo-me viva”. Também aconteceu isso quando, após a morte de Sam, decidi partilhar a minha experiência na coluna semanal do jornal para onde escrevi durante décadas, sobre assuntos de família.

As pessoas se identificaram, afinal?

Choveram cartas de pais que tinham sobrevivido a traumas idênticos e que me devolveram esse sentimento. Não podemos esquecer que, à data, não existia aconselhamento para pais que perdiam os filhos [por doença, desaparecimento ou acidente]. Parar de escrever a minha coluna e fazer de conta que nada se tinha passado não era alternativa. A partilha funcionou como uma terapia.

Que mais a cativa no comportamento felino?Os gatos têm uma sabedoria profunda acerca da vida. Os antigos egípcios já o sabiam e ficavam fascinados pela visão nocturna destes animais independentes e misteriosos, com acesso a outros níveis de sabedoria. Não há animal mais independente. E há mais: se não gostar da pessoa que tem ao lado, procura outro lar. Um gato escolhe-nos a nós, humanos, e não o contrário. Estas características inspiram respeito, admiração e, ocasionalmente, temor.

O que pensa da humanização dos animais de companhia pelos seus tutores?

Bom, não tenho a intenção de ir por aí, mas há aquele terrível clichê de que os felinos são como as mulheres e os caninos como os homens (risos).

Pode explicar isso melhor?

A ideia de que as mulheres se assemelham aos gatos por serem necessidade de seduzir, por serem mais sutis e difíceis de compreender. Já os homens se aproximam dos canídeos, pela sua natureza mais simples, que se contenta com exercício, água e comida.

Os efeitos terapêuticos dos gatos foram comprovados pela ciência?

Existem pesquisas sobre o impacto que os animais têm na saúde. Afagar um animal de companhia baixa a baixa de pressão arterial e a frequência cardíaca. Há quem tenha registado melhorias físicas no plano dos músculos e articulações, através do convívio com os seus bichos.

Tem alguma recomendação a fazer para quem não consegue decidir se quer ter um “inquilino” destes em casa?

(risos) Basta pensar que é quase impossível encontrar o amor incondicional na vida. As pessoas separam-se. As que nos são próximas envelhecem, adoecem, morrem. Os animais, sejam cães ou gatos, oferecem amor de uma forma que os humanos, por vezes, não têm capacidade de dar.

Que cuidados recomenda para preservar o bem-estar do animal que habita conosco?

Depende do ambiente. Cleo viveu ao ar livre, no campo, mas o gato que temos agora., em Melbourne (Austrália) não tem essas condições: temos de levá-lo à rua numa caixa. Procuramos mantê-lo na nossa casa quando estamos em viagem e contratamos uma senhora que faz pet sitting. No contexto urbano, a esterilização, pode ser um mal menor.

Pode referir três qualidades felinas que nos ajudem a viver?

A primeira é a capacidade de estar no presente. Estes animais não perdem tempo a pensar no que vão oferecer à mãe no Natal ou frustrados com o que se passou na semana passada no trabalho.

Segunda: resiliência. Quando as coisas correm mal, os bichos não precisam de horas de terapia nem se abandonam à auto-piedade. Já reparou num animal lesionado? Recupera e segue em frente. Terceira: alegria. Quando um gato está feliz, esse estado emana-lhe do corpo.

Fonte: Visão

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