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Caçadores de Azambuja, em Portugal, evocam tradição com batida às raposas

20 de fevereiro de 2010
4 min. de leitura
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Sacrificar alguns animais para que outros possam viver. Esse foi o lema da última batida às raposas realizada no município de Azambuja, em Portugal, no sábado, 13 de Fevereiro. Promovida pela Associação Desportiva de Caçadores do município de Azambuja (ADCA), e com o apoio da Câmara Municipal, o principal objetivo era controlar uma raça que “tende a desequilibrar o ecossistema” no município. Com esta batida os caçadores querem permitir a proteção de outras espécies, como a lebre, o coelho e a perdiz.

A batida às raposas é uma tradição no município e os homens das espingardas querem manter vivo um legado que já dura desde a implantação da república em Portugal. Numa batida, ao contrário de uma caçada, os caçadores são colocados em diversos pontos estratégicos ao longo do terreno, denominados “portas”, e aí se mantêm estacionários e em silêncio à espera da presa. A disposição dos homens no terreno cerca o perímetro onde as raposas estão localizadas. A prova começa quando um grupo de batedores percorre o mato tentando assustar as raposas e forçá-las a sair das suas tocas. O final é dado com um foguete. Para a batida de sábado os caçadores de Azambuja estavam autorizados pela Autoridade Florestal Nacional a abater um número ilimitado de animais.

“Quando consomem toda a fauna e flora começam a aproximar-se das casas das pessoas e comem galinhas e ovelhas. Para quem aqui vive somos recebidos com agrado”, explica Manuel Horácio Varanda, presidente da direção da ADCA. A associação, fundada no final dos anos 80, tem hoje mais de 200 sócios. Na batida às raposas participaram 32 espingardas e 20 batedores, número que tem vindo a crescer ao longo das edições. Numa típica manhã fria de inverno os homens juntam-se no pavilhão do Grupo Desportivo de Azambuja, onde se situa a sede da associação. As “portas” de caça são sorteadas, realiza-se uma troca de impressões e os homens arrancam para o pequeno almoço. Ainda não são nove horas e já cabem nos estômagos várias bifanas com mostarda e imperial. Entre os caçadores antevê-se a prova. “As raposas são espertas e manhosas, cheiram os caçadores ainda antes de entrarmos no mato”, alerta um dos participantes.

De armas em riste os homens tomam as suas posições no Vale Espingardeiro, às portas da vila de Azambuja. Como se de um jogo de estratégia se tratasse, as peças são dispostas no tabuleiro de forma a não dar hipóteses ao adversário. “A segurança primeiro”, avisa constantemente Manuel Varanda. Todos os batedores levam coletes refletores para minimizar o risco de serem confundidos com uma presa. É que ali qualquer coisa que mexa no meio do mato é um alvo.

Quando os batedores arrancam para o terreno, a prova começa. O silêncio é quebrado pelo som de bombas destinadas a afugentar os animais. “Ali! Veja uma ali!”, grita entusiasticamente Manuel Varanda, também ele caçador. O jornalista confessa não ter visto nada. “Não? Foi pena…”, lamenta.

“Hoje em dia não é só puxar o gatilho e matar. Antigamente era verdade, matava-se indiscriminadamente. Hoje existem regras ambientais estabelecidas, não apenas no número de exemplares caçados como até nos cartuchos. Se um agente da polícia nos encontrar com a peça de caça e não tivermos o cartucho vazio conosco sofremos uma multa de quase 500 euros. Atualmente as associações têm o dever de repovoar as espécies e ajudar os proprietários dos terrenos. Se não cuidarmos da caça é o fim da própria modalidade desportiva”, defende o nosso interlocutor. Um exemplo da crescente preocupação dos caçadores com o meio ambiente é o protocolo assinado em 2009 entre a Câmara Municipal de Azambuja e as associações de caçadores do município, que visa assegurar a vigilância florestal durante o verão.

Ao fim de poucos minutos ouvem-se tiros de uma das portas. Alguém avistou uma raposa. Só no final da batida se saberá se os caçadores tiveram sorte. Um foguete lançado perto da hora de almoço assinala o fim da prova. Os caçadores começam a reunir-se. “Eu via-a, passou mesmo à minha frente e eu ia a disparar quando o outro caçador começou a gritar e ela fugiu-me da mira!”, contava um caçador aos parceiros no final da prova. De armas guardadas nos sacos de tranporte faz-se o balanço: zero vítimas.

“Enfim, tivemos azar. Eu sou caçador há 30 anos e ando nisto mais pelo convívio com os amigos, pelos almoços e porque gosto de dar uns tiros. Quando não venho à caça vou ao tiro aos pratos. Também é bom para desligar dos problemas do dia-a-dia”, conta Ouro Bronze, caçador. Um almoço de convívio selou o dia.

Fonte: O Mirante

Nota da Redação: Cada vez mais o ser humano invade o habitat natural dos animais, provocando desequilíbrios nos ecossistemas, e muito covardemente projeta a culpa sobre os animais — no caso, as raposas, que com absoluta certeza são bem menos perigosas do que os seres humanos.

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