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Cientistas investigam origem da relação da humanidade com cães e gatos

21 de setembro de 2009
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Em busca de um tutor
Foto: Martin Harvey e Arthur Baensch/Corbis/Latin Stock
Foto: Martin Harvey e Arthur Baensch/Corbis/Latin Stock

Há tempos se sabe que os laços afetivos entre a humanidade e seus dois bichos de estimação favoritos, o cão e o gato, se estabeleceram faz pelo menos 10.000 anos. Agora, os cientistas tentam descobrir mais detalhes sobre as origens desses dois casos de amor – em que lugar do mundo e de que maneira as duas espécies foram domesticadas. Uma das principais aliadas das pesquisas tem sido a genética, sobretudo o DNA mitocondrial, aquele que passa quase intacto das mães para os filhos. Com ele, os biólogos conseguem construir as árvores genealógicas das espécies.

A maior análise genética da história evolutiva dos cães foi publicada há duas semanas na revista científica Molecular Biology and Evolution. O estudo traz duas novidades. A primeira é que os 250 milhões de cães que atualmente vivem no planeta descendem de uma única linhagem, proveniente de lobos que foram domesticados entre 14.000 e 11.000 anos atrás no sul da China. A segunda novidade é que, a princípio, os cães eram criados não para ajudar o ser humano, mas para lhe servir de jantar. Só mais tarde foram incumbidos de tarefas mais “nobres”, como a caça e a guarda. Essa teoria é reforçada pelo fato de que até hoje os chineses consideram os cães uma iguaria.

Para chegarem à conclusão de que os cães eram criados para o abate, os pesquisadores do Instituto Real de Tecnologia, da Suécia, se basearam em achados arqueológicos, na China, de ossos caninos entre restos de comida. Para reconstituírem a árvore genealógica canina, os cientistas compararam o DNA mitocondrial de 1.712 cães da Ásia, da África e da Europa. Todos os animais tinham informações genéticas muito parecidas, uma pista de que os lobos se domesticaram de uma só vez. “Se os cães tivessem surgido em várias épocas, provenientes de lobos de diversos continentes, seu DNA seria provavelmente muito mais distinto”, afirmou o biólogo Peter Savolainen, que coordenou o estudo.

Os pesquisadores acreditam que o sul da China tenha sido o berço dos primeiros cães porque a diversidade genética entre os animais dessa região é muito maior do que a existente entre os cachorros dos outros locais. “A diversidade genética precisa de tempo para acontecer”, afirma Savolainen.

Uma pesquisa muito parecida, realizada pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, constatou que o primeiro gato a fazer parte dos povoados humanos viveu há cerca de 10.000 anos no Crescente Fértil, região entre Israel e o Iraque que abrigou os primeiros povoados humanos fixos. O estudo comparou o DNA mitocondrial de 979 gatos domésticos e selvagens, além de fazer a análise de cromossomos dos gatos – a mesma que é efetuada em testes de paternidade e na identificação de cadáveres pela polícia. Os pesquisadores concluíram que o gato caseiro surgiu de uma só subespécie do gato selvagem, a Felis silvestris lybica. Nenhuma outra espécie tem o DNA tão parecido com o dos gatos domésticos.

Assim como no caso dos cães, a domesticação aconteceu apenas uma vez. Quando o gato doméstico viajou para lugares distantes, a bordo de barcos mercantes ou carroças, surgiram raças mais antigas, como siamesa e korat, da Tailândia. As raças apareceram naturalmente. Em pequenos grupos isolados da população principal, mutações genéticas se tornam traços predominantes com facilidade. O mesmo fenômeno explica as diferentes cores dos olhos, da pele e dos cabelos entre os homens.

A domesticação do gato foi consequência da evolução de outras duas espécies: o camundongo e, no reino vegetal, o trigo. Há 12.000 anos, os caçadores-coletores do Oriente Médio deixaram de ser nômades para se fixar nas terras e se dedicar à agricultura. Os estoques de cereais acumulados após a colheita eram chamariz para os ratos. Apareceu assim o camundongo doméstico – uma espécie menor que os roedores selvagens. Atraídos pelos ratos pequenos e pelos restos de comida, os felinos começaram a entrar nos povoados. “Os gatos selvagens que conseguiam conviver melhor com o homem logo proliferaram”, diz Eduardo Eizirik, especialista em biologia molecular de felinos, da PUC do Rio Grande do Sul.

Como os gatos não atrapalhavam as pessoas e colaboravam para eliminar roedores e pequenas cobras, a convivência prosseguiu sem conflitos. Posteriormente, a humanidade se afeiçoou aos felinos. Gravuras e cerâmicas de 10.000 anos atrás mostram que eles já faziam parte do cotidiano das aldeias. Em 2004, arqueólogos franceses descobriram na Ilha de Chipre uma ossada humana sepultada ao lado de um pequeno gato. O achado, de 9.500 anos, leva a crer que já havia gatos nos primeiros barcos que povoaram as ilhas do Mediterrâneo. Milênios depois, eles encantaram os egípcios, que há 4.000 anos os mumificavam e representavam deuses em forma de felinos. Com a construção da árvore genética dos cães e dos gatos, a ciência reconstitui de maneira cada vez mais precisa o início da amizade entre essas espécies e a humanidade.

Foto: AFP
Foto: AFP

A chave do tamanho

Foto: Getty Images/ Corbis/ Latin Stock e Istockphoto
Foto: Getty Images/ Corbis - Latin Stock e Istockphoto

Há cães pequeninos, como o chihuahua, e enormes, como o dinamarquês (ambos na foto acima). Essa diferença de tamanho não ocorre entre os gatos, cujas raças têm dimensões semelhantes e se distinguem principalmente pelo comprimento da pelagem. A explicação para isso é que, desde a pré-história, o ser humano realizou seleções artificiais dos cães na tentativa de aumentar habilidades como o faro, a velocidade ao correr atrás da caça ou a sociabilidade. Os gatos, por não serem tão “úteis”, passaram por menos seleções que os cães. Isso também explica por que os gatos são mais independentes do que os cães e sobrevivem mesmo sem a ajuda do tutor.

Fonte: Veja

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