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Animais com excesso de humanização sofrem de solidão e problemas emocionais

11 de janeiro de 2010
3 min. de leitura
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Uma gata agressiva feito leão. Um leão manso feito um gatinho. Uma pata morando em casa de cachorro e que faz as unhas. E um macaco que vive em uma jaula com televisão. Tudo isso tem uma triste explicação.

O que o macaco Jimmy e a pata Pietra têm em comum? Jimmy tem mania de limpeza. Já Pietra não gosta de água. Ficar com as penas molhadas nem pensar. A resposta é que Jimmy e Pietra têm comportamentos muito humanos. Mais que isso. “Interagem com humanos desde que nasceram. Então, [o macaco] tem dificuldade até de entender que é um chimpanzé”, explica o veterinário André Sena.

“O grande problema da Pietra é que ela não se reconhece como pata. Ela se reconhece como gente”, conta a tutora da pata, Norleide Santana.

Jimmy e Pietra estão com problemas emocionais. A causa é solidão. Jimmy espera há anos uma namorada, mas o zoológico não tem recursos para trazer uma fêmea para ele. E Pietra passa o dia inteiro sozinha, enquanto sua tutora trabalha.

Os animais têm os mesmos problemas psicológicos dos seres humanos. O veterinário João Telhado é especialista em comportamento animal e explica que “há problemas de depressão, de ansiedade, fobias”.

O professor trata de outros animais no centro da Universidade Rural do Rio de Janeiro. Patrícia, tutora da cadela Kira, diz que levou o animal ao centro porque “ela está muito agitada, vem lambendo excessivamente a pata. Se eu saio, quando volto ela destruiu um chinelo, um tapete”. A lambedura constante é um sinal de estresse, diagnostica o veterinário.

“Os problemas psicológicos dos animais vêm crescendo cada vez mais. Quanto mais levamos os animais para apartamentos, o animal sofre as consequências, têm os mesmos problemas. Se toda a família é ansiosa, por exemplo, o cachorro torna-se ansioso”, diz o veterinário João Telhado.

A pata Pietra, que vive dentro de um apartamento, segundo o veterinário, está com síndrome de pânico. Ela não tem medo de gente. Mas morre de medo de patos.

“Todo animal de pé chato, quando nasce, tem a história do ‘Patinho feio’, que é um cisne. Então, a pata [Pietra] reconheceu o tutor e a tutora como sendo pai e mãe”, explica o veterinário André Sena.

“Eu seguro a pata como se fosse um bebê. Ela foi se adaptando assim”, lembra a tutora da pata, Norleide Santana.

“Fazer as unhas é humanizar demais o animal. Não dar oportunidade para ele ser o que realmente é: um pato”, comenta o veterinário João Telhado.

“O tratamento da Pietra é só psicológico: diminuir o grau de humanização dela”, receita o veterinário André Sena.

Mas o tratamento não é só para ela. A tutora precisa entender que Pietra não é um bebê, é um bicho.

“Já disse que ela não pode tratar a pata como se fosse gente. Mas ela não entendeu. Estamos trabalhando em cima disso”, aponta o veterinário André Sena.

“Ela está sofrendo no apartamento pela minha falta. Em qualquer lugar em que eu estivesse, em casa, em um sítio, ela ficaria do mesmo jeito”, opina Norleide Santana.

Já no caso do macaco Jimmy, humanizá-lo, colocando em sua jaula uma TV,  foi infelizmente a saída encontrada para curar sua solidão, enquanto não chega uma fêmea.

Assista aqui ao vídeo da reportagem.

Com informções de  Jornal Floripa

Nota da Redação: A cada dia nos deparamos com mais formas surpreendentemente absurdas no modo como se tratam os animais. Manter uma pata dentro de um apartamento, pintar-lhe as unhas e esperar que se comporte como um pato é de uma ignorância e insensibilidade escancaradas. Manter uma TV para fazer companhia a um macaco a fim de lhe amenizar a solidão é uma solução triste e decadente que a nossa cultura  impõe ao pobre animal. Não é difícil deduzir que tirar o macaco das jaulas e a pata do apartamento, devolvendo-os ao seu habitat natural, seria a mínima forma digna de salvar estas criaturas das aberrações a que os expõe o ser humano.

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