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Estudos indicam que uma em cada três famílias cuida de cachorros, no DF

3 de novembro de 2009
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Se depender do apreço de que desfrutam no Itapoã, a maioria dos cães do Distrito Federal tem naquela cidade uma garantia de bom trato por tempo indeterminado. E a recíproca, parece, é verdadeira: no Itapoã, nada menos do que 1.459 residências têm três ou mais cachorros. O dado foi levantado por uma pesquisa domiciliar socioeconômica da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) realizada no primeiro semestre deste ano nas 15 regiões de menor poder aquisitivo do DF. Itapoã surge disparado nesse levantamento: a cada três domicílios, pelo menos um possui um cachorro. Isso quer dizer que quase a metade da população — 42% — cria cães em casa.

Maria Helena (à frente), Edicarlos, Ana Beatriz e Estefane com seus amigos (Foto: Reprodução/ Correio Braziliense)
Maria Helena (à frente), Edicarlos, Ana Beatriz e Estefane com seus amigos (Foto: Reprodução/ Correio Braziliense)

 
Em segundo lugar na pesquisa, aparece a Estrutural: 41,3% das casas pesquisadas têm cachorros. A pesquisa também levantou dados relativos às cidades de Ceilândia, Recanto das Emas — que ficou com o menor índice, registrando a presença canina em 19,6% do total de lares —, Gama, Brazlândia, Planaltina, Paranoá, Samambaia, Santa Maria, São Sebastião, Riacho Fundo, Varjão e Sobradinho 2. No total, foram 62.332 domicílios pesquisados de janeiro até junho deste ano.

Shuí é um exemplo dessa estatística no Itapoã. O vira-lata é famoso na Quadra 2 do Itapoã 2, onde passeia livremente perto do portão de casa. O tutor, Antônio Alves de Araújo, 50 anos, encontrou-o há dois anos no lixão da cidade e não resistiu ao carinho do bicho. “Quando chegou aqui em casa, ele era metido a valente, mas eu logo o amansei. Hoje ele vive rodeado de crianças e nunca fez nada de errado pra ninguém”, conta.

Seu Antônio gosta tanto de Shuí que, mesmo quando recebeu ofertas de até R$ 1 mil pelo animal, não quis vendê-lo. “Eu gosto dele como se fosse gente, não troco por nada nesse mundo. Se eu tiver que dividir meu prato de comida com o Shuí, eu divido, mas com fome ele não dorme”, reforça Antônio.

O motivo de tanto apego está na companhia e também na segurança que o animal traz para dentro de casa. O serralheiro explica que sem o cachorro não dormiria tranquilo, mas preocupado com invasões. “Com o Shuí aqui posso dormir sossegado, que qualquer coisa que acontecer ele já me avisa”, informa.

Afeição

Além de atuar como vigia, o cachorro de seu Antônio engravidou uma cadela vizinha e os filhotes do casal servem de companhia para o neto dele, Lucas Alves de Araújo, de 4 anos. Um dos novos cães vai para a casa de um sobrinho. O outro vai ficar por ali mesmo e já tem até nome: Pantera. A homenagem é a uma cadela de mesmo nome da raça fila que seu Antônio criou por oito anos. Pantera morreu um ano depois de Shuí chegar e foi um dos vários animais que seu Antônio já teve na vida. “Desde novinho eu gosto de ter cachorros. Crio há uns 10 anos. Não sei nem bem o motivo. Acho que é melhor lidar com bicho que com gente”, diverte-se com a própria ideia.

Segundo Vanner Boere Souza, biólogo e veterinário que estuda o comportamento dos cães, esses animais não têm preferência por homens ou mulheres e também não distinguem faixas etárias. “A percepção deles é da hierarquia familiar. Inclusive, muitas vezes eles querem desafiar isso e precisam de disciplina e carinho nas medidas certas para entender quem está no comando”, esclarece. Uma função fundamental para o tutor de acordo com Vanner é saber usar o tom de voz, já que os cachorros reconhecem melhor os sons que as imagens.

É assim com Fofinho e Madonna, os cães de Estefane Barbosa da Silva, 14 anos. A jovem, que está na 6ª série do ensino fundamental, é fã de animais e cuida dos dois mascotes vira-latas há cerca de um mês. “Eu moro com minha mãe e meus dois irmãos mais novos, mas quem cuida dos dois sou eu. Dou comida, banho, levo para passear e cuido quando ficam doentes”, afirma. Estefane paga pelos custos dos animais por imposição da mãe, que não gosta muito da bagunça que eles fazem em casa. “Por mim eu teria até 10 cachorros, minha mãe é que não deixa. Mas também não reclamo. Gosto da companhia e do carinho deles”, diz a garota, sorrindo.

Estefane Ana Beatriz Amara Rodrigues, 11 anos, amiga e vizinha de rua, também tem dois cachorros em casa. O casal de yorkshires Leo e Anne foi presente da avó materna da menina e já mora com a família há cerca de dois anos. “Primeiro veio o Leo, mas, como ele já morava com a Anne, sentiu falta da companheira e tivemos que trazer ela também. Eu achei ótimo, porque eles são meus dois queridos”, diz Ana Beatriz.

Maria Nathália Pereira dos Santos, 47 anos, mora na mesma rua e tem um verdadeiro manda-chuva em casa. O pequeno Bob é da sobrinha Maria Helena, mas acaba fazendo companhia para ela o dia todo, enquanto cumpre as tarefas de casa. “Eu já tive vários cachorros durante a vida, mas, como eles sempre morrem pela idade ou por doenças, acabei desistindo de comprar novos. Daí me aparece o Bob, todo cheio de si. Até tento não me apegar muito a ele, mas é inevitável. A gente pega amor mesmo”, diz.

Nathália concorda que o Itapoã é uma das cidades com maior número de cachorros. E gosta: “Aqui tem, com certeza, mais bicho que gente. Nunca vi nada parecido. É acontecer qualquer coisa na rua que já começa a sinfonia de latidos. Tem cachorro de todos os tamanhos, raças e tipos aqui. Acho que é porque o pessoal quer uma segurança a mais em casa e os bichinhos acabam dando essa proteção.”

O administrador do Itapoã, Marco Aurélio Demes, também não tinha noção de que a cidade é a que mais tem cachorros em relação à quantidade de moradores. “Para mim é uma surpresa bastante agradável, já que, como sabemos o cão é o melhor amigo do homem. Eu, particularmente, nunca tinha reparado uma quantidade tão grande, já que esses bichos ficam mais dentro de casa, porém fico feliz com a notícia”, diz. Para ele, problemas como ataques violentos de animais de rua e transmissão de doenças para os homens são minimizados com ações de rotina da administração, entre elas o acionamento da Zoonoses e a campanha anual de vacinação de cachorros.

Cuidados

Para Regina Scala, 44 anos, veterinária da Divisão de Vigilância Ambiental da Secretaria de Saúde do DF, o maior problema com relação aos animais domésticos são as doenças por falta de vacinação, como leishmaniose e leptospirose. “Nesta época do ano, nossa principal preocupação é com a leishmaniose, porque já começam a surgir casos em todo o DF. Os cachorros malcuidados são sempre reservatórios de doenças, por isso é preciso ter consciência dos cuidados necessários com esses e todos os outros tipos de animais de estimação”, diz.

A veterinária explica que as pessoas devem cumprir o controle ambiental de casa, limpando acúmulos de dejetos e outros tipos de sujeira para evitar doenças transmitidas pelos animais. Além disso, antes mesmo de comprar um cachorro, o tutor tem de saber que ele gerará despesas e precisará de cuidados especiais. “As pessoas muitas vezes esquecem que cachorros precisam de vacinas, remédios, vermífugos, banhos, tosas e rações específicas. Elas acabam ficando com muitos animais e não dão conta de cuidar. Ter um animal é assumir um compromisso. Afinal, os cachorros vivem em média 17 anos e é preciso cuidar deles a vida toda”, explica.

Uma estratégia para evitar o abandono de animais é escolher um cachorro só e cuidar dele com carinho e atenção. Regina conta que é comum a chegada de caninos idosos à Zoonoses, que são encontrados sozinhos na rua, expostos a acidentes e muitas vezes se tornam perigosos. “Cachorros não devem nem sair na rua sozinhos. É o que chamamos de guarda responsável. O tutor tem de prezar pelo bem-estar do animal de estimação, até porque o abandono é considerado um crime ambiental”, adverte.

Fonte: Correio Braziliense

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