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7 milhões gastos em obras para proteger ratos em extinção

7 de julho de 2009
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Mede entre 11,6 e 13 centímetros, tem pelo comprido castanho-amarelado. Seu nome científico é Microtus cabrerae e a sua preservação vai custar cerca de 6,9 milhões de euros (19 milhões de reais), correspondentes a um centésimo do investimento total numa estrada no Alentejo. Mas, ao contrário do que aconteceu este ano em Trás-os-Montes, onde quiseram atribuir a este rato minúsculo as culpas pela desistência da construção de uma estrada, aqui a via vai mesmo avançar.

No projetado IP8, perto de Santiago do Cacém, os requisitos do Ministério do Ambiente implicam a construção de três viadutos sobre as colônias de ratos de Cabrera, o único roedor que só existe na Península Ibérica e espécie considerada prioritária pela diretiva habitats (leia mais  no final do texto).

Num trecho de 15 quilômetros, entre Roncão e Grândola Sul, dois dos viadutos projetados têm 200 metros de comprimento e o outro 175. Os três têm uma largura de 30 metros e serão construídos a uma altura do solo entre um mínimo de 2,5 metros e um máximo de 13 metros.

Tomando por base um preço de construção de €400 por metro quadrado, serão gastos cerca de 6,9 milhões de euros – valor estimativo adiantado ao Expresso por duas empresas do setor.

E quem paga? “O condicionamento da estrada à salvaguarda desta espécie protegida partiu de outro Governo, logo, os custos também”, disse fonte oficial do Ministério do Ambiente. “A alteração das propostas associadas emanaram da Estradas de Portugal e não do Ministério ou do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade”, acrescentou a mesma fonte. O custo destas medidas será, tal como todo o projeto, suportado pelo promotor do projeto, Estradas de Portugal, uma empresa estatal, “já que as mesmas são condição essencial para o seu desenvolvimento”. No fundo, pagamos todos.

“Não tenho dados para saber se os três viadutos se justificam. Um é importante porque serve de ensaio. Os outros dois têm de ser vistos no local”, explica António Mira, professor de Biologia na Universidade de Évora e especialista em roedores.

É preciso saber se a estrada constitui uma barreira e se a existência de alcatrão impede o atravessamento por parte do roedor. “A estrada tanto é causa de morte para o rato de Cabrera como refúgio”, salienta António Mira. “Muitas vezes é na berma (acostamento) que existe espaço não ocupado pela agricultura, coberto por vegetação alta e onde a valeta permite uma maior humidade do solo, condições favoráveis para o Cabrera”, acrescentou. Por outro lado, considera que os viadutos de pouco servirão se durante as obras não forem tomados os cuidados necessários para não destruir os habitats. Por isso, considera que deveriam ser ensaiadas “pequenas translocações de animais para parcelas de habitat que estejam próximas”.

Espécie ameaçada

O rato de Cabrera está classificado como “vulnerável”, o grau de risco mais baixo. Isto significa que “se as condições atuais se mantiverem o animal corre risco de extinção”, explica António Mira. É o único roedor endêmico da Península Ibérica e em Portugal encontra-se sobretudo no litoral alentejano, Ribatejo, Beira Interior e Douro Internacional. Não existe uma estimativa de população, mas admite-se que está em declínio, até porque ocupa menos de 2000 quilômetros quadrados. Zonas de erva abundante e alta com bastante humidade no solo, juncais e prados são o seu habitat preferencial. “Portugal e Espanha têm a responsabilidade mundial de preservar esta espécie”, salientou o professor. “Faz falta um inventário nacional do rato de Cabrera”, não só para preservar a espécie mas também planejar as estradas.

Fonte: AeiouExpresso

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