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Bico de tucano funciona como ar condicionado, afirma pesquisa

24 de julho de 2009
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Tucano adulto no Pantanal (Foto: Thiago Filadelpho/Divulgação)
Tucano adulto no Pantanal (Foto: Thiago Filadelpho/Divulgação)

Não existe nada mais chamativo do que o amarelo-vivo de um bico de tucano, mas o que realmente importa está debaixo da “pintura” vistosa do apêndice: vasos sanguíneos. Uma rede sofisticada de artérias e veias que, conforme acaba de demonstrar um trio de pesquisadores, dois dos quais brasileiros, ajuda o bicho a liberar o excesso de calor de seu corpo, como uma forma biológica de ar condicionado. Depois de séculos especulando sobre a possível função desse órgão tão peculiar, os cientistas finalmente parecem ter chegado a uma resposta sólida.

“Peculiar”, aliás, é eufemismo. Darwin, Buffon e outros naturalistas pioneiros ficaram bobos diante do apêndice do tucano-toco (Ramphastos toco) porque, proporcionalmente falando, ele é o maior bico entre todas as aves conhecidas. Mas a tríade de pesquisadores formada por Denis Andrade, Augusto Abe (ambos do Departamento de Zoologia da Unesp de Rio Claro, no interior paulista) e Glenn Tattersall (da Universidade Brock, no Canadá) percebeu um detalhe importante. O bicão do tucano-toco preenche todos os requisitos para funcionar como um radiador termal, ou “ar condicionado” biológico: tamanho avantajado, grande presença de vasos sanguíneos (ou vascularização, como se diz) e contato direto com o ambiente.

“Quando os filhotes nascem, o bico deles é só um pouco maior que o de qualquer passarinho”, explicou ao G1 Denis Andrade, que é professor do Departamento de Zoologia da Unesp de Rio Claro. “Nas primeiras cinco semanas eles passam por um crescimento rápido do bico. E, entre cinco semanas e dois meses de vida, esse crescimento é ainda mais rápido”, conta Andrade.

Termômetro neles
O jeito de saber se bebês com bico em crescimento tinham mais dificuldade para dispersar calor do que os papais era um só: encher os bichos de termômetros. A temperatura ao longo do tempo foi medida em pontos do próprio bico, em áreas cobertas de penas nas costas e nos olhos de filhotes e adultos.

O resultado foi claro: em geral, o bico responde por até 60% do calor perdido pelo corpo da ave, e em alguns momentos por até 100%. O mais interessante é que os filhotes, em fase de crescimento, não conseguem controlar muito bem essa perda, enquanto os adultos fazem com que a perda de calor seja minimizada no frio e maximizada no calor. Até as regiões do bico por onde o calor se dispersa são variáveis, diz Andrade. “Em alguns casos, enquanto a parte do bico mais próxima do corpo está mais fria, a ponta está mais quente. Isso provavelmente acontece porque há um caminho alternativo para os vasos sanguíneos, que chegam de forma mais direta para a ponta do bico”, afirma.

Desde o princípio
Andrade é cauteloso ao abordar a origem da função “condicionador de ar” do bico. “A gente só está analisando a função atual. Para mim é uma função secundária de algo que já existia, embora seja muito importante. Do contrário outras aves, como as que vivem em ambientes polares e desérticos e precisam lidar com regulação térmica, também teriam desenvolvido essa estratégia”, diz ele. O biólogo lembra que o bico também é importante para caçar (sim, tucanos podem ser carnívoros às vezes) e poderia funcionar como uma espécie de aviso visual, do tipo “não mexa comigo”, para predadores.

O tucano-toco é sem dúvida o mais popular de todos, mas existem várias outras espécies de tucanos. Será que todas adotaram o sistema? “Temos planos de verificar isso, mas eu creio que sim”, diz Andrade.

A pesquisa está na revista especializada americana “Science” desta semana.

Fonte: G1

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