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A terapia de choque na educação – parte 1

1 de agosto de 2009
6 min. de leitura
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Foto: Divulgação

Minha experiência como professora nos seis anos em que trabalhei com jovens e adultos de uma escola particular mostra que alunos nessa faixa etária aceitam muito bem novas ideias, querem conhecimento novo e fresco, atualizado e contextualizado.

Trabalhei durante esse tempo com turmas de adultos que chegam cansados dos seus trabalhos e vão direto para a sala de aula. Apresentei-lhes o vegetarianismo, a realidade da alimentação convencional, com todas as suas críticas e pontos positivos. Fiz seminários e mostras de filmes. Trabalhos focados no interesse deles. Muitos dos alunos eram interessados na “alimentação saudável”, alguns queriam saber sobre os animais.

Na faculdade, um dos raros professores que me inspirava a ficar até o último minuto na aula dizia que todo aluno deve passar por uma “terapia de choque”, o choque com a realidade que ele não conhece. Somente assim é que ele pode aprender, ou pelo menos nunca mais esquecer. Eu fui uma das alunas que nunca mais esqueceu estas palavras, e lembro bem das inúmeras vezes em sala de aula que eu mesma me deparei com algo “chocante” demais, real demais, mas que era a nossa realidade sórdida.

A minha primeira pesquisa num lixão, para a cadeira de Antropologia na faculdade, foi um destes choques. Embora eu tivesse lido os livros mais revolucionários para minha idade, ainda desconhecia o paradeiro do lixo, depois que o descartamos. Foi algo que mudou minha vida e a forma como lido com isto.

O fato de o aluno deparar-se com o novo, com o polêmico, pode incomodar as pessoas mais conservadoras e até mesmo aqueles que pouco sabem de sua área para poder arriscar em assuntos mais interdisciplinares, como muitas vezes já ocorreu. É um grande risco falar de temas que envolvem grandes assuntos, interesses econômicos e os sentimentos das pessoas. O vegetarianismo é um tema assim. Incomoda por ter quase zero de contra-argumentos, é muito fácil argumentar a favor do vegetarianismo abordando a compaixão, a moral, a saúde humana e do planeta. Difícil é achar contra-argumentos.

Abordei diversos assuntos sempre incorporados ao cronograma da escola, sempre misturados aos conhecimentos da Biologia, esta ciência lindíssima, que basicamente está baseada nas ideias de Darwin. E posso garantir que as aulas ficam muito interessantes assim.

Não podemos ter a certeza de que aqueles alunos vão mudar seu estilo de vida. Assim como muitas coisas que ouvi de professores e que mudaram minha vida, não posso saber se tiveram o mesmo efeito nos meus colegas. Pois a mente humana tem muitas defesas, mas o professor tem obrigação de apresentar a verdade. Ou pelo menos o que não é exposto pela grande mídia, pelos interesses das grandes corporações.

Se pelo menos a reflexão do momento é boa, podemos ter esperança numa mudança gradual. Melhor do que nada, ou do que a mesmice que não muda a realidade.

Na próxima coluna, mostrarei alguns trabalhos apresentados e a reação dos alunos diante de coisas que eles jamais sabiam que poderiam existir.

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