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Você está lutando A FAVOR do quê?

25 de janeiro de 2010
7 min. de leitura
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“Eu não sou contra comer carne.” Você provavelmente não esperava escutar uma frase dessa, vinda de uma ativista vegana pelos direitos animais. Deixe-me explicar…

Às vezes, quando as pessoas descobrem que eu sou vegetariana, elas dizem: “Ah, você é vegetariana… Você é contra comer carne”. Então eu tive que pensar sobre essa frase, especialmente porque com a Vegetarian Solutions, meu objetivo é focar no que sou A FAVOR e não no que sou CONTRA.

Assim, eu realmente tive que refletir sobre isso e pensei comigo mesma: sou contrária ao consumo de carne? Eu realmente sou contra o quê? Qual o problema de um abutre comer a carne de um animal morto? Se um abutre está comendo um animal que já está morto, não me sinto afetada.

Então, comecei a pensar: não sou contra comer carne, o que não gosto é de pensar em um animal morrendo à mercê de outro. Assim, hipoteticamente, se um animal tiver de morrer por causas naturais, eu realmente não tenho nada com isso.

Eu não sou A FAVOR de comer animais (mesmo que ele tenha tido uma morte natural) por razões óbvias: o sofrimento do animal, o gasto de recursos naturais para criar animais, toda carne tem colesterol, nenhuma carne tem fibras, a carne pode ser facilmente contaminada por bactéria etc. Mas compreendi que não é o fato de o animal estar morto que me aborrece, desde que o animal não tenha sido sacrificado ou não tenha sofrido. Para mim, a ideia de criar, matar e comer animais parece absurda.

Os efeitos da definição de animal como “comida” são arcaicos e mais, especialmente, provocando consequências negativas dessa prática em termos éticos, de saúde e de preocupação ambiental. De qualquer maneira, após me questionar sobre os PRÓS e os CONTRAS, compreendi que não é contra a morte que eu estou. Eu sei que ela é inevitável para todos nós.

Aqui vai outro exemplo: no passado, nos encontros onde fui voluntária, sendo a “boa” ativista que eu era, eu acenava às pessoas que se aproximavam da mesa com literatura vegetariana, elas pegavam um panfleto, olhavam para ele, então algumas vezes diziam: “Ah, eu adoro o sabor da carne”. No momento, minha resposta imediata era contrapor ao dito e discutir com eles, mas a verdade é que quando criança me alimentei de carne e eu realmente também gostava do seu sabor! De fato, sendo vegana, eu fiquei muito feliz com a eliminação da carne e com as alternativas que começaram a ser mais saborosas, acessíveis e facilmente encontradas. Assim, era mesmo verdade que eu discordava do sabor da carne? minha resposta foi “Não”.

Então, pensei comigo mesma, como posso ser uma “boa ativista vegana” se não sou contra comer carne nem contrária ao sabor que ela tem?

Quando penso nos tempos em que discutia com os consumidores de carne (que devo dizer ter tido impacto negativo não somente na minha própria energia, mas sobretudo sem efeito no ativismo), eu me afasto para refletir sobre essas questões. Eu não gosto quando outras pessoas fazem suposições a meu respeito e sobre o que acredito. Sinto-me mais fortalecida se ao contrário de lutar contra as coisas as quais sou realmente CONTRA, focar-me no que sou A FAVOR. Em vez de dizer que sou CONTRA o consumo de carne, para mim é mais verdadeiro dizer que sou A FAVOR de um mundo sem sofrimento. Ao contrário de dizer que sou contra a morte, eu posso dizer que sou A FAVOR de um mundo sem violência ou que sou A FAVOR da paz. Estaria realmente praticando a não violência e sendo verdadeiramente pacifista e se não discuto CONTRA as pessoas que comem carne ou que AINDA não fizeram suas escolhas que eu atualmente já fiz? Eu sou a primeira a ficar na defensiva se alguém tenta me dizer que estou errada ou que sou má. Eu nem mesmo suporto quando outros fazem suposições sobre os meus pensamentos, motivações ou crenças. Então, se eu não gosto de pessoas que me tratam assim, por que eu deveria supor que conseguiria sempre um resultado positivo se tratasse os outros desta maneira?

Muitos anos atrás, eu não era somente uma ativista, eu era uma “hiperativista” – que era um apelido dado a mim pelos outros ativistas. Eu era cruel, feroz. Eu era intensa e as pessoas que me conheciam tinham pena dos que cruzavam meu caminho quando eu estava nos meus dias de fúria porque eles saíam derrotados, enquanto eu  comemorava vitória. Esta foi uma verdadeira batalha: o veganismo, o ativismo ambiental CONTRA os consumidores de carne, assassinos poluidores do mundo.

Mas eu não levei tanto tempo para compreender que cada pessoa estava fazendo uma mudança, em favor da redução do consumo de carne. Inicialmente, sentia-me bem quando discutia e vencia! No entanto, mais tarde, me sentia mal porque gastava bastante energia emocional para discutir e debater. Eu perdi muitos amigos e acabei perdendo muitas famílias que desistiram da ideia do vegetarianismo. Eles me viam como radical, marginal e violenta. Ninguém queria estar ao meu lado (especialmente durante as refeições) porque toda conversa se transformava em uma lição para eles aprenderem. Eu era explícita nas minhas descrições pois queria chocá-los para que mudassem seus comportamentos. Eu lhes contava sobre os horrores do abate dos animais, mas ao mesmo tempo lhes dizia que eu era boa e que tinha razão. Minhas ações eram violentas e assustadoras. Eu não convencia muitas pessoas e tinha que sair em busca de estabelecer novas amizades. Eu me isolei da minha família e dos meus ex-amigos e agia como se não me importasse.

Tempos depois, comecei a compreender que eu estava fazendo tudo aquilo que não queria fazer: eu compreendi que cada coisa era contrária: violência e sofrimento. Quantas pessoas se afastaram da minha mesa de informações sentindo-se uma vítima, na defensiva e com raiva? Muitas!

Um dia, no auge do meu ativismo, alguém me enviou um pacote pelo correio. Até hoje eu não faço ideia de quem o enviou. Estava endereçado a mim, mas foi enviado anonimamente. Dentro do pacote tinha uma camiseta com uma frase de Gandhi que dizia: “Seja a mudança que você quer ver no mundo”. Seja quem for que me enviou esse pacote, quis que eu refletisse, mas pelo visto não tinha coragem de falar diretamente sobre o meu comportamento. Isso foi um alerta para eu acordar! Isso abriu os meus olhos. Eu tive que me olhar no espelho e, embora eu quisesse ser uma eficaz, pacífica e amante vegana, tive que encarar o inimigo. A compreensão me conduziu para o modelo atual da Vegetarian Solutions, focando no que somos A FAVOR e não no que éramos CONTRA.

Não gosto de pensar sobre quantas pessoas foram dissuadidas nos anos iniciais do meu ativismo. Nós nunca sabemos quantas pessoas influenciamos, mas eu tenho certeza, infelizmente, de que coloquei muitas em direção contrária com o meu honrado comportamento. Agora tento encontrar pontos em comum e focar nos objetivos e soluções compartilhadas em vez de concentrar-me nos problemas! Eu acredito que devemos aprender a parar de brigar. Se estamos lutando CONTRA algo, continuamos a brigar e isto não é muito atraente para as pessoas que procuram uma vida de compaixão, amor e harmonia. Sinto-me feliz por alguém ter me enviado aquela camiseta, mesmo que ela não tenha tido coragem de me falar diretamente. Aprendi muito. Eu ainda me esforço para viver uma vida que outros tentam rivalizar. Eu me esforço para ser a mudança que eu quero ver no mundo. Se nós dizemos que somos A FAVOR dos animais, A FAVOR da saúde, A FAVOR de um planeta saudável, A FAVOR da compaixão, A FAVOR da paz, A FAVOR da água limpa, A FAVOR de um planeta sustentável, A FAVOR de um uso melhor da terra e da água etc., então nós estaremos mostrando que nos importamos.

Cuidar é uma forma de amor e eu realmente acredito que quando viemos de um lugar de amor e quando vivemos nossas vidas felizes, saudáveis, atuando com amor para o tipo de ideal que advogamos, então nós realmente ajudaremos a mudar o mundo para melhor.

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