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Grupo que amplia o vegetarianismo para além da restrição alimentar já tem mais opções de produtos

23 de janeiro de 2010
4 min. de leitura
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Veganos não comem carne, não bebem leite, não vestem couro, não consomem mel nem tomam remédio. Alguns deixam até de ir ao cinema. Esse grupo, que vem ganhando mais adeptos no Brasil, leva o vegetarianismo às últimas consequências, o que, trocado em miúdos, significa banir do cotidiano todo e qualquer produto que tenha sido fabricado com algum tipo de matéria-prima animal ou testado em bichos.

Essas restrições são coerentes com uma filosofia de vida que procura evitar o sofrimento ou a exploração dos animais. Obviamente, os veganos boicotam também atividades como rodeios, touradas e circo.

Viver sem qualquer coisa de origem animal não é fácil. Basta ir às compras para ver a dificuldade: as gôndolas dos supermercados estão cheias de novidades orgânicas, naturais e nutritivas, mas poucas se adequam a todas as exigências do ultravegetarianismo.

Cosméticos e produtos de limpeza doméstica veganos são os itens de uso cotidiano mais complicados para encontrar, ou melhor, para classificar se são, ou não veganos. A glicerina, por exemplo, pode ser de origem vegetal ou animal, e nem sempre os rótulos explicitam essa informação.

“O veganismo ainda está bem atrasado no Brasil, mas há empresas que já informam nos rótulos de vários produtos que eles não foram testados em bichos e não possuem ingredientes de origem animal”, diz a estudante de computação Giulia Dalle, 20. Ela criou a comunidade virtual chamada SAC Vegano, onde a turma troca informações sobre marcas, alimentos e produtos que podem ou não ser consumidos.

Caixa-preta

“Os produtos são uma caixa-preta para a gente, principalmente por causa dos nomes químicos dos ingredientes, indecifráveis”, diz Marly Winckler, 55, presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), que segue esse estilo de vida mais restrito há 15 anos.

O termo “vegano” deriva da palavra vegetariano. É como “vegan”, em inglês, que usa as primeiras letras e as últimas de “vegetarian”. Essa corrente foi criada em 1944, na Inglaterra, por vegetarianos que queriam se diferenciar daqueles que só tinham restrições alimentares. Fundaram a “Vegan Society”.

No Brasil, esse modo de vida começou a ser mais divulgado na década de 1990, segundo os seus adeptos. Nos últimos anos, eles ganharam mais visibilidade com o uso da internet. A rede tem ajudado o grupo na troca de informações sobre quais as marcas e os produtos que eles podem ou não consumir.

Nos Estados Unidos, segundo estudo publicado na revista “Vegetarian Times”, há 7,3 milhões de vegetarianos, um milhão dos quais são veganos.

Não há números sobre o mercado vegano no Brasil. “A gente deduz que está aumentando pela quantidade de eventos, sites, listas de discussão e comunidades virtuais sobre o tema”, diz a presidente da SVB.

Se você busca a palavra “vegano” no google, são listadas 434 mil páginas.

Onde e o que consomem os vegetarianos que sabotam marcas e produtos em nome do respeito pelos animais

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Eduardo Knapp/Folha Imagem

A maioria dos veganos começa eliminando as carnes da dieta. Aí vai excluindo os derivados aos poucos. Alguns decidem seguir esse estilo de vida por motivos espirituais ou de saúde, mas sempre em nome do respeito à vida dos animais.

Abelhas exploradas

Mas consumir mel é desrespeitar a abelha? “Ela fabrica o mel para ela. Os produtos não são feitos com mel tirado da natureza, há exploração das abelhas, elas ficam presas em caixas para produzir mais”, diz a dentista Rosana Tsibana, 45, que se considera “quase vegana”. Já eliminou matéria-prima animal de roupas e calçados. Só não abandonou o queijo, por falta de opções na hora de comer na rua.

Por falta de opção, muitos veganos abrem negócios. É o caso do nutricionista George Guimarães, 35. Ele dava consultorias sobre esse tipo de alimentação antes de criar o restaurante Vegethus, há sete anos. Hoje, são três unidades, que recebem público variado, mas são ponto de encontro de veganos.

Alguns adeptos mais radicais deixam até de ir ao cinema, sob o argumento de que filmes contêm uma substância gelatinosa que é retirada do boi. “Só vejo filmes que não exploram os animais e só frequento cinemas que passam DVD, não películas”, diz o professor de educação física Charles de Freitas Lima, 36, vegano há oito anos.

Testes em animais

A maioria dos cosméticos e produtos de limpeza da casa ainda é testada em animais. Apesar de ser uma tendência mundial a proibição desse tipo de teste, ainda não há uma legislação no Brasil a respeito.

Érica França Costa, especialista da divisão de cosméticos da Anvisa, diz que a procura por métodos alternativos ao teste com bichos cresceu a partir de 2004, quando a União Europeia publicou uma normativa para que esses procedimentos fossem substituídos pelas indústrias até 2009. O prazo foi estendido para 2013.

A Sociedade Vegetariana Brasileira está desenvolvendo um selo para produtos de beleza e limpeza veganos, que já existe para alimentos. “Antes, as empresas não queriam ser vinculadas à imagem vegana. Agora, é o contrário”, diz a presidente, Marly Wincler.

Fonte: Folha Online

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