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Quem são os verdadeiramente mal-humorados?

24 de setembro de 2009
5 min. de leitura
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Recentemente uma jornalista apontou o site da SVB/Poa com o comentário: “o mau humor dos vegetarianos”.

Lembrei que não é o primeiro jornalista nem será o último a se incomodar com o humor daqueles que não comem carne. Por que será?

A tendência é sempre tachar aqueles que se empenham em causas sérias como mal-humorados. Confundem mau humor, até por não terem referência alguma do que é humor verdadeiro, com empenho e indignação que alguns temas provocam.

O feminismo, por exemplo, é historicamente alvo de deboches de pessoas pretensamente bem-humoradas, mas que apenas estão ridicularizando aquilo que as incomoda. Geralmente ouço de pessoas ‘sem noção’ comentários e piadas do clichê ‘queimar sutiãs’ ou outras desse tipo (isto é humor para elas). Nem vale a pena argumentar ou mesmo usar o bom humor com essas pessoas. Elas não entenderiam.

É verdade que estudiosos de determinados assuntos estarão mais propensos à indignação e ao mau humor. Mas o que é o bom humor?

Será que ser bem-humorado é semelhante à idiotice generalizada que vemos nas ruas? O humor bobo e infeliz, o riso cínico e triste, isto é ser bem-humorado?

O ministro Carlos Minc (Ambiente) ironizou hoje as declarações do governador do Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (PMDB), que disse ontem que Minc era “veado e fumava maconha”. Afirmou ainda que ia “correr atrás dele e estuprá-lo em praça pública”, se o ministro fosse a Campo Grande (MS). A desculpa depois da repercussão foi de que era “uma brincadeira”. Esse é o nível de humor do nosso querido Brasil! E nós é que somos mal-humorados!

O governador afirma que pode ser um estuprador, e a isto chama humor. Temos exemplos tristes em nosso país de brincadeiras sem graça. Mas isto a jornalista não percebe, ela prefere atacar os vegetarianos porque é moda, ou porque isso a incomoda mais do que outros temas.

O humor verdadeiro está muito longe de certas pessoas, mas elas acreditam tanto em si mesmas e na sua ilusão, que jamais perceberiam que já são tristes por natureza. E tudo para elas é mau humor.

Alguns filósofos já foram tachados de mal-humorados. Embora seus pensamentos sejam a base da nossa cultura, que não teve cacife ou coragem de inventar algo novo, estes mesmos pensamentos estão na boca do povo, que julga tudo o que não entende de ‘mau humor’.

O site da SVB/Poa é um dos sites vegetarianos mais engraçados que conheço. Bom humor é algo que existe no meio dos ativistas pelos animais, assim como também há bastante mau humor e parcialidade por parte de muitos veículos de comunicação, escritores cuja opinião se baseia na moda da época, jornais que morreriam se não fosse o patrocínio dos pecuaristas etc.

Não vou falar o nome da tal jornalista, até porque prefiro fazer propaganda de quem merece. E o objetivo desta coluna é falar do humor, ou da falta dele…

Curiosamente, outro jornalista escreveu um livro usando o mau humor como tema. O escritor e jornalista Ruy Castro, com o seu livro O melhor do mau humor, nos garante boas risadas com frases que traduzem a realidade, que é o segredo do humor ou da falta dele.

Algumas, retiradas da internet: http://www.releituras.com/ruycastro_mauhumor.asp

“A minha única restrição aos cigarros é a de que eles já não vêm acesos.”
(Fran Lebowitz)

“Avião: é mais pesado do que o ar, tem motor a explosão e foi inventado por um brasileiro. Não pode funcionar.”
(Vinicius de Moraes)

“Certa vez, durante a Lei Seca, fui obrigado a passar dias a comida e água.”
(W. C. Fields)

“(Ao passar mal no avião e a aeromoça perguntar-lhe se estava sentindo falta de ar):
– Não, eu estou sentindo falta de terra!”
(Milton Campos)

“A morte é o clube mais aberto do mundo.”
(Otto Lara Resende)

“Amigo é aquele que sabe tudo a seu respeito e, mesmo assim, ainda gosta de você.”
(Kim Hubbad)

“Se os seus pais não tiveram filhos, há uma boa chance de que você também não tenha.”
(Clarence Day)

“Quando o sujeito é uma besta e não é capaz de fazer nada, faz filhos.”
(Nelson Rodrigues)

Eu comecei a gostar de literatura e de ler quando tive nas mãos livros de humor ácido e baseados na vida real. Não foi com piadas ridículas e comentários levianos de quem não tem nada na cabeça mas se acha muito feliz! Aliás, felicidade e bom humor são sentimentos que a maioria não sabe o que é.

Sabem o que é ter aquela alegria passageira e aquele humor de escritório, mas o verdadeiro humor nunca viram.

Escritores como Ambrose Bierce, Baltazar Gracián, Ezio Flávio Bazzo (que é minha influência mais óbvia) são poetas, escritores que tiram sarro de tudo, mas tudo é sério. São fatos da realidade, são coisas humanas e cheias de falhas, são fatos da vida.

O vegetarianismo e os ativistas pelos animais são alvo de pessoas que pouco sabem sobre o bom humor. Mas tudo bem!

Aqui fica a dica para que visitem os sites sobre vegetarianismo – como o www.provegan.com.br – e tentem encontrar algo de mau humor. E para quem acha que os vegetarianos devem ter bom humor, penso que deveriam começar por ter o bom humor em si mesmos. Não podemos esperar dos outros a perfeição. Mas há uma tendência a se esperar dos que são vegetarianos, veganos e ativistas que salvem a humanidade, que sejam modelos de ética e virtude.

Por que é que nós, que apenas nos demos conta do erro coletivo de se torturar animais para agradar ao paladar e a outros sentidos, é que temos de ser os responsáveis por tudo o que acontece? Por que é que nós é que teremos que achar todas as soluções?

Apenas por que somos os primeiros a ver?

Ninguém mais tem responsabilidade nisso?

A dica é para que, antes de criticar os outros, tentem achar o bom humor em si mesmos, inventem o humor, busquem nos escritores, nas coisas do dia a dia. O Brasil é um bom lugar para rir, seja de nós mesmos ou das coisas inusitadas que acontecem. Mas não venham nos apontar o dedo!

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