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Radical, eu?

16 de fevereiro de 2010
4 min. de leitura
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Poucas coisas me deixam tão irritadas quanto quando ouço alguém me dizer “nossa, mas então você virou radical” – quando eu digo que sou vegetariana. Se a palavra fosse usada na sua concepção primeira, no que diz respeito ao que está ligado às origens, às raízes, até que eu ficaria feliz. Seria bom saber que em nossas origens poupávamos os animais.

Infelizmente esse “radical” vem em tom pejorativo, referindo-se a ser excessivo, a ser exagerado em algo. A primeira questão que me vem à mente é “quem é radical?”. Uma vez, um colega de yoga que me conhecia há quase um ano e nem tinha ideia de que eu era vegetariana, apontou o dedo na minha direção e disse a tal frase. Para combater minha indignação, escrevi-lhe uma carta, que reproduzo abaixo:

Amigo,

Eu senti muito pela forma como você apontou o dedo e chamou de radical qualquer pessoa que tenha uma postura diferente da sua. Veja bem que você me conhece há quase um ano e nem sabia que sou vegetariana. E você só ficou sabendo porque amigos em comum perguntaram por que eu não comia carne.

Sabe o que é engraçado? Eu nunca te chamei de radical por comer carne. Mas você chama de radical quem resolve não comer…

Então, vamos ver alguns pontos sobre isso de ser radical, ok?

Você acha que teria coragem de pegar um revólver e dar um tiro numa vaca, numa galinha ou num porco, olhando nos olhos do animal, assim como eu olho no do meu cachorro? Eu acho que não… Acho que não teria coragem… Então eu te pergunto: quem manda matar faz menos do que quem mata? E matar não te parece radical?

Eu não cheguei a falar ontem, mas as pessoas que param de comer carne normalmente param por três motivos:

– Ambiental: a criação de carne devasta florestas, gastam-se toneladas de soja para fazer 1 quilo de carne, os excrementos e gases produzidos pelos animais poluem o ambiente.

– Saúde: há estudos ligando a ingestão de carne a muitas doenças, entre elas o câncer e o colesterol. Além disso, o hormônio que é dado para que os animais cresçam mais rapidamente tem prejudicado os seres humanos. Os animais estão enfraquecendo com a forma com que são criados e por isso cada vez recebem mais antibióticos, que acabamos ingerindo por tabela, sem saber. Essa atitude de nos encher de remédios sem sabermos não te parece radical?

– Ética: os animais vivem em condições sub-humanas, são maltratados, vivem doentes, sentem dores, sofrem quando são separados dos seus filhotes e quando sabem que vão morrer. Provocamos sofrimento e dor só porque achamos gostoso comer carne e não porque precisamos. Radical, não é?

Você tem razão quando diz que é cultural. Como era cultural considerarmos os negros menos que humanos e nos acharmos no direito de legislar sobre a vida e a morte desses, para os fins que bem entendêssemos.

Agora, se você ainda acha que sou radical, veja só quantos outros estão comigo:

“Nada beneficiará tanto a saúde humana e aumentará as hipóteses de sobrevivência da vida na terra quanto a evolução para uma dieta vegetariana. A ordem de vida vegetariana, pelos seus efeitos físicos, influenciará o temperamento dos homens de uma tal maneira que melhorará em muito o destino da humanidade.”(Albert Einstein)

“Entre a brutalidade para com o animal e a crueldade para com o homem, há uma só diferença: a vítima.”(Lamartine)

“Quanto mais o homem simplifica a sua alimentação e se afasta do regime carnívoro, mais sábia é a sua mente.”(George Bernard Shaw)

Há muitos mais radicais, como Buda, Lao Tsé, Leonardo da Vinci, Platão, Sócrates, Voltaire, Professor Hermógenes, Patrícia Travassos, Éder Jofre, Paul McCartney, entre tantos outros.

E, com certeza, o mais radical de todos – Gandhi: “Sinto que o progresso espiritual requer, numa determinada etapa, que paremos de matar nossos companheiros, os animais, para a satisfação dos nossos desejos corpóreos.”

Sabe, amigo, eu não fico te apontando, chamando de radical e dizendo que minha opção é melhor ou pior que a sua.

Você se pergunta: “Eu posso comer carne?” E a resposta é: claro que sim!!!

Eu me pergunto: “Eu posso viver sem comer carne?” Minha resposta: claro que sim!!!

Simples assim. Cada um na sua. Perceba que, do meu ponto de vista, eu poderia dizer que quem come carne e precisa se alimentar de vidas é radical. Mas não o faço.

Então pare e pense melhor antes de apontar radicalismos.

Será que pode ser chamado de radical quem venceu um hábito – como o de fumar ou beber – de comer carne e percebeu que não precisa provocar a morte de animais para continuar vivendo bem e com saúde? É só uma opção. Será que podemos chamar de radical quem encara os animais como amigos e não quer comer seus amigos?

É radical querer saber de onde vem minha comida e não compactuar com morte? Não sei por que, mas não me sinto assim tão radical…

Namastê

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