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Protetores adotam regras rígidas para doar animais

9 de agosto de 2009
5 min. de leitura
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Para quem teve gato desde criança, passar sete anos sem nenhum é uma longa espera. Mas o comunicólogo Carlos Knapp, 80, morava em apartamento e aguardava o momento de voltar a viver em uma casa para adotar um animal. “Sempre achei uma judiação ter bicho dentro de apartamento.”

Conseguiu se mudar do prédio para uma casa com quintal, no Sumaré, e resolveu, no final do ano passado, procurar um gato para adoção. No primeiro contato que fez com uma entidade, no entanto, ficou perplexo ao descobrir que, se ainda estivesse morando em um apartamento, seria mais fácil conseguir um bicho.

Knapp havia ido atrás da ONG Adote um Gatinho, indicada a sua mulher por um pet shop. As sócias-fundadoras, Juliana Bussab e Susan Yamamoto, são algumas dos muitos protetores de animais de São Paulo que cansaram de resgatar bicho maltratado, doente ou acidentado. E por isso impõem normas rígidas para a doação.

Não que achassem que Carlos Knapp fosse maltratar seu animal, mas a regra número um da ONG é um lar seguro para o bicho. O temor é de que o animal adotado volte para as ruas e seja atropelado, envenenado ou coisas do tipo.

Knapp não passou pelo crivo das ongueiras, que exigem muros altos, portão com tela e obstáculos que impeçam o animal de chegar à casa do vizinho, por exemplo. Elas acharam que a casa dele não tinha a segurança necessária.

“Quando vieram aqui em casa, não passaram do jardim da frente. Balançaram a cabeça negativamente”, afirma Knapp. Em janeiro, depois da negativa, ele conseguiu dois gatos de uma ninhada na vizinhança. “Eu queria ter a vida que têm os meus bichos nesta casa. A natureza do gato é essa mesma. Não dá para controlar. Eles fogem e depois voltam.”

Juliana Bussab, 33, explica as razões do veto ao casal, quando há excesso de bichos esperando quem os adote. “Eu também gostaria de morar numa casa linda, espaçosa, com jardim, que meus vizinhos fossem todos do bem. Mas a realidade é outra. Tem gente que joga veneno de uma casa para a outra”, rebate.

Não é só isso, conta ela. Outra regra para doação da ONG é verificar, em um apartamento, se todas as janelas têm tela, inclusive nos basculantes. E não adianta dizer que aquela que não tem tela fica sempre fechada, argumenta Juliana. “Eu tenho uma gata paralítica, que anda arrastando as duas patas traseiras. Está assim porque caiu do sétimo andar do apartamento do ex-dono.”

Seleção rigorosa
Tantos riscos fazem os protetores criarem um rigoroso processo seletivo, muito diferente de feiras e centros de adoção onde um animal pode ser levado por R$ 15. A professora Valéria Cardoso, protetora independente de gatos e cachorros há dez anos, não só envia antes um questionário como depois acompanha os primeiros meses da adoção. Faz uma visita um mês após entregar o animal, depois telefona regularmente por um tempo e só então se distancia.

Valéria é do time dos que fazem o novo dono assinar um termo se comprometendo a não passar o bicho adiante, caso não o queira mais. “A qualquer momento, é só me ligar que eu vou buscar o animal.”

A médica Patrícia Cancellara, do grupo PitCão, especializado em pit bulls, conta como é importante conhecer antes a casa e quem mora com o adotante. “Vamos para saber a opinião dos familiares, se todos estão cientes da adoção, dos cuidados e dos deveres que terão com o animal.”

Os cuidados não são um exagero, dizem os protetores, já que os animais encontrados já sofreram bastante. “Precisamos ter muito cuidado ao doar um animal que foi abandonado, para que ele não venha a sofrer novamente”, diz a médica.

Ela conta que uma vez encontrou um doberman caquético na rua. “Era cão de segurança, mas estava velho. Então, jogaram-no fora. Literalmente. Como se fosse lixo. Se me pedem cachorro para fazer segurança, não dou”, afirma Valéria. Para doar um cachorro grande e rápido, como um pit bull, por exemplo, ela exige que a casa tenha um portão de contenção antes do portão da garagem.

Tratar bicho maltratado custa caro. No processo de reabilitação, os animais são levados ao veterinário, onde são castrados e vacinados. “Gasto R$ 300 por mês só com fisioterapia, acupuntura e fraldas para minha gata paralítica”, conta Juliana Bussab.

Regras inflexíveis
Por isso, tela de proteção nas janelas de lar que tem gato é obrigatória, dizem as protetoras. Há quem se adapte sem reclamar. O professor Luís Faria e Silva, 43, já tinha tela em seu apartamento quando procurou a Adote um Gatinho. Na visita prévia das voluntárias, em janeiro, ele descobriu que aquela não era a tela adequada, porque o buraco era grande o suficiente para passar um gato.

“Na hora eu refleti se ia valer a pena trocar. Achei que poderia parecer excessivo. Mas é um cuidado. Não me pareceu absurdo.” Mandou trocar a tela e hoje vive com dois gatos da mesma ninhada, doados pela ONG.

O mesmo não ocorreu com o industriário Rogério Bueno dos Santos, 41. No início do ano, ele quase procurou a Adote um Gatinho, mas leu antes as regras no site e desistiu. Pouco tempo depois, achou uma gata na rua e hoje possui três. “Não sou contra as exigências delas, mas acho que poderiam ser mais flexíveis. Às vezes, por causa de um item exigido e não cumprido, a pessoa acaba ficando sem o gato. Por isso, nem as procurei.”

Juliana acha justo. “Do mesmo jeito que a pessoa tem o direito de procurar um animal em qualquer lugar para adotar, eu tenho o direito de negar.”

cuidados para adotar um…

… GATO
> Todas as janelas do apartamento devem ter tela, inclusive as basculantes

> Em casa, as janelas que dão para a rua precisam ter tela e deve haver obstáculo para o gato não chegar à casa do vizinho

> Os muros da casa devem ser de no mínimo três metros, sem apoio próximo

> Portão com espaço grande entre as barras também deve ser telado

… CACHORRO
> Se o cão é grande e ágil, é necessário haver um portão de contenção antes do portão da garagam da casa

> A casinha do cachorro deve ser coberta, para ficar protegida da chuva

Para adotar

Adote um Gatinho
www.adoteumgatinho.org.br

PitCão
www.pitcao.com.br

Valéria Cardoso (independente)
[email protected]

Fonte: Revista da Folha

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