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Estudo relaciona populações de animais à qualidade ambiental

5 de julho de 2009
3 min. de leitura
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A Mata Atlântica é habitat de muitas espécies de mamíferos, isso todo mundo sabe. O que não se sabia era como calcular a população de cada espécie em determinada área ou reserva de proteção. Mas este problema já foi resolvido. Um grupo de biólogos da Universidade Estadual Paulista (Unesp) criou um método para quantificar a fauna deste importante ecossistema brasileiro. Trata-se do que é considerado o mais preciso censo de mamíferos da Mata Atlântica. O estudo foi publicado na revista Biological Conservation.

“Nosso objetivo foi fazer um diagnóstico da população de mamíferos na Mata Atlântica. A ideia que se tinha era de que há uma população muito grande de mamíferos por causa da abundância de reservas florestais, especialmente em São Paulo. Mas estas espécies sofrem com a degradação ambiental e com a caça clandestina”, diz Mauro Galetti, coordenador da pesquisa e professor do departamento de Ecologia da Unesp.

A pesquisa contou com trabalho de campo de doutorandos e mestrandos da Unesp. Foram selecionadas 12 reservas florestais de São Paulo para o levantamento. Os pesquisadores percorriam trilhas na floresta registrando os animais que apareciam. Com base no percurso feito e no número de animais observados, usavam uma fórmula para calcular a população de cada espécie.

Foram levantadas populações de 38 espécies de mamíferos brasileiros, como o mono-carvoeiro, o bugio, a capivara, o cachorro-do-mato, a queixada, entre outros.

“Fizemos este trabalho para saber quais áreas são prioritárias para conservação de mamíferos. Precisamos identificá-las para saber, por exemplo, onde se deve investir para se proteger a diversidade e a quantidade de mamíferos”, ressalta o pesquisador.

Além disso, diz o estudioso, a quantidade de animais numa reserva é o melhor indicador da qualidade e da própria saúde da floresta.

“A presença de animais, tanto em quantidade, como em diversidade, é o melhor indício da riqueza ambiental dos trechos remanescentes da Mata Atlântica”, diz Galetti.

De acordo com Galetti, outro aspecto importante na pesquisa é o papel de cada espécie animal na manutenção da floresta.

“O mono-carvoeiro, por exemplo, é o único mamífero das 38 espécies estudadas que dispersa sementes de árvores grandes, como o Umbu. É uma relação direta. Daí, a importância de protegê-lo”, comenta o pesquisador.

Nesta linha de pesquisa, fundamental, diz Galetti, é estudar se as espécies vegetais, como o exemplo do Umbu, estão se regenerando ou aumentando sua população em áreas com mamíferos.

“A grande vantagem do estudo não é saber se temos florestas, mas sim se elas estão saudáveis, sadias. Então, a gente procura ver a quantidade de mamíferos de cada área e saber se esta população animal é suficiente para manter a diversidade original da mata. Afinal, parodiando um ditado popular, uma anta só não faz verão”, comenta o ecologista.

O censo da Unesp apontou outros dados interessantes. A queixada, uma espécie de porco selvagem, é o animal mais comum na Mata Atlântica, dentre os que têm hábitos diurnos.

O próximo passo da pesquisa será fazer o censo de animais de hábitos noturnos, como a onça-pintada, a suçuarana (onça-parda), o gambá, dentre outros. Neste caso, a medição não será por observação. Será empregado outro método, que consiste em recolher fezes de animais para fazer testes de DNA e assim identificar as espécies. Outros sinais, como pegadas, também servirão de base para o estudo.

Segundo o pesquisador, um dos fatores que tem limitado a população de mamíferos é a caça, que é proibida.

“Durante nossas incursões na floresta, nos deparamos com muito caçadores”, diz o pesquisador.

Eles aproveitaram estes encontros para quantificar o estrago que estes caçadores provocam nas populações. Sete caçadores foram entrevistados e revelaram números assustadores.

“Cada caçador mata 50 mamíferos por ano”, comenta.

Segundo Galetti, até então, a maioria dos censos na Mata Atlântica enfocava apenas fragmentos pequenos, ignorando áreas contínuas do litoral. O projeto fez um diagnóstico das populações de grandes mamíferos em áreas de conservação não fragmentadas.

Fonte: Terra

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