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Revelados detalhes sobre o caso de crueldade animal na Humane Society de Toronto

8 de dezembro de 2009
4 min. de leitura
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Por Marcela Couto (da Redação)

Pela primeira vez desde a polêmica envolvendo maus-tratos no abrigo da Humane Society de Toronto, detalhes sobre as condições dos animais foram revelados por duas funcionárias.

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Foto: RICK EGLINTON/TORONTO STAR

 

O presidente responsável pelo abrigo, Bom Hambley, afirma que as alegações contra o local ocorreram devido a disputas políticas entre a Humane Society de Toronto e a Ontario Society for the Prevention of Cruelty to Animals (OSPCA). Mas as funcionárias do abrigo Megan Davidson e Sara Russel rejeitam a versão de Hambley.

“Bob Hambley está dizendo a mesma coisa o tempo todo, que tudo foi motivado por política. E isso é mentira, os fatos não mentem,” disse Russell, 24. “Eu vou ao abrigo todos os dias, estou trabalhando com esses animais e sei que o sofrimento existe”.

“As pessoas não sabem em quem acreditar”, disse Davidson, 35. “Elas continuam ouvindo que é tudo uma questão política… Claro que existe uma rivalidade entre a Humane Society de Toronto (THS) e a OSPCA, mas a história vai muito mais longe.”

Russell trabalha no abrigo há três anos, Davidson há dois.

“Eu amo meu trabalho, amo o que a Humane Society faz. Só acho que a má administração da gerência acabou com tudo”, disse Russell.

As duas funcionárias acreditam que todos os problemas que ocorreram na THS são resultado da falta de equipe e recursos. Russell conta que, ao retornar de uma folga de três dias no trabalho, já encontrou 13 gatos mergulhados em suas próprias fezes, sem água nem comida.

Davidson relata que é negado aos gatos “o mais simples e básico cuidado que alguém daria a um animal tutelado” porque “simplesmente não há ninguém para fazê-lo”. “Tigelas que não foram desinfetadas precisam ser usadas porque não temos tempo para higienizar.” Às vezes até mesmo os funcionários compram alguma comida de seus próprios bolsos para alimentar os animais, por desespero.

Davidson contou que, certa noite, teve que fazer uma escolha muito difícil pela falta de tempo. “Precisei escolher quem seria alimentado naquela noite, os gambás filhotes ou os gatinhos. Então tive que pensar em quem era mais fraco e poderia morrer mais depressa, algo que nunca deveríamos pensar em um local que se denomina “humano”.

Davidson também disse que passou meses no departamento de vida selvagem sem vacinas contra a raiva. No período da noite não havia sequer veterinários disponíveis.

“Uma noite um gambá começou a ter espamos, ele gritava e virava os olhos enquanto o corpo todo tremia. Não soube o que fazer”, disse ela. “Me senti impotente, então apenas o mantive aquecido, mas ele morreu.”

O presidente do THS, Tim Trow, e mais quatro gerentes estão enfrentando acusações criminais, como crueldade animal.

Davidson revelou que ela e outros funcionários costumavam ouvir Trow em seu escritório “gritando obscenidades, quebrando coisas na mesa e atirando o telefone longe”.

Russel testemunhou Trow gritando com um professor de escola primária que tirou uma foto de um animal durante um passeio no abrigo em 2006. Os alunos começaram a chorar e o grupo retirou a doação que havia feito ao local.

Os advogados dos gerentes afirmam que as acusações de crueldade são “sensacionalistas”, e que a direção do abrigo se orgulha de sua baixíssima taxa de eutanásia.

Russell disse que também é totalmente contra o uso deliberado de eutanásia nos animais. Porém, de acordo com ela, o THS não autorizava a injeção nem em animais que agonizavam, como um chihuahua infectado por parvovírus que vomitava e tinha espasmos o tempo todo.

“O animal não respirava mais, então eu pedi ajuda a uma supervisora. Ela disse que iria chamar um veterinário, mas 15 minutos depois nada aconteceu. Procurei a mulher novamente e ela me disse que ele não receberia eutanásia, que era pra eu ir tomar um lanche e deixar que ela cuidasse da situação”.

“Quando retornei, o cão estava morto na jaula. Ele sofreu muito, agonizou no próprio vômito até morrer, tudo porque não lhe deram eutanásia. Isso é muito diferente de usar a injeção em animais que podem ser salvos”.

As funcionárias que concederam as informações estão arriscando o emprego mais uma vez, já que são constantemente advertidas pela THS por “transgredirem” regras.

Tanto Davidson quanto Russel dizem que pensaram muito em deixar o abrigo, mas permanecem por imensa dedicação aos animais que sofrem.

“Estou muito envolvida”, diz Davidson. “Penso em deixar o abrigo de Toronto, mas não sei o que acontece. Me sinto culpada por pensar em deixar esses animais, pelo menos enquanto eu estiver aqui posso cuidar deles, manter meus olhos bem abertos. Quero que tenham um pouco de atenção,a comida certa e na hora certa. Eu amo esses animais.”

Com informações de The Star.com

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