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Associação Vegetariana Francesa pede que se providenciem refeições veganas durante a Conferência de Copenhague

29 de novembro de 2009
5 min. de leitura
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(da Redação)

A Associação Vegetariana Francesa escreveu uma carta para pedir ao Primeiro Ministro Dinamarquês que providencie refeições veganas durante a Conferência de Copenhague. O conteúdo da carta enfatiza a importância da coerência que deve existir entre o tema do Encontro e as escolhas ecológicas feitas no próprio evento. 

A seguir, a carta na íntegra:

“Caro Primeiro Ministro,

A Conferência de Copenhague representa um passo crucial na luta contra o aquecimento global e todos esperam múltiplos e intensos debates. Mas o mundo aguarda não só por debates, mas também por ações junto às palavras.

Com este propósito gostaríamos de sugerir que as refeições a serem servidas durante a conferência tenham a menor pegada de carbono possível, nomeadamente refeições vegetarianas, ou melhor ainda, veganas.

Este seria um gesto simbólico mas forte, sublinhando a vontade dos participantes em parar o constante crescimento das alterações climáticas.

A excelência da cozinha à base de vegetais há muito está consagrada e oferece a oportunidade perfeita para demonstrar que escolhas podem ser feitas de modo a obter enormes benefícios ecológicos, sem comprometer o conforto diário.

É um fato que a produção intensiva de animais é um dos principais fatores – senão o principal – na poluição global, emissão de gases com efeito de estufa e na diminuição da biodiversidade quer para animais terrestres ou marinhos [Livestock’s Long Shadow, FAO 2006]

Dada a extensão dos estragos, seria impróprio continuar a ignorá-los, além de correr o risco de parecer desinformado acerca dos problemas da nossa época. [Rajendra Pachauri, Secretário Geral do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas, “Less Meat, Less Heat: Impacts of livestock on climate change”, 2008].

É importante salientar que a produção de animais marinhos representa o mesmo gasto de carbono – peso por peso – que o setor aviário [Brussels Instituut voor milieubeheer, 2008 e DEFRA, UK, 2006].

A ideia de substituir carne por peixe para reduzir a pegada de carbono é apenas uma ilusão devido ao forte consumo de combustíveis fósseis e à baixa eficiência energética da aquacultura. [Diet, Energy and Global Warming, Earth Interactions, 10 (9), 2006].
Mas não é tudo…

– A produção intensiva é um poço sem fundo para proteínas, calorias e energia, com perdas até aos 90%. Esta desastrosa relação custo-lucro só é sustentável – nos nossos países industrializados-através do dinheiro dos contribuintes. [IThe livestock industry and climate – EU makes bad worse, Jens Holm & Toivo Jokkala, 2008].

– A criação de gado é uma causa direta da desflorestação – e da consequente emissão de carbono- em áreas vulneráveis como a América do Sul [Slaughtering the Amazon, Greenpeace, 2009].

– É necessário 8 vezes mais água para produzir uma caloria de origem animal do que uma caloria de origem vegetal [Saving Water: from Field to Fork, SIWI, 2008].

– O consumo de animais marinhos mantém a indústria pesqueira, a qual conduz à pesca excessiva (37% de espécies piscícolas estão já ameaçadas), ao desperdício (por cada dois quilos de peixe apanhado para consumo humano, um quilo de peixe morto é atirado de novo ao mar e outro ainda é transformado em farinha) e à poluição de ecossistemas costeiros pela aquacultura (a criação de salmão na Escócia produz a mesma quantidade de resíduos por dia que a população de Edimburgo).

Estes são apenas alguns exemplos…

Num país como a França, praticamente um quarto de todas as emissões de gases estufa provém dos animais criados ou pescados para serem consumidos. Na França, se apenas num dia por semana a alimentação fosse de origem vegetal, seria equivalente à remoção de mais de 5 milhões de veículos da estrada.

É um fato que a “civilização do consumo animal”, tal como é impulsionada hoje em dia pela extrema produtividade, e promovida globalmente com base no modelo ocidental, é uma das melhores tácticas para nos levar rumo à destruição total da civilização.

– Desde 2000, as calotas polares da Groelândia perderam cerca de 1,5 biliões de toneladas e o gelo da Groelândia contém água suficiente para causar uma subida do nível do mar de sete metros. [Science, 13 Novembro 2009: Vol. 326. no. 5955, pp. 984 – 986].

– A “permafrost” contém o dobro do carbono encontrando-se presentemente na atmosfera, sendo que o seu degelo seria catastrófico. [Bad Sign for Global Warming: Thawing Permafrost Holds Vast Carbon Pool, University of Florida, 2008].

Não podemos continuar a ignorar o impacto crucial que a pecuária, a pesca e a aquacultura tem no aquecimento global devido à emissão de gases poluentes e outros efeitos secundários.

Por este motivo pedimos que, como organizador da conferência, providencie comida vegana para os participantes, ou no mínimo vegetariana. A Dinamarca tem tudo em termos de conhecimento, competência e recursos alimentares para levar a cabo esta iniciativa, para que estas alternativas possam ser facilmente organizadas.

Seria uma escolha significativa, digna de todo o respeito e faria sem dúvida notar o vosso conhecimento acerca dos actuais problemas climáticos.

Senhor Primeiro Ministro, está em posição de assegurar que todas as pessoas e nações da Terra que acompanham atentamente a Conferência de Copenhague compreendem que os nossos líderes estão determinados a dar o exemplo. Se houve altura para transmitir essa mensagem, é este o momento exato.

Todas as refeições servidas na “Contra Conferência” organizada por ONG’s serão vegetarianas.

Esperamos que não queira ficar atrás e seja assim um líder desenvolvendo uma estratégia genuína e eco-responsável para a Conferência.

Respeitosamente,

Os membros da Associação Vegetariana Francesa (Association Végétarienne de France)
http://www.vegetarisme.fr
[email protected]

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