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Sapo-parteiro ibérico corre risco de extinção na Espanha

3 de janeiro de 2010
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O sapo-parteiro ibérico não está ameaçado em Portugal, mas na Espanha as populações do sapo-parteiro estão sendo dizimadas pelo fungo chytridiomycosis, alerta a bióloga Ana Margarida Carvalho, que diz não conhecer programas específicos de conservação.

Endêmico da Península Ibérica, este curioso sapo tem uma particularidade que o distingue da maioria dos outros anfíbios: é o macho que cuida dos ovos durante todo o período de incubação. Depois do acasalamento e das posturas, normalmente de 40 ovos unidos por um cordão, o macho enrola-o em torno das pernas e na parte inferior das costas, transportando-os até aos charcos ou ribeiras onde eclodem.

Estes cuidados parentais chegam a ser redobrados e, em certos casos, triplicados, uma vez que o mesmo macho pode carregar posturas de duas ou três fêmeas. O que totaliza praticamente 120 ovos. Um esforço titânico, se considerarmos que tem menos de 5 centímetros de comprimento.

A sua presença em Portugal remonta ao período glacial do Pleistoceno, “há muitos milhares de anos, quando a espécie se refugiou na Península Ibérica”, refere Ana Margarida Carvalho, bióloga e Mestre em Biologia da Conservação. No nosso país, distribui-se essencialmente a sul do Tejo; para Norte atinge o extremo leste do Parque Natural do Montesinho. “As regiões com maior densidade populacional são o Alentejo e Algarve.”

Apesar da grande ameaça global aos anfíbios, esta é uma espécie que parece contrariar a tendência. No Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal é considerada como ‘não preocupante’, “porque existem indivíduos em abundância’, explica Ana Margarida Carvalho. As suas ameaças, acrescenta a bióloga “são as mesmas que afetam os outros anfíbios” – destruição e fragmentação de habitats, principalmente devido à construção de estradas e barragens. “A construção da barragem do Alqueva, por exemplo, representou uma destruição significativa das zonas onde a espécie habitava”.

Por outro lado, também as monoculturas florestais exóticas, a poluição e contaminação de rios e ribeiras representam riscos acrescidos para a sobrevivência da espécie, “em especial do Alentejo, onde ainda existem áreas de cultivo extensas. O uso de pesticidas e agroquímicos acaba por poluir também algumas zonas úmidas, as áreas fundamentais para o sapo-parteiro ibérico desenvolver a sua fase larvar”.

A introdução nos nossos rios de espécies exóticas, como o achigã, o perca-sol ou o lagostim-vermelho, “são outro fator de risco”. Já em fase adulta, o sapo-parteiro ibérico tem como inimigos naturais, cobras de água e as aves de rapina noturnas, como mochos e corujas, “mas que acabam por fazer parte da cadeia trófica”, diz a bióloga. “Mas uma das potenciais ameaças para o futuro poderá ser o fungo chytridiomycosis, que já afetou populações de sapo-parteiro comum em Espanha”, salienta Ana Margarida Carvalho.

Apesar de todos os estudos que têm sido feitos sobre a espécie (por ser um endemismo ibérico), “não se conhecem programas específicos de conservação”.

Conhecido pelos seus hábitos crepusculares, o sapo-parteiro ibérico sai dos abrigos ao anoitecer, alimenta-se e volta aos refúgios quando o sol nasce. Durante os meses mais quentes não sai dos abrigos, “tem hábitos escavadores e enterra-se com frequência, pois não suporta as temperaturas extremas. Só reaparece com as primeiras chuvas de outono e apenas tem atividade quando existe 90% a 100% de umidade e a temperatura é de 10 a 15 graus”.

O seu canto só pode, por isso, ser ouvido nos meses entre o outono e a primavera, altura em que também se reproduz. As fêmeas preferem os machos que imitam as sonorizações mais graves, sinônimo de espécime maior. E, quando ameaçado, o sapo-parteiro ibérico emite uma vocalização semelhante à do mocho-de-orelhas para assustar os perseguidores.

Fonte: DN Ciência

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