Animais silvestres apreendidos morrem sob cuidados do Ibama

18 de janeiro de 2010
3 min. de leitura
A-
A+
Foto: Correio Braziliense
Foto: Correio Braziliense

Mil e quatrocentos canários-da-terra deixaram Mato Grosso do Sul, em setembro do ano passado, presos em pequenas caixas colocadas sob os bancos de duas camionetes. Mas, antes que traficantes de animais pudessem embarcar as aves em um avião com destino a Portugal, os criminosos foram presos, e os pássaros foram apreendidos pela Polícia Rodoviária Federal no Distrito Federal. Entretanto, pelo menos mil deles acabaram morrendo pela falta de estrutura do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para recuperar e devolver os espécimes à natureza. Faltou até milho para alimentá-los.

A representação do Ibama em Mato Grosso do Sul não aceitou os animais de volta sem a devida reabilitação. E, mesmo que o órgão estadual os aceitasse, não haveria recursos para financiar o transporte.

O incidente resultou na abertura de um processo interno no Ibama para apurar as responsabilidades pelas perdas. O instituto também recebeu um memorando com o relatório de problemas estruturais do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Distrito Federal. Na rota do tráfico de animais silvestres que parte das regiões Nordeste e Centro-Oeste com destino ao Sudeste, o Distrito Federal tinha, no ano passado, condições de receber 3 mil animais, mas acolheu quase o dobro.

Foto: Correio Braziliense
Foto: Correio Braziliense

Em março de 2009, a PF apreendeu, em Brasília, araras que seriam enviadas à Europa.
Com o volume de apreensões, é preciso soltar os bichos a uma velocidade maior. Dessa forma, as instalações ficam superlotadas, e muitas vezes não há condições de oferecer o tratamento necessário para devolver as espécies ao habitat natural, já que os animais não podem ser devolvidos à natureza antes de passar por um período de readaptação.

O Cetas-DF tentou enviar os exemplares de canários ao Mato Grosso do Sul porque há poucas áreas de soltura no Distrito Federal. Praticamente todas são unidades de preservação, áreas de proteção ambiental. E o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade não autoriza a soltura de animais nessas áreas sem que sejam atendidos todos os protocolos sanitários, pois espécimes doentes podem disseminar enfermidades.

O Ibama, no entanto, não tem condições de cumprir todos os protocolos que o instituto exige. Não há dinheiro para realizar exames nem para identificar os animais para monitorá-los posteriormente. Apenas a identificação custa R$ 5 por animal. Outros gastos envolvem alimentação, medicamentos e transporte. O Cetas-DF gasta, por ano, R$ 40 mil com alimentos e R$ 20 mil com medicamentos.

Gaiolas abertas

Entrada de animais nos centros de triagem do Brasil:

Ano       Número
2002 – 44.384
2003 – 45.641
2004 – 24.617
2005 – 43.860
2006 – 34.229
2007 – 31.519
2008 – 63.795
2009 – não consolidado

Média por ano – 41.000

(Fonte: Ibama)

Contingente

Por ano, o Cetas-DF acolhe cerca de 4,5 mil pássaros, de 500 a mil papagaios, e 500 serpentes. Para cuidar desse contingente, conta apenas com um biólogo, uma veterinária, dois tratadores e 10 estagiários que fazem trabalho voluntário.

A equipe é reduzida, mas as apreensões não param de aumentar a cada ano. A maior parte dos animais que chegam ao centro de triagem é encontrada em residências.

No Distrito Federal, muitas apreensões também são feitas em feiras populares, especialmente em cidades próximas de Brasília, como Ceilândia.

Fonte: Correio Braziliense

Nota da Redação: Já está na hora de o governo brasileiro destinar mais recursos ao Ibama, para que seja possível a devolução das aves ao seu habitat natural. O combate ao tráfico de animais não envolve somente a ação da polícia, mas também a reabilitação dos animais. Da forma que é feito atualmente, os animais continuam sendo os únicos prejudicados, pagando com suas vidas pelas ações do ser humano.

Você viu?

Ir para o topo