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Cadela amamenta gatinha debilitada em SP

6 de outubro de 2009
3 min. de leitura
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Por Ana Cardilho
em colaboração para a ANDA

Há dois anos, Renata quis arranjar uma amiga para a cachorra. Levou-a para escolher um animal e encontraram Estopa, uma gata então com dois meses. Foi amor à primeira vista. A gatinha, apesar da pouca idade, havia sido castrada dias antes. Ainda carregava os pontos da cirurgia e estava debilitada. ‘Ela passou a acolher a gatinha e logo já estava produzindo leite para amamentá-la’, conta a dona. ‘Graças a essa atitude, Estopa apresentou melhoras.’

Muito prazer, meu nome é Fubeca. Sou uma legítima vira-lata canina. Gosto de passear, dou a patinha quando me pedem, fico de barriga para cima para ganhar  ossos e carinhos e na hora da ração chego feito um raio. Tenho bom apetite, especialmente quando penso que poderia morar nas ruas e passar fome. Graças a São Francisco de Assis meu destino foi bem bom. Tenho casa e uma dona que me adora. Ela gosta tanto de mim que resolveu me dar um presente. Uma companhia.

Inicialmente pensou em outro cachorro, quem sabe um filhote? Mas, quando fomos visitar uma feira de adoção, minha dona se encantou com uma gatinha chamada Estopa. Fubeca e Estopa. Por que não? Só que Estopa era recém-nascida e estava doente. Farejei-a e senti cheiro de morte. Não teria vida longa a bichana, tão fraquinha! Fora abandonada pela mãe, era só pele e osso. Dei-lhe um banho de lambidas e naquela noite a pequena dormiu aninhada na minha barriga.

Não sei se foi esse calor ou se foram as lambidas, mas na manhã seguinte acordei estranha. Minhas tetinhas doíam, estavam inchadas. Nunca havia sentido aquele desconforto. Levantei-me, tomei água e vi que tinha dificuldade para andar, estava mole, como se estivesse com febre. Fui para meu canto e Fubeca havia acordado. Ficou me olhando com aqueles olhos muito verdes, veio se aninhar na minha barriga e de repente senti uma dor lacinante. Tive vontade de rosnar, de morder, de uivar, mas imediatamente a dor passou. No lugar dela, um alívio morno, uma zonzeira, uma ternura que me encheu os olhos. Não é que a danadinha da Estopa estava mamando em mim? Sugava com tanto gosto e eu ali, paralisada, sem entender. Mas, se ela sugava, eu tinha leite? Como podia ter leite se não tinha tido filhotes? Não sabia explicar, mas que ela mamava, ah! isso mamava… Foi trocando de mamilos, experimentou todos, ficou com os mais cheios e depois dormiu, barriga pra cima, resto de leite no canto da boquinha.

Meu leite nunca secou. Fonte generosa para Estopa que cresceu, ganhou peso, pelos e charme. Hoje, dois anos depois que ela chegou, Estopa já come ração, mas não dispensa umas mamadas vez ou outra. E não é incrível que ainda tenho leite? Estopa, minha filhinha do coração e eu, Fubeca, sua leal mãe de leite.

Somos uma dupla e tanto entre latidos e miados de amor!

Ana Cardilho é escritora e jornalista. Com um olho na realidade e outro na prosa imaginária conta com mais de 20 anos de experiência em rádio e TV, tendo feito reportagens, edição e fechamento de telejornais e programas, e é ficcionista.

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