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Canadá abre temporada de caça às focas durante jogos de inverno

14 de fevereiro de 2010
5 min. de leitura
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Por Raquel Soldera (da Redação)

As Olimpíadas de Inverno em Vancouver, no Canadá, começaram nesta sexta-feira (12). E enquanto os atletas internacionais competem na neve, todo o país celebra uma tradição que nada tem a ver com os valores olímpicos.

O Canadá dará início na próxima segunda-feira (15) à temporada de caça às focas, enquanto as organizações pelos direitos dos animais pedem o fim da matança. De 1983 a 2005, quase quatro milhões de focas foram caçadas, de acordo com o Ministério da Pesca canadense.

Grupos ambientais e contra maus-tratos de animais têm chamado a atenção sobre a matança de focas ser o novo esporte olímpico do Canadá. Mas este ano a PETA decidiu ligar diretamente os Jogos de Inverno com a caça, como parte de sua campanha. Desde a criação do site Olimpics Shame 2010, a associação condena a permissão da caça às focas pelo governo canadense e solicita à comissão de organização de jogos que se posicione contra a matança.



Campanha do PETA contra a caça de focas. (Imagem: Público)



Por que o Canadá permite a caça

Todo ano, cerca de 15 mil pescadores canadenses se reúnem em fevereiro na costa do Atlântico, para realizar a caça às focas, permitida desde 2006. As cotas estabelecidas são de cerca de 300 mil focas. Autoridades canadenses justificam a prática porque a venda de produtos derivados de peles de focas traz benefícios econômicos, tanto para os pescadores quanto para o país.

O método usado para a caça de focas é altamente brutal. Existem três tipos de utensílios juridicamente válidos. Um bastão que deve atender dimensões determinadas, uma hakapik, ferramenta de madeira com a ponta de aço ou metal semelhante ao machado utilizado por escaladores, e a arma de fogo.

O processo legal prevê que, no caso da utilização do bastão, o pescador deve dar um golpe certeiro na cabeça da foca e verificar se o crânio partiu, para então cortar as duas principais artérias e deixá-la sangrar. O mesmo método se aplica no uso da hakapik, e, no caso do uso de uma pistola ou espingarda, o tiro deve ser direto na cabeça do animal.

Para o governo canadense, este método é o “mais humano” e “indolor”, sendo “infalível” e “impedindo o sofrimento animal”.

As associações de defesa dos animais acreditam que o trauma causado ao serem golpeadas deveria ser suficiente para ser considerado dor. No vídeo divulgado pela PETA no site Olimpics Shame 2010, é possível ver que as normas estabelecidas pelo Ministério de Pesca canadense não são respeitadas, e o que deveria ser um golpe certeiro se converte em uma surra até a morte do animal.



Campanha do PETA contra a caça de focas. (Imagem: Público)



Tradição de crueldade e sofrimento

Desde o século XIX, a caça à foca é uma tradição no Canadá. A temporada de caças ocorre duas vezes por ano, uma para a costa atlântica e outra no Golfo de São Lourenço.

A partir dos anos 1990, a matança de focas aumentou e diminuiu de acordo com as oscilações do mercado. Para o Canadá, o comércio de peles de focas tornou-se uma lucrativa fonte de renda. Em janeiro deste ano, a Ministro da Pesca, Gail Shea, chegou a um acordo com a China para a exportação de produtos derivados da matança focas (leia notícia publicada na ANDA aqui). No ano passado, o país obteve um lucro de 10 milhões de dólares.

De 1983 a 1995, foram caçadas no Canadá uma média de 51 mil focas por ano. Em 1996, a pele de foca passou a ser muito valorizada na indústria têxtil internacional e foi estabelecida uma cota de 250 mil focas a serem caçadas por ano. Em 1997 esse número aumentou para 275 mil animais. Em 1998 o número passou para 285 mil focas, mas depois diminuiu para 240 mil em 1999.

Em 2000, a caça às focas teve uma redução muito significativa, com uma estimativa de 90 mil animais mortos. Mas, infelizmente, no ano seguinte esse número voltou a aumentar.

Em 2001, uma comissão do governo alertou que era necessário uma avaliação mais profunda do impacto que a caça tinha na população total de focas. Foi introduzido um conceito chamado de “substituição por rendimento”, que se refere ao número de focas que podem ser mortas para que a população total não diminua no ano seguinte.

Desde então e até 2005, os pescadores canadenses foram responsáveis pela morte de um total de 985.312 animais, de acordo com as estatísticas do governo, que consideram períodos de quatro anos. Em 2006 entrou em vigor um novo período de caça, que termina este ano. Com o negócio fechado com a China, espera-se que a matança de focas se multiplique.

A Humane Society alega que os números fornecidos pelo governo são distorcidos, porque não levam em conta os animais que acabam no mar durante o carregamento dos navios ou aqueles que, gravemente feridos, acabam fugindo e morrendo no Atlântico.

Com informações de Público

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