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Manifestantes alagoanos são intimidados por seguranças de circo

23 de janeiro de 2010
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Manifestantes em protesto em Maceió. (Foto: Núcleo Vegetal)
Manifestantes em protesto em Maceió. (Foto: Núcleo Vegetal)

Um grupo de estudantes, profissionais, membros do NEAFA – Núcleo Educação Ambiental Francisco de Assis, Grupo “Salvando Animais” e o VEGETAL – Núcleo de Vegetarianismo Alagoano, realizou nessa quarta-feira, 20 de janeiro, uma manifestação contra a presença de animais no Circo Estoril, que vem se apresentando em Maceió (AL) desde o dia 15 de janeiro. Durante o protesto, que tinha o objetivo de mobilizar e conscientizar a população sobre as condições em que vivem os animais retirados da natureza e colocados em ambientes como os do circo, os seguranças do Estoril e alguns funcionários intimidaram os manifestantes.

Hélvio, do Núcleo de Vegetarianismo Alagoano, disse que estava distribuindo panfletos quando foi cercado por três homens, um deles segurança do Estoril. “Eu não agredi nem provoquei ninguém. Liguei para a polícia, mas eles não vieram. Liguei mais duas vezes, e nada. O segurança ficou irritado por que eu tinha tirado fotos, e tentou me intimidar na frente de todos. Mas era muita gente e ele se acalmou. Quem esteve no domingo, 17, (quando foi realizado o primeiro protesto) sabe que só tivemos segurança justamente pela presença dos policiais no momento mais crítico”, explica.

Para ele, “enquanto as reivindicações dos defensores dos direitos animais ficarem somente entre os próprios defensores dos direitos animais, sem um envolvimento direto dos poderes competentes, este tipo de situação continuará a acontecer”.

Quando anoiteceu, o grupo sentiu que começaram as ações realmente ameaçadoras por parte do pessoal do circo. “O grupo que tinha me cercado começou a circular entre os manifestantes, arrancando panfletos e encarando o pessoal. Quem estava lá viu que não se tratava de pessoal do circo, de pessoal ‘de segurança’. Eram marginais, no pior sentido da palavra. Não havia a mínima segurança!”, explicou Hélvio.

Evelynne, do NEAFA, também presente na manifestação, conta que a ONG acompanhou o IBAMA numa visita ao circo Estoril, mas o veterinário não encontrou irregularidades. “O profissional que é contratado para agir em prol do meio ambiente e respeitar a fauna de acordo com o que se prevê dentro da lei, dentre outras atribuições, vistoriou e alegou não ter encontrado nenhum problema com a documentação exigida aos circos e nem com vacinação dos animais (tudo estava em dia) e ainda relatou que os animais estavam em boas condições físicas! E assim, o circo poderia exercer suas atividades normalmente”.

Ela lembra o que diz a Lei 9605, dos crimes ambientais, que prega em seu artigo 32 que praticar ato de abuso ou maus-tratos aos animais domésticos, domesticados e silvestres é considerado crime e ainda há multa. “Para o veterinário, na ocasião, o abuso mencionado pela lei é vago, não é bem definido e assim não pode alegar que ocorre. Lamenta-se que um profissional que estudou etologia animal desconsidere que privar animais de seu comportamento natural não seja considerado um abuso!” indigna-se.

“O NEAFA lamenta, pois um veterinário de um órgão como o IBAMA, poderia ser um importante aliado na defesa dos animais, um amigo dos animais! Fica a sociedade civil com a indignação”, alerta Evelynne. Sobre a manifestação, ela diz que por mais pacífico que estivesse sendo a intenção dos manifestantes, a pouca capacidade de entendimento dos funcionários do circo os impedia de observar o ato com naturalidade. “Eles agiram com profundo comportamento agressivo verbal usando vocabulários de baixo nível aos gritos no meio da rua, e quando procurados pela imprensa (no domingo) demonstravam o mesmo comportamento”, conta.

“Fossem estes profissionais mais informados, mais atualizados, perceberiam que o brilho e magia do circo estaria mais evidente se focado nos artistas, dariam uma bela lição de respeito à vida para a sociedade. Atrairiam mais adeptos e mais aplausos! Um fantástico espetáculo é feito por pessoas, por palhaços que arrancam sorrisos verdadeiros de crianças e adultos através da capacidade humana em agradar ao outro. Afinal, viver acorrentado não é engraçado!”, conclui.

Apesar disso, o grupo acredita que o ato incomodou e muito. Não houve presença de policiais nem da imprensa televisiva, mas mesmo assim, durante os dois protestos muita gente desistiu de ir ao circo e acabou por apoiar a causa. Alguns motoristas buzinavam em apoio e teve gente que pediu cartazes para integrar a manifestação. Eles entregaram panfletos, usaram apitos e cartazes para chamar a atenção das pessoas que passavam na avenida, inclusive quem estava no ponto de ônibus e dentro dos coletivos, das 16h às 18h30. Numa das frases dos panfletos, o pedido do grupo se estende não só ao circo, mas a toda a convivência na Terra: “Queremos paz em casa, na família, no trabalho e na sociedade, de uma maneira geral. Estamos fartos da violência que nos cerca. Então, como podemos, em nosso momento de lazer, financiar e aplaudir um espetáculo de violência e sofrimento? O que estamos ensinando para as crianças?”

Maceió

Em Maceió foi aprovado por unanimidade, em novembro de 2009, um projeto de lei que proíbe a presença de animais em circos, mas o mesmo foi vetado pelo prefeito Cícero Almeida. Alguns Estados já proíbem a exibição de animais em circos, a exemplo do Espírito Santo – com lei aprovada nesta quinta, 21 de janeiro; Paraíba; Pernambuco; Rio de Janeiro; São Paulo; Rio Grande do Sul; Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. Há propostas em tramitação no Ceará e em Santa Catarina.

Fonte: Núcleo Vegetal

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