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Paleontólogos descobrem no Saara espécies de répteis que viveram há 100 milhões de anos

25 de novembro de 2009
4 min. de leitura
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Gondwana, uma massa continental formada pela América do Sul, África, Madagascar, Antártida, Índia e partes do Sul da Ásia e da Austrália. Os pântanos eram cobertos por rios caudalosos, que serpenteavam em meio a uma flora abundante. Em uma parte dessa região, onde hoje é o Deserto do Saara, crocodilos de até 6,1 m de comprimento trucidavam e comiam dinossauros com seus enormes caninos, cerca de 100 milhões de anos atrás.

O focinho reforçado com uma armadura óssea aumentava o poder destrutivo do animal, apelidado de CrocJavali. Essa e outras quatro espécies — cujos focinhos se assemelhavam aos de cães e ao bico de patos, ou cujos dentes lembravam os de ratos — foram reveladas pela ciência depois que os paleontólogos Paul Sereno, da Universidade de Chicago, e Hans Larsson, da Universidade McGill (em Montreal), desenterraram os fósseis no Níger e no Marrocos.

CrocJavali (Imagem: Pablo Alejandro/Todd Marshall/Correio Braziliense)
CrocJavali (Imagem: Pablo Alejandro/Todd Marshall/Correio Braziliense)

“Esses crocodilos trouxeram uma nova visão sobre o mundo desses répteis”, afirmou o canadense Larsson. Os dois cientistas batizaram os fósseis segundo suas peculiaridades. “O CrocCão parecia ser onívoro (que se alimenta de carne e vegetais) e tinha uma dieta baseada mais em plantas do que em carne, além de um focinho igual ao de um cachorro. O CrocPato provavelmente comia invertebrados de corpo mole e pequenos vertebrados, e tinha garras para cavar. O CrocRato possuía incisivos frontais que também podiam ser usados para cavar. Já o CrocPanqueca era dotado de mandíbulas no formato de argolas, preenchidas com dentes pequenos e triangulares — semelhantes a lâminas —, bons para comer peixes”, acrescentou.

CrocCão (Imagem: Pablo Alejandro/Todd Marshall/Correio Braziliense)
CrocCão (Imagem: Pablo Alejandro/Todd Marshall/Correio Braziliense)

Larsson teve a atenção especialmente voltada para o CrocJavali, por sua aparência bizarra. “Os dentes dele são únicos, mas o resto do crânio é muito diferente do de outros fósseis de crocodilos”, descreveu. Ele próprio foi o responsável direto por encontrar um espécime de CrocJavali e de CrocPanqueca. “São fósseis belos, com grande preservação”, assegurou. O canadense também cita a grande diversidade de tamanho das espécies. “Enquanto o CrocCão, o CrocRato e o CrocPato tinham menos de um metro de comprimento, o CrocJavali e o CrocPanqueca possuíam mais de 6 m. Temos esqueletos relativamente completos apenas do CrocCão e do CrocPato. Dos outros animais, a única pista é o crânio”, disse.

CrocPato (Imagem: Pablo Alejandro/Todd Marshall/Correio Braziliense)
CrocPato (Imagem: Pablo Alejandro/Todd Marshall/Correio Braziliense)

Os cientistas já haviam encontrado fósseis de 100 milhões de anos no Brasil, na Argentina e no Uruguai. Mas jamais com uma diversidade tão grande como na África. Alguns dos crocodilos pré-históricos caminhavam como os mamíferos de hoje, sem que sua barriga tocasse o chão. “O Saara é maior que o Brasil e muitos locais são repletos de rochas do tempo dos dinossauros, que estão bem expostas”, contou o norte-americano Paul Sereno, ao admitir que fósseis surpreendentes provavelmente emergeriam daquele solo. A descoberta foi detalhada em artigos publicados pela revista científica ZooKeys e pela National Geographic.

CrocRato (Imagem: Pablo Alejandro/Todd Marshall/Correio Braziliense)
CrocRato (Imagem: Pablo Alejandro/Todd Marshall/Correio Braziliense)

Evolução

De acordo com Sereno, no passado, os crocodilos passaram por uma grande fase evolucionária. “Alguns deles comiam dinossauros, alguns comiam plantas, muitos caminhavam e corriam como se fossem cães. A história longínqua desses animais ajudou-nos a entender por que eles sobreviveram por tanto tempo. Eles são criaturas anfíbias únicas, altamente adaptadas à vida na terra e na água”, lembrou o lendário paleontólogo, que acumula um vasto currículo de descobertas impressionantes.

CrocPanqueca (Imagem: Pablo Alejandro/Todd Marshall/Correio Braziliense)
CrocPanqueca (Imagem: Pablo Alejandro/Todd Marshall/Correio Braziliense)

Depois do trabalho de campo — que exigiu o uso de martelos, cinzéis, gesso e caminhões para retirar a terra —, a equipe liderada por Sereno e Larsson aplicou ferramentas de odontologia e colas especiais nos fósseis. “Os espécimes foram submetidos a uma tomografia computadorizada. Então, reconstruí os espaços que antes abrigavam os cérebros dos animais. Os dados de imagens em 3D foram usados para descrever o tamanho e o formato dos órgãos. A maior parte dos trabalhos envolveu equipamentos de baixa tecnologia, mão de obra e paciência”, observou Larsson.

Fonte: Correio Braziliense

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