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Colin e a natureza

17 de fevereiro de 2010
5 min. de leitura
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Mais um ano acaba e outro tem início com novas perspectivas e planos. Porém, antes de celebrar as conquistas que virão, cabe retroceder um pouco no passado e homenagear os 50 anos de carreira de um dos maiores quadrinhistas do Brasil. Como a ANDA é um local para difundir práticas libertárias, vale mostrar um pouco da produção deste grande artista, com enfase no lado ecológico.

Nascido em 1930, no Rio de Janeiro, Flavio Colin morreu em 2002, vítima de enfisema pulmonar seguido de enfarto fulminante. Pouco antes da morte, Flavio acabara de completar um livro que seria publicado cinco anos depois, pela editora carioca Desiderata. No caso, é o livro Caraíba, que segue o mesmo tema dos últimos trabalhos do autor: o meio-ambiente.

Além de ferrenho defensor da cultura nacional, principalmente no que diz respeito às Histórias em Quadrinhos, Colin era um apaixonado pela natureza. Não entrava na cabeça dele o quão ridículo e mesquinho o humano pode ser ao tratar o planeta e aquelas que vivem nele. Partindo por essa motivação ele trabalhou em livros/histórias como O Curupira (mitológico ser indígena defensor da floresta), Mapiguari e outras histórias (compilação de contos que se passam na amazônia mostrando a degradação da floresta) e Caraíba (um caçador e contrabandista de animais silvestres que, encantado por Curupira, se torna defensor da floresta). Este, como o próprio Colin registrou, “talvez seja seu último trabalho importante”.

No entanto, a veia ecologista do autor não surgiu apenas já perto do fim de sua vida. Em 1964 ele já trabalhava com o tema. Provavelmente o ápice tenha sido a série, publicada na Folha de São Paulo com ajuda de Maurício de Souza, chamada Vizunga. As histórias de Vizunga eram sobre um milionário ex-caçador e pescador que, em rodas de amigos, conta e ouve casos. De acordo com o jornalista e pesquisador Gonçalo Jr, autor do livro Vida Traçada – Um perfil de Flavio Colin, além do tema, o que mais chama atenção em Vizunga são as duas maneiras de se contar história. “As histórias traziam duas formas de narrar. Uma parte era mais ‘séria’ com traços acadêmicos (…) [e também] entrava o lado cartunista e caricaturista do autor, para exagerar na ideia dos excessos dos contadores de casos”, descreve Gonçalo no referido livro. Vizunga foi republicado na integra em 1978 pela editora Vecchi, na revista Eureka.

O que marca os 50 anos

Apesar de fazer histórias em quadrinhos desde a mocidade, nos idos de 1950, Colin considerava como marco inicial de carreira a publicação da série Aventuras do Anjo. Editada, em 1959, pela editora RGE, Aventuras do Anjo foi um tipico caso de migração de mídias. Sucesso nos rádios da época como novela, logo foi desenvolvida a revista em quadrinhos. O convite para Colin surgiu do próprio escritor e ator principal da série, Álvaro de Aguiar. A partir de então, Flavio desenhou os 43 primeiros números da série, que possui total de 60 edições.

Durante os vários anos de carreira, Colin desenhou de tudo, desde terror, aventura, ficção, até mesmo histórias eróticas e pornográficas. A versatilidade no traço do autor é até hoje reconhecida, estudada e apreciada. Com linhas simples, ele encanta pela expressividade e vida que consegue dar aos cenários e personagens de suas histórias.

A sina de muitos artistas é não ser reconhecido enquanto vivo, para Colin não foi diferente. Os últimos anos de vida do autor foi um período amargo. Sofreu calotes e quase não havia lugar para que publicasse seu trabalho.

Um dos poucos editores que “reapresentou” o talento de Colin aos leitores contemporâneos foi o mineiro Wellington Srbek. Por iniciativa independente, Srbek editou o álbum Estórias Gerais (com 160 páginas e mais tarde reeditado pela Editora Conrad em álbum de luxo), escrito por ele com desenhos de Colin, além de várias outras histórias curtas de terror distribuídas em diversas revistas mix. A parceria de Sberk e Colin se deu entre a década de 1990 e pouco antes da morte do autor.

Muito mais que desenvolver um longo texto mostrando todo, ou grande parte, do trabalho de Colin, este pequeno artigo serve para despertar a curiosidade sobre uma dos maiores, se não o maior, autor de quadrinhos brasileiro. Colin, mais do que um simples quadrinhista era um amante da nona arte, ou seja, dos quadrinhos e também da natureza e da cultura nacional. Tudo muito bem observado quando se faz um levantamento da bibliografia produzida por ele.

Para conhecer um pouco mais sobre Colin e suas obras há um breve relato escrito por Wellington Srbek aqui. O site Bigorna.net, especializado em quadrinhos nacionais, possui uma pequena biografia do autor aqui. Há ainda o livro de Gonçalo Jr. Vida Traçada, que aborda exclusivamente a trajetória de Colin e pode ser adquirido diretamente com a editora Marca de Fantasia, aqui.

Como tema correlacionado à natureza e de fácil acesso hoje em dia, como dito, destaque para:

Caraíba
Editora Desiderata
128 págs.,
formato 21 x 28 cm,
R$ 32,90


O Curupira
Editora Pixel
60 págs.,
formato 21 x 28 cm,
R$ 29,90


Mapiguari e outras histórias
Editora Opera Graphica  
50 págs.,
formato 21 x 28 cm,
R$ 17,90

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