EnglishEspañolPortuguês

Tráfico de insetos pela internet

8 de agosto de 2009
2 min. de leitura
A-
A+
Foto:Shuttherstock
Foto:Shuttherstock

Basta um clique para se cometer o crime de tráfico de insetos. Quem fala é um criminoso que mora na China, que conversou com ISTOÉ, mas pediu (motivo óbvio) para não ser identificado: “Há dez anos coleciono belos exemplares de borboletas que comprei por meio da internet e muitos desses insetos são traficados do Brasil.” Segundo ele, o negócio é “muito fácil, só precisa ter em mãos um cartão de crédito e acessar um dos tantos sites espalhados pelo mundo que promovem esse tipo de delito.

Em sites como o italiano “L’arca di Noé” e o canadense “Thorner Insects”, por exemplo, pode-se encontrar a rara borboleta brasileira Morpho catanarius ao preço de US$ 425 ou o besouro da Amazônia Titanus gigantus por US$ 300. Como se fosse uma queima de estoque, oferece-se desconto de até 25%. É a biopirataria se apropriando – e destruindo – a fauna brasileira.

Em cada site a média mensal de busca é de mil clientes que querem insetos para colecionar, vender a museus ou utilizar em pesquisas. Uma das “vítimas” mais (ilegalmente) comercializadas é o besouro brasileiro Lamprocyphus augustus. Ele vem fazendo sucesso nos EUA e pesquisadores da Universidade de Utah acreditam ter encontrado um cristal fotônico ideal em sua carapaça.

Esse cristal é essencial na construção de circuitos eletrônicos que manipulam dados por meio de luz (fótons), em vez de cargas elétricas (elétrons). “O curioso é que os cientistas americanos não tiveram trabalho para conseguir o inseto brasileiro. Encomendaram-no pela internet a um vendedor da Bélgica”, diz a senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva. “Não duvido de que os EUA, apenas com a tecnologia decorrente das pesquisas com esse único besouro, produzam mais riqueza do que todo o valor da exploração ilegal de madeira na Amazônia.”

Sediado no Estado americano de Ohio e registrando seis mil acessos por mês, o site Butterflies and Things apresenta seus fornecedores como “pessoas do Terceiro Mundo que ganham a vida coletando borboletas e insetos”. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) só autoriza a coleta de exemplares da fauna silvestre – assim como da flora – a cientistas e profissionais de instituições credenciadas, entre elas as universidades – não é o caso dos pesquisadores de Utah. Ou seja: a captura desses insetos e seu envio ao exterior, sem autorização, é crime, passível de multa de até R$ 50 mil.

A diversidade de oferta, no entanto, mostra que os fornecedores, que dilapidam a natureza do Brasil, não estão tendo dificuldade para piratear. E nem temem a lei. É o próprio ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, quem, por incrível que pareça, avaliza ou conforma-se com esse raciocínio: “O País está sendo depenado pela biopirataria. Mas é difícil fiscalizar e impedir a ação dos criminosos.”

Fonte: ISTOÉ

Você viu?

Ir para o topo