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O destino dos sete filhotes da cadela Pretinha, atropelada na Marginal, levanta a questão da guarda responsável

9 de novembro de 2009
4 min. de leitura
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Imagem: Newton Santos/Folha Imagem
Imagem: Newton Santos/Folha Imagem

Quem vê o SRD Halley, 1, correr sem parar pela casa espaçosa, em companhia da gata Meg, 2, não imagina que o cãozinho bagunceiro seja um sobrevivente. Halley é filho de Pretinha, a cadela grávida que foi jogada para fora do carro pelo próprio tutor, na marginal Pinheiros (São Paulo), em meio ao fluxo intenso de carros.

Pretinha acabou atropelada, mas foi salva por pedestres. Saiu do episódio com a pata traseira ferida. Levada para um estacionamento próximo, a cadelinha não recebeu apenas os primeiros cuidados. Ganhou abrigo e, duas semanas depois, deu à luz sete filhotes. Em pouco tempo, seis dos cachorrinhos foram adotados.

Um ano depois, a Revista da Folha saiu à procura dos herdeiros de Pretinha. Encontrou Halley na casa da técnica de seguros Domenica Mattos, 31. Já a administradora de empresas Ana Paula Nogueira adotou uma das fêmeas, que batizou de Pretinha, em homenagem à mãe. A outra é Brenda, que se diverte ao brincar à noite no quintal da assistente administrativa Gislaine Pinto, 55, no Jabaquara. Um quarto fihote, Dundun, mora com conforto em um sítio, em Atibaia (69 km da capital).

Já o destino de dois filhotinhos é nebuloso. Um deles morreu atropelado depois de ter sido adotado. O outro foi dado a vizinhos pelo tutor – uma das pessoas que se comoveram com a notícia. Marcelo se desfez do animal quando decidiu mudar de apartamento. Não dá detalhes sobre as pessoas que teriam ficado com o bicho que estava sob seus cuidados. “Eu não tenho o contato deles”, diz.

Além de adotar Pretinha, a dona do estacionamento acabou ficando com um dos filhotes, a quem deu o nome de Gostosão. “Eu cuidei de todos com muito carinho até encontrar tutores que me parecessem responsáveis”, explica Maria Salgueiro. Ela havia recolhido outros 12 cães em situação precária. Pretinha foi a 13ª. Ela conta que recebeu dezenas de e-mails e ligações de pessoas dispostas a ajudar.

“Rejeitei ofertas de adoção de pessoas que me pareceram receosas”, relata. “Mesmo quando aparentam ter certeza, alguns animais são abandonados. Imagine quando há dúvida.” O temor de Maria era entregar os cães a pessoas que poderiam se arrepender da decisão. Quando pensa nos animais que acabaram malcuidados, ela se consola com as fotos alegres e as boas notícias que sempre recebe sobre os outros filhotes de Pretinha. “Fiz o melhor que pude.”

Tempo quente
O abandono de animais é uma realidade que aumenta nesta época do ano. “Com a chegada da primavera e a elevação da temperatura, a maioria das fêmeas entra no cio”, explica o veterinário Jorge Kachan, que se ofereceu para castrar Pretinha de graça.

Apesar de o abandono de animais ser um crime previsto em lei, punido com multa e detenção de três meses a um ano, cães e gatos são deixados em parques, praças e ruas da capital. A partir de meados de outubro, a quantidade de filhotes recolhidos em espaços públicos dobra.

O número de abandonados chega ao ápice em dezembro. “Com as férias e as festas de fim de ano, em vários países, as pessoas resolvem descartar seus animais”, afirma Vanice Orlandi, presidente da União Internacional Protetora dos Animais.

O abandono não é menos dramático que as adoções frustradas. “As pessoas não avaliam a responsabilidade que é adotar um animal e agem por impulso”, explica Vanice. “Na primeira dificuldade, descartam o bichinho como se fosse um objeto.”

Vanice explica que, para evitar o duplo abandono, as ONGs bem conceituadas avaliam minuciosamente o perfil do candidato à adoção. Caso ele seja considerado adequado, a entidade tenta coordenar fatores como disponibilidade de tempo, espaço e condição financeira do candidato com o perfil do animal.

Vira e mexe a Adote Um Gatinho (AUG) rejeita candidatos. Para a entidade, é melhor não realizar a adoção do que correr o risco de ver o animal morto, maltratado ou de volta às ruas. “Nada é pior do que um novo abandono, após todo o esforço para resgatar os animais e cuidar deles com carinho”, afirma uma das diretoras, Susan Yamamoto, 32.

Domenica, uma das pessoas que se comoveram com o drama de Pretinha e de seu filhotes, sabe que ter bichinho dá muito trabalho. “Halley esbarra nas coisas, destrói as plantas e esconde os sapatos, mas é a alegria da casa”, diz ela sobre o cãozinho adotado. “Jamais teria coragem de me desfazer do meu bebezão.” Dois dos sete filhotes de Pretinha não tiveram a mesma sorte.

Fonte: Revista da Folha

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