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Informação que presta desserviço

26 de fevereiro de 2010
3 min. de leitura
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Cada vez mais é notável a falta de pessoas bem preparadas quando o objetivo é informar. Embora exista uma infinidade de excelentes profissionais na área jornalística, ainda é possível perceber com frequência que a maioria peca pela falta de pesquisa e oferece ao público informação errônea e contraditória quando trata de dois assuntos: aquecimento global e consumo de animais.

Na sexta-feira, dia 19 de fevereiro, o caderno ‘Ilustrada’ da Folha de S. Paulo trouxe em sua primeira página a matéria Holocausto de animais, sobre o documentário The cove, o qual mostra a horripilante caça aos golfinhos no Japão. Indicado ao Oscar, o documentário também apresenta o perigo do consumo da carne de golfinho para a saúde, já que o mamífero é uma das espécies marinhas que absorvem a poluição causada pelos seres humanos e retém até 5 mil vezes mais mercúrio do que o permitido em alimentos. Em destaque, na mesma página da matéria, havia uma análise com o título “É possível comer animais com civilidade”. Escrita por um colunista do próprio jornal, o texto chama atenção logo no início ao questionar a rejeição ao abate de algumas espécies, como foca e cachorro, seja pela crueldade ou o perigo de extinção. Porém, ainda no segundo parágrafo, o autor mostra a que veio. Com tom bem-estarista, afirma, em suas palavras: “nem todos os animais estão em extinção (alguns só sobrevivem como espécie porque o homem os cria para comer); e a crueldade poderia ser eliminada (para golfinhos e para franguinhos).”

Em seguida, diz que o ato de recusar alimento animal é antinatural e que a única forma de diferenciar a humanidade na natureza é consumir animais civilizadamente, evitando sofrimento e sem colocar espécies em risco, numa atitude de compaixão. Até este ponto, o autor abordava o assunto baseado em suas crenças pessoais, ainda que completamente absurdas, mas que só nos permitem discordar. Contudo, ao finalizar seu raciocínio para centenas de leitores, equivocadamente o colunista diz: “que atire o primeiro arpão aquele que, no Ocidente ‘civilizado’, nunca comeu carne de bois trucidados sem piedade, frangos criados pior que os prisioneiros de Abu Ghraib ou queijo de soja que vem dizimando a floresta amazônica”. É aqui, ao cutucar o tofu nosso de cada dia, que podemos questioná-lo com bases científicas. O colunista engana-se ao pensar que pode incluir os que trocaram alimentos de origem animal por queijo de soja em seu discurso hipócrita, com o qual busca se isentar de culpa das mortes dos animais e da destruição ambiental que elas causam. Bastasse uma rápida pesquisa no Google para saber que é por causa da pecuária que nossas árvores são queimadas aos montes, e que da soja produzida na Amazônia são para alimentar o gado e não para produzir queijo vegetal. Assim, não há como colocar em pé de igualdade o ato prejudicial de consumir carne com o de consumir tofu.

Não é à toa que cientistas renomados já afirmaram que, se a população mundial adotasse o hábito de consumir menos carne, boa parte das emissões de gases do aquecimento global se reduziria significativamente. Por mais que muita gente não queira aceitar, seja por comodismo, ignorância ou egoísmo, a dieta vegetariana é a que mais atende às necessidades de alimentação perante as mudanças climáticas.

Se cada profissional de comunicação entendesse sua real importância enquanto disseminador de informação, que pode estar em suas mãos gerar debate, mudar atitudes e, muitas vezes, informar para conscientizar, seria muito mais fácil encontrar soluções para a harmonia entre nossas atividades humanas e o planeta que nos abriga.

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