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Cerca de metade das serpentes registradas nos últimos cem anos não são mais encontradas

4 de novembro de 2009
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Devido à localização geográfica, com área que apresenta características de vegetação típica do Cerrado e da Mata Atlântica, o município de São Paulo reúne grande diversidade de répteis. Mas, das 68 espécies de serpentes registradas nos últimos cem anos, 32 não são mais encontradas no município, segundo pesquisa.

O objetivo do trabalho publicado na revista Biota Neotropica do programa Biota-FAPESP, foi organizar e mapear cada uma das espécies de répteis presentes no município de São Paulo e reunir dados sobre a história natural do grupo, incluindo o tipo de bioma no qual é encontrado, hábitat, substrato e hábitos alimentares.

De acordo com Ricardo Jannini Sawaya, um dos autores do artigo, o trabalho faz parte de um esforço conjunto da equipe do Butantan e de colegas de outras instituições, na tentativa de organizar informações da biodiversidade dos répteis que ocorrem no Estado. Os pesquisadores já finalizaram mapas de distribuição desses animais na cidade.

“Como muitas das espécies são arborícolas e dependem da vegetação, elas são as primeiras a sentir os efeitos da perda da cobertura vegetal na cidade. Não entrariam, necessariamente, em uma lista de extinção estadual ou nacional, mas poderiam estar extintas localmente, o que implicaria a perda da população que ocorre no município de São Paulo”, disse Sawaya, pesquisador do Laboratório de Ecologia e Evolução do Instituto Butantan, à Agência FAPESP.

O trabalho traz resultados preliminares do projeto de pesquisa conduzido por ele e intitulado “Diversidade, distribuição e conservação da Herpetofauna do Estado de São Paulo”. O projeto tem apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Jovem Pesquisador.

As 97 espécies de répteis registradas na capital paulista no último século, levantadas a partir de registros e coleções científicas, compreendiam dois quelônios (tartarugas), um crocodiliano, 19 lagartos, sete anfisbenídeos (conhecidos como cobras-cegas, parentes próximos dos lagartos) e 68 serpentes.

Segundo a pesquisa, 51 espécies de répteis não foram registradas nos últimos seis anos no município. Mas o fato de o estudo não ter identificado registro não implica que todas essas espécies estejam extintas no município. Isso porque, segundo Sawaya, serpentes são de difícil amostragem. “Mas várias dessas espécies podem mesmo ter sido extintas localmente”, apontou.

O levantamento de espécies coletadas no município de São Paulo e recebidas pelo Instituto Butantan nos últimos anos foi parte do estudo realizado por outro autor do trabalho, o doutorando Fausto Erritto Barbo, bolsista da FAPESP. O estudo permitiu identificar pelo menos 36 espécies de serpentes que ocorrem na região. Além dessas serpentes, pelo menos quatro lagartos e cinco cobras-cegas ainda ocorrem na região.

Das espécies encontradas no município, cerca de 70% da fauna de lagartos e 40% das serpentes são espécies típicas de ambientes florestais. A maior parte das espécies de serpentes é terrícola (38%) ou subterrânea/criptozóica (25%), com menos arborícolas (18%) e aquáticas (9%) – o restante se encaixa em mais de uma categoria. Dos lagartos, 63% são predominantemente terrícolas e os demais são arborícolas.

Em relação à dieta, os lagartos se alimentam de insetos e cerca de 50% das espécies de serpentes comem exclusivamente – ou predominantemente – anfíbios anuros (sapos, rãs ou pererecas). Outros répteis Squamata são característicos de formações abertas e também encontrados no Cerrado do interior paulista.

Início em workshop do Biota

De acordo com Sawaya, os estudos sobre répteis em São Paulo são raros e fragmentados. “Temos informações dispersas, na literatura, de algumas das espécies mais comuns que abordam apenas um dos aspectos da dieta ou onde ocorrem, por exemplo. Mas praticamente não existem dados sobre a diversidade, biologia e distribuição de répteis que ocorrem no município de São Paulo, assim como no Estado”, afirmou.

O projeto pretende mapear espécies não só de répteis mas também de anfíbios em todo o Estado de São Paulo. “Estamos concluindo a organização dos bancos de dados de répteis de coleções científicas referentes a outros municípios paulistas e o próximo passo é realizar trabalhos de campo em locais onde não há amostragem, que correspondem a lacunas de informação da biodiversidade do Estado”, disse.

“Essas informações fornecerão dados importantes, incluindo a ocorrência de répteis remanescentes de Cerrado ou Mata Atlântica, se são restritos a áreas abertas ou florestais ou que tipo de substrato utilizam”, completou. Segundo o pesquisador, ao conhecer a distribuição de cada espécie é possível ter uma ideia de qual está ameaçada, informação básica para definir áreas prioritárias para conservação.

Ele conta que, embora o projeto não esteja inserido no Biota-FAPESP, ele colabora com outros projetos do programa. “Na realidade, o projeto nasceu a partir de um workshop promovido pelo Biota-FAPESP. Como o grupo de especialistas em répteis e anfíbios não havia conseguido mapear a diversidade desses animais no Estado, o encontro nos encorajou a fazer a pesquisa”, contou.

Além de Sawaya, assinam o artigo na Biota Neotropica Otavio Augusto Marques, Donizete Neves Pereira, Fausto Erritto Barbo e José Valdir Germano. Todos trabalham ou realizam pós-graduação no Instituto Butantan.

Fonte: Agência Fapesp

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