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Galos de briga habitam casarão na Avenida Paulista, em São Paulo

4 de setembro de 2009
4 min. de leitura
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Quem passar em frente ao casarão mais antigo da Avenida Paulista, entre o Parque Trianon e o Conjunto Nacional, poderá surpreender-se com o canto de três galos vindo do interior da construção. Não se trata de uma manifestação artística ou algum tipo de protesto. As aves estão no imóvel tombado à espera de uma nova família.

Os galos, assim como os cães e gatos que os cercam, foram recolhidos pela ONG Projeto Natureza em Forma. Mas seus históricos são diferentes dos outros animais que estão ali. As aves não foram retiradas da rua, mas de um grupo de pessoas que fazia rinhas, em uma ação conjunta do Ibama e do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), no começo de julho.

“Foram resgatados 37 galos de briga”, diz Lito Fernandez, biólogo e fundador do Projeto Natureza em Forma. Após um período no CCZ, as aves foram entregues para a ONG, e a maior parte delas aguarda pela adoção em um sítio na cidade de Igaratá, a 77 quilômetros de São Paulo. Alguns animais se revezam na feira de adoção da ONG, que acontece no casarão de número 1919, na Avenida Paulista.

Antes do resgate, os galos eram mantidos em gaiolas pequenas e com isolamento acústico, para evitar que vizinhos do local escutassem o barulho e chamassem a polícia. Muitos tiveram as esporas e a ponta dos bicos cortados e substituídos por peças de aço, para tornar o ataque mais agressivo nas rinhas. “Esses animais, que pertencem a uma linhagem de combate, eram estressados e recebiam maus tratos para ficar mais violentos”, afirma Fernandez.

Após o período no CCZ, em que as aves foram castradas, vermifugadas e receberam microchips com informações do Registro Geral de Animais, os galos começaram o processo de socialização. Inicialmente, cada animal foi colocado em um cercado, para receber sol e ciscar. “Todos se emocionaram ao ver os galos recuperando o seu lado animal, em contato com a natureza”, diz Fernandez. Agora, alguns galos já conseguem conviver com outros animais, sem mostrar um comportamento agressivo. Abraão Stejnhart, o treinador da ONG, acredita que com o tempo as aves se tornarão mais calmas. “A castração já ajudou muito”, afirma.

A adoção
Quem quiser levar para casa um dos 31 galos que ainda não foram adotados terá que passar por um processo de seleção. “Somos bem criteriosos com a escolha dos novos donos. Essas aves já sofreram muito, e temos que garantir que daqui pra frente elas serão bem tratadas”, diz Fernandez. Para isso, os membros da ONG pedem para os interessados enviarem fotos do local destinado à ave, além de cópias do RG, CPF e um comprovante de residência. Se o candidato for aprovado, deverá ainda assinar um termo de compromisso, no qual é estipulado que o animal não será usado para a alimentação dos donos.

Até o momento, todos os galos adotados foram morar fora da cidade de São Paulo. Mas Fernandez acredita que eles podem ser uma ótima opção para moradores da metrópole com um quintal em casa. “São aves domesticáveis, e ainda fazem um bom trabalho de limpeza, ciscando os insetos e pragas do jardim”. A veterinária Marta Brito Guimarães, do Ambulatório de Aves da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, concorda com Fernandez. “Os galos de briga, quando bem tratados e sem estímulos de agressão , tornam-se animais dóceis e convivem pacificamente com o ser humano”, afirma a veterinária.

Briga recorrente
Não é a primeira vez que galos de rinha recebem a atenção pública. Em agosto deste ano, 140 animais foram capturados em Teresina, no Piauí. A questão tornou-se polêmica quando o superintendente do Ibama no estado afirmou que eles deveriam ser sacrificados, pois “só servem para brigar”. Diversas entidades de proteção aos animais protestaram, dizendo que não permitiriam um “galocídio”.

O juiz federal substituto Nazarento Reis, da 1ª Vara Federal de Teresina, proibiu o Ibama de sacrificar as aves enquanto não houver maiores informações sobre o caso. A lei ambiental brasileira determina que animais apreendidos por maus tratos devem ser libertados em seu habitat ou entregues a jardins zoológicos ou fundações de proteção aos animais.
 

 

 

 
 

 

 

 
 

 

Fonte: Época São Paulo

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