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Destruição dos habitats naturais confina animais em espaços pequenos

7 de dezembro de 2009
3 min. de leitura
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Não há estudos, por enquanto, que comprovem as influências das mudanças climáticas na fauna e flora brasileiras. Se com os ursos que vivem no pplo Norte, a ação do calor no derretimento das calotas polares é nítida, aqui os biólogos ainda não têm instrumentos precisos para associar as mudanças de habitat e a mortandade de árvores ao clima. Mas as alterações na vegetação e na vida dos animais silvestres são percebidas bem próximas de nós.

O exemplo mais expressivo está na identificação, durante um ano, de muito mais espécies numa reserva legal de apenas um quilômetro quadrado, no Bairro do Itapeti, em Mogi das Cruzes (SP), do que o apurado em quase cinco anos no Parque Municipal, com seus 352 hectares de extensão e que figura como a principal área de proteção ambiental do Alto Tietê. Mais impressionante, ainda, são as pegadas, que tudo indica que sejam de onça-parda, encontradas pelos pesquisadores dentro da reserva.

Os indicativos da presença de onça-parda na região surgiram já há alguns anos e partiram, inclusive, de moradores do Bairro da Volta Fria, que têm o privilégio de viver nas proximidades da área protegida. As pegadas identificadas pelos pesquisadores nos últimos meses reforçam a tese de que o Alto Tietê é mesmo habitat do felino. Não seria surpreendente se levada em conta apenas a rica biodiversidade que a região ainda consegue preservar. Mas o curioso é que, historicamente, um casal de onça-parda precisa de uma área de pelo menos 90 km2 para sobreviver. A Serra do Itapeti inteira, da divisa com Suzano até Guararema, tem 52 km2, pouco mais da metade do que o habitat ideal deste felino.

“Isso mostra que a onça-parda está confinada num espaço muito menor por causa da fragmentação das matas. A fauna está se refugiando onde ainda há floresta”, comprova o biólogo mogiano Pedro Tomasulo. “Embora a gente saiba que é uma tendência, é prematuro ainda dizer que essa mudança de comportamento decorre do aquecimento global. Ele deve contribuir sim, mas hoje é mais fácil atribuir isso, por exemplo, ao avanço da urbanização”, pondera.

Segundo ele, o fato de um número muito superior de espécies ter sido levantado em um ano, na reserva que pertence à Pedreira Embu (colada à Estação Ecológica do Itapeti), do que em cinco anos no Parque Municipal, é ruim porque mostra o confinamento da fauna em espaços pequenos por conta da destruição dos habitats naturais dos bichos. “Encontramos uma variedade muito grande em anfíbios e répteis, além das pegadas da onça-parda. Ou seja, onde ainda há mata protegida, a diversidade é grande, por isso, a importância de se proteger os espaços verdes existentes”, ressalta o biólogo.

Além do habitat para animais, o pesquisador pontua a importância das florestas para reduzir o avanço do aquecimento global, já que as árvores são grandes retentoras do gás carbono, um dos principais componentes do efeito estufa. “O tronco de uma árvore pode armazenar o gás carbônico durante séculos. Mas sem as árvores, o acúmulo de carbono vai para a atmosfera”, explica.

O fato de Mogi das Cruzes, segundo o último Inventário Florestal da Vegetação Natural do Estado de São Paulo, de 2007, ter 22,8% do seu território ainda coberto por vegetação natural – uma das cinco mais significativas reservas ambientais paulistas e distribuídas em 954 áreas (fragmentos) – é apontado por Tomasulo como o responsável pela qualidade do ar que o município preserva e que o torna superior a muitas outras localidades mais desenvolvidas economicamente.

Fonte:  O Diário de Mogi

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