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Conforto e cuidados para cães que vivem em áreas externas da casa

6 de fevereiro de 2010
10 min. de leitura
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A vida na área externa de casa, com amplo gramado e bom espaço para se exercitar e tomar sol, é recomendada por médicos veterinários por ser benéfica para o desenvolvimento da musculatura de quaisquer raças de cachorro.

Mas manter a saúde do animal e a ordem da casinha é um desafio para os tutores que optam por alojar os cães no quintal ou jardim.

“Quando ainda são filhotes, é necessário que sejam estabelecidas regras e que o tutor ensine quais são os limites. A principal forma de fazer isso é colocar barreiras físicas (grades ou muros) nas áreas que ele não pode ocupar e estabelecer um local fixo para as atividades cotidianas”, afirma o médico veterinário Rodrigo Friesen, especialista em animais de companhia e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

Na opinião do profissional, a melhor opção é construir um canil, que será o espaço exclusivo do cão, onde ele terá cama, comida e área para descansar. “Não pode ser tratado como uma prisão. O ideal é que ele fique solto a maior parte do dia”, diz ele. A outra opção, segundo Friesen, é reservar uma área coberta, na garagem ou varanda, para o cão. “O importante é que o local seja limpo e seco.”

A arquiteta Gisele Busmayer projetou um canil durante a construção de sua casa. O espaço, de 4 metros quadrados, é totalmente integrado ao paisagismo da área externa. Neste local, George, um terra nova de 7 anos, fica preso apenas quando está sendo feita a limpeza da piscina e do jardim. “No dia a dia, ele fica livre para usar o canil ou andar no jardim, onde tem um local para fazer xixi e brinquedos e ossinhos para se divertir”, diz.


A praticidade para limpar determinou o uso de piso no canil planejado para o terra nova George. (Imagem: Gazeta do Povo)
A praticidade para limpar determinou o uso de piso no canil planejado para o terra nova George. (Imagem: Gazeta do Povo)


A empresária Yael Andreguetto, que tinha casa e jardim prontos quando trouxe a dobermann Jade, hoje com 8 anos, pediu ajuda para projetar um canil confortável. “Os tutores dos pais de Jade sugeriram um canil com área gramada a céu aberto e área calçada coberta”, diz. Jade convive com a golden retriever Mel, de 6 anos. “Como eu imaginava ter outro cão de grande porte, fiz o canil com duas casas.”

A recomendação para quem tem dois ou mais animais é separar os utensílios para alimentação e o espaço para descanso de cada um. “Quando ficam juntos durante as refeições, pode haver briga”, afirma Ferdinando Nieder­heitmann, da Clínica Veterinária Curitiba, médico veterinário de Jade e Mel.

Para ele, o principal benefício da vida em área externa é a possibilidade de tomar sol com mais frequência, para “eliminar eventuais bactérias e favorecer a ossificação pela indução à produção de vitaminas (A e D).”


Yael, tutora de Jade e Mel, construiu o canil com áreas totalmente separadas para as duas, mas os portões ficam abertos o tempo todo. (Imagem: Gazeta do Povo)
Yael, tutora de Jade e Mel, construiu o canil com áreas totalmente separadas para as duas, mas os portões ficam abertos o tempo todo. (Imagem: Gazeta do Povo)


Um amplo espaço, no entanto, não supre a necessidade de passeios e, principalmente, da atenção dos tutores. “O hábito de passear, ao menos um vez ao dia, deve ser mantido tanto para os cães que vivem em apartamento quanto para os que moram na área externa. É um momento de carinho, importante para a relação entre cão e tutor”, afirma Friesen.

Não é apenas quem dispõe de quintal que pode ter um espaço exclusivo para o cão. Em apartamentos com terraços ou grandes sacadas é possível fazer um canil proporcional à área e ao tamanho do cão. “Mas é preciso ter muita atenção com a segurança, colocando telas resistentes nos parapeitos das sacadas”, diz Nieder­heitmann.

Projeto

A exemplo do que fez Yael, seguir conselhos antes de construir uma casa ou canil para os bichinhos é a melhor solução. “Toda construção exige um projeto que defina o tamanho, localização e estrutura da obra, além da quantidade de material”, diz a arquiteta Luiza Kaimoto.

Segundo ela, a melhor posição de um canil é virado em direção ao leste, para receber insolação durante a manhã. “É preciso também pensar na drenagem do quintal, impedindo que fortes chuvas provoquem alagamentos.”

O etólogo (especialista em comportamento animal) Bruno Tausz, diz que casas muito pequenas aumentam o estresse dos cães. “Dentro da casa o animal deve conseguir ficar em pé, deitar e se virar confortavelmente”, diz ele, que é presidente do Conselho de Cinologia da Confederação Brasileira de Cinofilia.

Tausz lembra ainda da necessidade de, ao projetar o abrigo para um filhote, considerar o tamanho que ele ficará na fase adulta.

Na escolha de materiais, as arquitetas sugerem o concreto, que favorece a manutenção da temperatura. Pode-se comprar casas pré-fabricadas, de bloco de concreto. “Uma casa, para um cão de grande porte, custará em torno de R$ 500, com a mão de obra”, diz Luiza.

A madeira pode ser usada, mas exige mais manutenção e o uso de impermeabilizante, que evita o apodrecimento. “O acabamento precisa ser impecável, para que o cão não se machuque com farpas ou pregos”, afirma Gisele.

Há ainda diversos tipos de casas de plástico, que podem ser usadas desde que tenham boa circulação de ar, teto alto e que o cão não consiga tirá-la do lugar. “Alguns animais podem desenvolver dermatites ao entrar em contato com o polipropileno”, diz Friesen.

Na cobertura da casa de concreto ou de madeira, estrutura de madeira e telhas de barro garantem conforto térmico e acústico. Uma área fora da casa, onde ficarão a água e o alimento do cão, também deve ser coberta.

O piso não pode ser muito áspero, para evitar a formação de calos nas patas; e não pode ser excessivamente liso, pois o cão pode escorregar e se machucar. “Piso cerâmico com antiderrapante na área coberta e uma faixa com grama é o ideal”, afirma Tausz.

De acordo com o etólogo, o contato exclusivo com superfícies lisas pode agravar a dor nos casos de displasia coxofemural (doença genética caracterizada pela má-formação da articulação entre o fêmur e a bacia, que provoca inflamações).

Casa sem cheiro

A área de descanso de Scott, um golden retriever de 1 ano, é um modelo de limpeza e conforto. Um estrado de madeira serve de cama, para que o animal não fique em contato direto com o piso, que pode estar molhado e desconfortável. As cobertas de lã, que são fontes para perpetuar o ciclo da pulga, foram eliminadas. Mas o principal investimento está no sistema de esgoto, semelhante ao do vaso sanitário.

“Não jogar as fezes no lixo comum foi a grande preocupação quando projetamos o canil”, diz Marcelo Picolli, tutor de Scott. Os dejetos são varridos duas vezes por dia para uma vala, ligada à rede de esgoto.


Acostumado a morar no canil desde os primeiros meses, Scott só deixa a casinha para tomar sol na grama. (Imagem: Gazeta do Povo)
Acostumado a morar no canil desde os primeiros meses, Scott só deixa a casinha para tomar sol na grama. (Imagem: Gazeta do Povo)


A limpeza da casa de Scott é complementada com o uso de água abundante e detergente neutro, uma vez ao dia. Para facilitar, há uma torneira instalada dentro do canil.

“A cada 15 dias é recomendada a desinfecção com cloro, sem que o cão esteja no canil”, diz Nieder­heitmann. Com o uso de água fervente nas paredes e piso, é possível eliminar carrapatos e pulgas.

Seguir todas as especificações para um canil perfeito custa entre R$ 1,2 mil e R$ 2 mil, de acordo com a arquiteta Gisele Busmayer, que projetou o canil na casa de Picolli.

Para fazer o canil para Jade e Mel, Yael gastou cerca de R$ 1,5 mil e não se arrepende. “É um bom investimento, pois o improviso seria ruim para elas, que ficariam em um ambiente inadequado”, diz.

Cuidados para o jardim

O gramado, jardim e pomar das casas que têm cachorros precisam de atenção redobrada. Com alguns cuidados, o cão vai ser um grande amigo do seu jardim.

– Os cães tendem a imitar os donos. Evite mexer no jardim na frente deles.

– Mantenha a poda frequente de arbustos e grama, que deve ter de 2 a 3 centímetros. A espécie de grama mais resistente às corridas e brincadeiras dos cães é a São Carlos.

– O principal inimigo do gramado é a urina dos cachorros. Para diminuir a acidez, que queima as folhas, a solução é aguar a grama diariamente. Se o cão urina nos arbustos, pode-se proteger as mudas com cercas ou plantá-las em vasos com, pelo menos, 60 centímetros de altura.

– Se o seu cão gosta de cavar buracos, deixe-lhe um pequeno canteiro livre. A dica é treiná-lo a cavar ali, escondendo um osso no local quando ele estiver olhando e deixando brinquedos na região.

– A citronela é um repelente natural de cães e pode ser usada em vasos (inclusive sobre móveis) para educá-los a se manterem distantes.

– Para manter as plantas bonitas e os cães saudáveis, o ideal é adubar o jardim e pomar com produtos orgânicos que não prejudiquem o cão. Mas evite o pó de osso, que vai atrair e instigar o cão a cavar buracos.

Curiosidade e descuido aumentam o perigo externo

O cão morador de áreas externas fica mais exposto aos perigos. Benéfica na maioria dos casos, a grama oferece condições ideais para a proliferação de parasitas. “Os cães que cavam muito podem sofrer de micoses. Nestes casos o melhor é deixá-los longe de terra, areia e grama e iniciar um tratamento”, diz Rodrigo Friesen, especialista em animais de companhia e professor da PUCPR.

O nariz sensível de um cão também pode farejar o que é potencialmente perigoso. Antes de levar o cachorro para viver no quintal, deve-se vasculhar o território procurando por perigos ocultos: plantas, venenos contra insetos e roedores, além de detergentes e solventes.

Algumas plantas domésticas, como comigo-ninguém-pode, filodendro e caládio, além de flores, como íris, azaleia, hortênsia, jasmim e glicínia, são tóxicas para os cães. Se ingeridas, a maioria das plantas pode causar distúrbios gastrointestinais. “Para proteger o cão, coloque-as fora de alcance, penduradas no alto ou atrás de uma barreira de tela”, indica o médico veterinário Ferdinando Niederheitmann, da Clínica Veterinária Curitiba.

A paisagista Ana Lupion indica os arbustos lenhosos para criar uma barreira natural nas áreas em que os cães não podem entrar. “Só é preciso tomar cuidado com os arbustos espinhentos, como a coroa-de-cristo, que podem machucar o animal”, diz. No caso das árvores, é preciso observar os troncos partidos e apodrecidos, que podem fazer proliferar fungos causadores de doenças nos cães.

Fonte: Gazeta do Povo

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