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Estudantes de Alagoas se dedicam a defender os animais

4 de julho de 2009
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Preservar e conscientizar. Essa é a missão abraçada por jovens alagoanos que se preocupam com o amanhã. Eles fazem parte de organizações não governamentais (ONGs) que desenvolvem projetos voltados ao meio ambiente e que buscam melhorar a vida das pessoas, por meio da interação delas com o meio em que vivem. A missão é mais complicada do que se possa imaginar, pois como eles mesmos dizem: o homem se sente superior e esquece que faz parte de uma cadeia que envolve todos os outros seres vivos – animais e vegetais. Apesar das dificuldades, esses jovens vêm desenvolvendo um trabalho que tem servido de base para muitos projetos ambientais importantes hoje em andamento.

Viviane de Oliveira, 22 anos, e Ana Cecília Lopes, 26 anos, ambas estudantes de medicina veterinária, fazem parte do Grupo de Estudos de Animais Selvagens (Geas) desde 2007, que tem como foco a questão da conscientização ambiental. Semanalmente, os jovens estudantes que fazem parte do Geas se reúnem para discutir, com seriedade, questões voltadas aos animais e ao meio em que vivem. É dessa forma que esses futuros profissionais tornam-se multiplicadores.

Em breve, os jovens do Geas vão começar a difundir os conhecimentos adquiridos durante os encontros do grupo, levando os temas para crianças de escolas públicas de Maceió. “Tocar o adulto é difícil, por isso queremos realizar esse trabalho de conscientização com as crianças, para que elas possam trazer melhorias no futuro”, destacou Ana Cecília.

“Não podemos nos sentir superiores. Se destruirmos o que nos resta de fauna e flora estaremos destruindo a nós mesmos”, completa Viviane.

Nas escolas, o grupo de jovens pretende realizar palestras e apontar a necessidade de que haja um cuidado maior com o meio ambiente, em especial, com os animais.
Para elas, o tráfico de animais é um dos principais desafios a serem enfrentados, problema que estaria relacionado à falta de conscientização ambiental. Elas relatam que, no Brasil, movimenta-se cerca de US$ 1 bilhão por ano com a venda ilegal.

São cerca de 12 milhões de animais que desaparecem da natureza anualmente no país, número catalogado pelas instituições competentes, mas estima-se que, na realidade, esse número chegue a 38 milhões. “Nós temos que mudar isso”, enfatiza Ana Cecília.

Ela destaca o trabalho realizado pelo Ibama, pelo Batalhão Ambiental da Polícia Militar e pelo Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas, que não hesitam em resgatar os animais quando são acionados no Estado. “Há um trabalho efetivo, dentro das condições existentes nessas instituições”, afirma.

Outra ONG que vem dando exemplo em Alagoas é a Mammalia (expressão em latim que significa mamífero). Desde 2005, quando se tornou uma ONG oficialmente, muitos são os trabalhos de pesquisa científica e de conservação realizados. O trabalho é tão sério que a Mammalia hoje já possui representantes nos estados de Sergipe, Rio Grande do Norte e Paraná.

Quando falam na ONG, os jovens membros são enfáticos ao afirmarem que as pesquisas realizadas lá visam transformar a vida das pessoas e não somente ficar registradas no papel. É o que acontece no Projeto Golfinhos do Porto, que vem sendo desenvolvido há quatro anos. Por meio dele, os golfinhos que utilizam a área do porto de Maceió são monitorados e ajudam a perceber como está a qualidade do porto em relação à estrutura ambiental.

Outro projeto importante assinado pela ONG é o chamado Saguis de Bebedouro. Realizado entre 2007 e 2008, o projeto fez um levantamento desses animais existentes na área e, paralelamente, realizou um trabalho de conscientização com a população que convive com os saguis diariamente.

“Todo o nosso trabalho é embasado em pesquisa científica. O nosso interesse é gerar conhecimento e fazer com que ele seja utilizado para a melhoria da sociedade”, afirma Bruno Collaço, presidente da ONG.

“Nós queremos que a população perceba o que está acontecendo para que eles saibam como agir”, diz a estudante de biologia Luana Ferreira, 22 anos.

Para Thame Gomes, 20 anos, também estudante de biologia, as pessoas precisam conhecer os bichos para, só então, aprenderem a se comportar diante deles. Ela cita como exemplo as serpentes, cuja população vem diminuindo gradativamente. “As pessoas maltratam as cobras, mas não sabem o quanto elas são importantes para o controle de roedores, por exemplo. A população precisa saber que existe uma cadeia da qual fazemos parte”, diz.

Thame afirma que a conscientização ambiental existente hoje é muito utópica e relata que a maioria dos estudantes de biologia se preocupam somente com as pesquisas e esquecem de trabalhar, também, o lado social.

Da mesma opinião compartilha o estudante Guilherme Ramalho, 22 anos, também membro da Mammalia. “O que observamos hoje é fruto do ensino nas escolas e nas faculdades”, diz. Para ele, pouca gente pensa no futuro e, mesmo assim, entre as que pensam, poucas fazem alguma coisa para torná-lo melhor.

A Mammalia também é titular de uma cadeira do Projeto Orla, desenvolvido pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), que tem como objetivo final fazer com que haja uma exploração consciente do litoral – por meio de um planejamento coerente que garanta a interação entre o homem e o meio. A ONG também vem trabalhando atualmente em um projeto voltado para os jacarés do Parque Municipal.

A Organização de Preservação Ambiental (OPA), que funciona no bairro do Feitosa, em Maceió há seis anos, também vem realizando um trabalho muito bonito voltado ao meio ambiente. Lá, foi criado o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), onde mais de 4 mil animais passaram por uma observação antes de serem devolvidos ao habitat natural ou encaminhados para zoológicos ou criadouros. Hoje, o Cetas funciona e é mantido pelo Ibama.

Há um ano, a ONG também vem colocando em prática o Projeto Pequenos Jardineiros, que visa à inclusão social de jovens com idade acima de 15 anos. Por meio do projeto – que é resultado de uma parceria com a Petrobras –, os jovens têm acesso a aulas de arranjos florais, jardinagem, paisagismo e educação ambiental. Durante os 12 meses de trabalho efetivo, 30 jovens foram beneficiados, dos quais 17 já foram absorvidos pelo mercado de trabalho.

De acordo com Sérgio Leal, 31 anos, um dos diretores da ONG, o objetivo é renovar a parceria com a Petrobras para que o projeto seja estendido a outras faixas etárias.
Um outro trabalho desenvolvido pela ONG tem hoje proporções bem maiores. Lá, foi elaborado o projeto que visa o reflorestamento de áreas desmatadas pelas usinas de cana-de-açúcar e a utilização de alguns lotes para que seja trabalhada a inclusão social, por meio da agricultura familiar. O projeto foi implantado pela ONG na Usina Capricho, em Cajueiro, beneficiou 50 famílias e reflorestou 50 hectares de mata atlântica.

Recentemente, baseadas no trabalho realizado pela ONG, o Instituto do Meio Ambiente (IMA) e a Petrobras firmaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com cerca de 20 usinas de cana-de-açúcar, que se comprometeram a recuperar parte da mata ciliar destruída para quem fosse iniciada a cultura da cana.

“O nosso projeto serviu de referência para o TAC. Na Usina Capricho, as pessoas receberam orientação sobre agricultura orgânica e cooperativismo, por exemplo. Além de gerar renda e qualidade de vida para as famílias, também realizamos um trabalho de conscientização e de reflorestamento”, conta o ecólogo Mateus Gonzalez, 28 anos, também diretor da ONG.

Atualmente, a Opa vem trabalhando e buscando apoio para um projeto que visa a catalogação das aves encontradas em Alagoas, cujo trabalho, de tão complexo, só deve ser concluído em 5 anos. A estimativa é a de que sejam encontradas 560 espécies em todo o Estado. Desse total, 170 já foram fotografadas e 300 delas já tiveram a vocalização (canto) captada pelos técnicos.

“Nós já conseguimos fotografar a Tesourinha, uma espécie de ave que, até então, não tinha ocorrência registrada no Estado. Com esse trabalho nós vamos poder ter um diagnóstico das espécies que estão ameaçadas de extinção”, afirma Sérgio.

O Instituto do Meio Ambiente já se comprometeu a dar todo o apoio logístico necessário para a realização do projeto, mas a ONG ainda procura apoio que possa arcar com outras despesas.

E é dessa forma, tentando conhecer melhor nossa fauna e flora e trabalhando para que a população também possa conhecê-la, que jovens alagoanos trabalham preocupados com o futuro, que não é só deles, mas de todos nós.

Fonte:  Revista Municipal

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