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Peixes têm sua pele retirada para a fabricação de materiais produzidos à base de seu couro

22 de novembro de 2009
5 min. de leitura
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Por Joana Bronze (da Redação)

O mais novo objeto de desejo de consumo cruel são os produtos feitos com o couro de peixes.

Materiais produzidos com o couro do peixe
Materiais produzidos com o couro do peixe

O mercado, sempre preocupado com o lucro e total aproveitamento e exploração do animal (como diz o ditado: “Do boi, só não se vende o berro”), diz que transformar a pele de peixe em couro para artesanato é o que se pode definir como “fisgar dois peixes ao mesmo tempo em um só anzol”.

Processo de retirada da pele
Processo de retirada da pele

Como sempre, o mercado só está interessado na obtenção de renda a partir do uso dos peixes, seja para alimentação ou para qualquer outra finalidade: o que importa é que seja rentável, ignorando o sofrimento, a matança animal e a total violação dos direitos animais.

Justificam o fato dizendo que a pele é um “grande entrave aos produtores e abatedouros na hora do descarte”, já que ela não interessa financeiramente para o consumo alimentício. Também já tentaram aproveitar a pele para outras finalidades, sem sucesso financeiro, pois, utilizada junto com a carcaça na moagem para se obter a ração de animais, a pele dificulta o processo de trituração pela rigidez de suas fibras.

Agora já “solucionaram” o “problema” de forma lucrativa: curtida e usada como matéria-prima, transforma-se numa fonte extra de renda para pequenos e médios produtores, que vivem às custas da exploração desses animais.

Exploração de todas as formas

Não bastasse o consumo da carne, leite e outros derivados animais, os homens inventam novas formas de exploração a cada dia.

E não faltam justificativas consideradas sensatas para esse processo cruel, como cita a reportagem: “Só com os produtores paulistas, o volume de produção de peixes por mês chegou a 4 milhões de quilos. Aproximadamente 70% desse total fica nos pesqueiros e corresponde à pele e à carcaça. Os chamados pescadores urbanos só querem levar para casa o filé do peixe, equivalente a 30% da massa corporal. Por isso, o aproveitamento do couro de peixe no artesanato é uma alternativa cada vez mais procurada”.

Comercialização da crueldade

Um anúncio americano diz: “Peles de peixes: exóticas, resistentes e magníficas. O couro de peixe é um dos produtos mais especiais, e estamos muito orgulhosos de oferecer-lhes. Uma nova coleção de alta qualidade, com produtos artesanais, feitos a partir da pele da tilápia do Nilo, por um sofisticado processo de curtimento. Todos os produtos são montados e elaborados por artesãos especialistas. Você notará o excelente acabamento. Agora, ele é importado com sucesso para a Alemanha, França e Japão.”

Podemos notar a cruel naturalidade com que se fala do processo: “As técnicas de curtimento são aprendidas em cursos rápidos: um fim de semana é suficiente. Os processos são diferentes para as peles de peixes com escama e peixes de couro. Os produtos químicos na conservação dos peixes de couro são mais abrasivos e se, utilizados nas espécies com escama, deformam as peças, porque eliminam os desenhos naturais.

Nos pesqueiros do tipo ‘pesque e pague’, o curso de curtimento das peles de peixes com escama é o mais procurado. Principalmente por se aplicar a uma espécie não brasileira bem adaptada ao esquema dos pesqueiros: a tilápia do rio Nilo (Oreochromis niloticus niloticus). Introduzida no início do século passado no Brasil, a tilápia passou por ‘melhoramentos’ genéticos no Japão e na Tailândia.

A variedade tailandesa da tilápia sofre mais na mão dos homens, já que é considerada “a melhor em rendimento de carne e pele, por isso mesmo a mais reproduzida em cativeiro”.

E como anda o negócio? Esse novo mercado triste e exploratório tem procura? Como mostra a reportagem, “o que faz, vende”, afirma Vera Oliani. Ela começou a curtir as peles em 2000 e, em 4 anos, já produziu e comercializou 5.000 peças, entre bolsas, carteiras, chaveiros, almofadas, cintos, chinelos, sandálias, saias e jaquetas. A princípio as peças só eram vendidas no pesqueiro, mas agora já ganharam espaço e chegaram ao comércio da cidade, para atender ao interesse crescente dos consumidores, sobretudo das mulheres. Tudo para atender o desejo incompreensível e egoísta do consumo e da moda.

“Mais uma das caracterísitcas da exploração é que a pele fica pronta em uma semana. O processo de curtimento – da esfola ao acabamento, demora apenas uma semana e normalmente o lote tem 500 peles, para o bom aproveitamento dos produtos químicos”.

Dimensão da crueldade

Para uma bolsa de tamanho médio – uma das peças mais vendidas – são utilizados couros de 15 tilápias que morreram cruelmente em pesqueiros para alimentação.

pele-de-tilapia-tingidaAs cores são obtidas com anilina. A crueldade, chamada de “processo de aproveitamento” da pele de peixe começa na ponta da linha dos pescadores.

Após a matança, logo ao tirar o filé e os orgãos dos animais, a separação da pele é feita com um alicate, depois de cortadas as partes superior e inferior do peixe. Isso é tratado com a maior naturalidade por quem compra e quem vende.

Depois dessa etapa, ainda fazem a seleção das peles “boas” para produção.

Ao formar um lote de 500 “boas” peles, é feito o processo químico de curtimento e transformação em couro, seguido de tingimento. Seco e da cor desejada, o couro é esticado e desamassado com ferro de passar roupa.

Terminado o processo, a pele e as escamas mortas dos peixes são transformadas em artigos de vestuário e acessório. É assustador ver a dimensão e o espaço que mais esse tipo de abuso de animais vem ganhando.

Com informações de EPTV e Sea Leather.

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