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Apenas 3% de cães soltos em Campo Mourão (PR) são de rua

9 de novembro de 2009
6 min. de leitura
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Dos cerca de 20 mil cães que existem na cidade de Campo Mourão (PR), 60% estão soltos na rua sem os devidos cuidados de seus tutores. Cachorros considerados de rua são apenas 3%. Caso se leve em consideração a população total de caninos, apenas 600 cachorros são legítimos de rua.

“É fácil sabermos se o cachorro é de rua ou não. Se o cão for grande, ele com certeza é um animal domiciliado que está solto ou foi abandonado. Cachorros de rua geralmente não atingem a fase adulta, porque a maioria morre atropelada ou, por não receberem nenhum tipo de assistência, morrem de doenças”, explica o médico veterinário da Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente de Campo Mourão, Regis Canteri. Ele estima que apenas 30% a 40% dos tutores cuidam de seus animais.

Canteri reconhece que Campo Mourão está enfrentando problemas relacionados à superpopulação de cães de rua. Conforme ele afirma, existem hoje duas situações. “A primeira é que a população reclama dos animais soltos na rua. A outra situação é o que fazer com esses animais depois de recolhidos”, diz.

O canil municipal de Campo Mourão está no limite. As 60 vagas disponibilizadas estão todas ocupadas. “Estamos em nossa capacidade máxima, hoje não estamos seguindo o que a legislação municipal diz” ressalta Canteri. Segundo ele, a legislação prevê que os cachorros podem ficar três dias no canil até seu resgate ou para adoção. Depois disso será eutanasiado – processo pelo qual é morto sem dor. No entanto, de acordo com ele, há uma orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS) para não fazer o recolhimento do animal da rua. “A OMS diz que a eutanásia não contribui para diminuir a população de cães. Além do mais, o Ministério Público considera crime este tipo de ação a fim de diminuir a população destes animais. Assim os cachorros acabam ficando no canil por mais tempo”, explica.

De acordo com Canteri, a maioria dos animais que chegam ao canil não é adotada. Segundo ele, a solução para o problema seria o controle populacional de caninos, por meio de castração ou trabalho de conscientização dos tutores, como orientações da guarda responsável do cão. “Ninguém é obrigado a ter, mas quem tem é obrigado a cuidar. Esse é um tipo de atitude que nós vamos ter que trabalhar. A pessoa deverá ter esta consciência”, argumenta. “Estamos fazendo palestras nas escolas para orientar a população já desde criança.”

Com relação às castrações, o veterinário comenta que a Associação Protetora dos Animais e o Integrado já adotaram esta medida. O problema é que este procedimento custa caro, em torno de R$ 80 por castração. Por ano, para manter o controle seriam necessários realizar pelo menos quatro mil procedimentos, o que custaria em torno de R$ 360 mil por ano. “A população está certíssima em exigir uma atitude contra isso. Mas temos que entender também que o recurso é escasso. Estamos tentando operacionalizar”, afirma.

Outra saída, informa Canteri, seria fazer a identificação do animal e do responsável por meio de um microchip. O mecanismo seria implantado na pele do animal com todas as informações de seu tutor e teria número único. Se por acaso o animal for encontrado solto na rua terá todos os dados de seu responsável, inclusive o endereço onde mora, o que facilitaria sua devolução. Caso for reincidente pagará multa e poderá até ser denunciado ao Ministério Público por maus tratos.

Canteri revela que a multa aplicada será em torno de R$ 100 por animal. “Se a pessoa tiver quatro cães soltos na rua terá a multa quadriplicada”, avisa. Ele acha que a medida deverá despertar o cidadão a cuidar melhor de seu cão. “As pessoas devem assumir mais esta responsabilidade. Não adianta arrumar um monte de cachorros e depois ligar para a carrocinha buscá-los, o problema não será resolvido”, critica.

Castração: resultados serão em logo prazo

Segundo o chefe do departamento de Vigilância e Saúde, Marcio Alencar, os resultados da castração serão alcançados em longo prazo. Ele salienta que o grande problema é de casos de animais domiciliados estarem atacando pessoas na rua. “Infelizmente é o que está acontecendo, cães de rua mesmo são a minoria”, ressalta.

Conforme Alencar, se a pessoa for atacada por um cão, a primeira medida a tomar é procurar um médico para atendimento, pois há risco de transmissão da raiva. “No Paraná a doença está erradicada, mas mesmo assim é preciso cuidar”, reforça.

A triste história de Suzei

Quem vê hoje a pequena Suzei não acredita que ela já esteve à beira da morte. Brincalhona e dócil tem uma triste história de vida. Há cerca de seis meses foi encontrada abandonada na rua enquanto tentava adentrar na garagem de um edifício, em Campo Mourão. Seu corpo estava tomado por sarna, quase não se via mais pêlos em si, apenas couro vivo. Suas patas dianteiras estavam quebradas, impossibilitando a pobre Suzei de permanecer de pé. Sua história pode ser comparada com um daqueles filmes em que o ‘cachorrinho’ sempre acaba encontrando um tutor e tem um final feliz.

Embora Suzei tenha tido um ‘final’ feliz, sua história não é de filme, muito menos ficção. É real. Se por um lado existem pessoas que maltratam seus bichos de estimação, por outro há também aqueles que cuidam. Foi  o que fez a economista Valéria Rezze Martins. Hoje a dócil cadela de pêlos brancos e lisos está viva e forte, graças aos seus cuidados. Foram mais de quarenta dias até se recuperar completamente. Chegou a ser desenganada pelo médico veterinário que a atendeu. “Ele  disse que ela estava muito debilitada e que seu tratamento iria ficar muito caro, então me sugeriu que sacrificasse a pobrezinha”, lembra Valéria. A economista revela que gastou mais de R$ 1,5 mil em tratamentos para Suzei.

A cadela, com características da raça Labrador, tem dois pinos implantados nas patas dianteiras, um em cada pata. A persistência para mantê-la viva valeu a pena. “Suzei é considerada hoje um membro da família Martins”, diz Valéria, que ainda pensou em doá-la depois de curada.  “Ela é muito brincalhona, pula nas pessoas e morde tudo que vê pela frente, não deixa ninguém ficar triste”, comenta.

Valéria mora num apartamento e abriga a cadela em uma área de lazer ao lado de sua residência. Ela revela que desde criança sempre gostou de animais. Suzei se tornou tão especial a ponto do local onde está passar por várias adaptações. Toda semana a cadela sai a passeio na rua junto de Valéria e suas duas filhas. “Ela adora dar uma voltinha”, observa a economista.

Suzei tem dois anos de idade. Valéria reconhece que é difícil explicar por quê a recolheu da rua na situação em que estava. “Não sei se é bem assim que posso explicar, mas dizem que esses animais são anjos sem asas. Então temos que estar abertos a eles”, pensa.

Valéria tem ainda um gato que fica em seu apartamento. O bichano, a exemplo de Suzei, também foi encontrado na rua. “Tenho um carinho muito grande pelos meus animais”, diz. “Acho que se a pessoa tem um cachorro ou um gato tem que cuidar bem dele.” Ela acrescenta que só não deixa Suzei dentro do apartamento porque o animal é muito grande e peralta.

Com informações de Tribuna do Interior

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