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Bom para as pessoas, ruim para os animais

24 de junho de 2009
5 min. de leitura
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Por Pauline Machado (Da Redação)

 

Espaços cada vez menores, tempo cada vez mais escasso. A realidade
da vida contemporânea de grande parte dos seres humanos
interfere diretamente na saúde dos animais.

 

Embora seja comum hoje em dia cães e gatos viverem em apartamentos e casas, nem sempre o espaço é o ideal para que esses animais levem uma vida saudável. As pessoas buscam o prazer e a boa companhia dos bichos quando chegam em casa, mas nem todas lembram que eles também têm suas necessidades. Ainda assim alguns seres humanos impõem aos animais sua rotina, ignorando o equilíbrio necessário a qualquer relação de convivência.

De acordo com o veterinário Marsel de Carvalho Pereira, o resultado desses relacionamentos são o ócio, a solidão e o abandono que acabam por desenvolver nos animais vícios comportamentais e distúrbios de personalidade que os fazem – num olhar menos atento – os vilões da história. “Quando o animal ainda é filhote, a restrição de espaço é uma questão de segurança e também para que seu sistema imunológico esteja apto – auxiliado por um programa vacinal competente – a enfrentar os desafios do mundo exterior. Mas quando chega a adolescência e maioridade, o espaço e uma rotina de exercício passam a fazer parte de uma necessidade fisiológica. Para um entendimento mais sólido, basta que nos coloquemos em papéis inversos: imaginemo-nos presos em espaço, sem qualquer atividade física, restritos a uma área insuficiente ou ainda num quarto sem portas e/ou janelas”, comenta Marsel.

Alguns especialistas indicam como solução para a questão aumentar o número de passeios na intenção de diminuir os danos causados ao animal, porém, a solução não seria necessária se o problema não existisse ou fosse pensado de forma mais consciente. Segundo Marsel, a conduta ideal seria, antes de adotar um cão ou gato, o pretenso tutor procurar o aconselhamento de um médico veterinário para a escolha de um animal com temperamento mais parecido com o estilo de vida da pessoa para não prejudicar o animal.

“Para os cães, dois passeios são, sem dúvida, melhores que um ou nenhum, mas a suficiência reside na qualidade do passeio. Essa dita ‘qualidade’ pode ser traduzida não só no tempo de duração, mas também no tipo e intensidade do exercício que deve ser diretamente proporcional à raça do cão. Vale pensarmos: fazer exercícios físicos isoladamente é suficiente para uma vida saudável? Sendo os cães indivíduos sociais por natureza, o confinamento deturparia essa noção de relação e convívio com os da mesma espécie, ocasionando efeitos psicológicos de difícil correção. Além disso, impor a um cão ou gato uma limitação de locomoção é, no mínimo, uma covardia. Infelizmente, esse crime é visto com condescendência pela maioria da população, cuja vontade de ter um animal suplanta a compreensão das necessidades que ele tem”, ressalta.

Sedentarismo e isolamento

À medida em que os animais se aproximam mais dos seres humanos e tem seu estilo de vida moldado a eles, tudo fica um pouco semelhante, inclusive o surgimento de doenças, assegura o veterinário. Segundo ele, os animais podem ser sedentários e correm os mesmos riscos de vida como nós. “Em que pese o aumento da expectativa de vida do cão, os animais que vivem em espaço limitado, isolado e sem passeios, estão mais suscetíveis às doenças cardiovasculares e os distúrbios endócrinos, que já são, inclusive, uma constante nos consultórios veterinários, pois muitas dessas enfermidades possuem sua gênese no sedentarismo e descontrole nutricional”, explica.

Além de viverem em espaços inapropriados, alguns animais ainda ficam sozinhos durante a maior parte do seu dia.. Conforme Marsel, um comportamento destrutivo, obsessivo e possessivo, medo, agressividade aparentemente injustificada, vocalização excessiva, indolência, apetite depravado ou caprichoso, atrofias musculares, perda de peso progressiva, queda do pêlo, baixa de imunidade (suscetibilidade às infecções e às falhas vacinais) e até automutilações, são exemplos de alguns comportamentos exteriorizados pelos animais de companhia quando não há mais companhia.

Alguns conselhos podem ser úteis para uma convivência menos estressante para os animais:

·         Sempre que for à rua e for possível levar o animal, o leve. Não importa se for só na esquina comprar um jornal. Cada saída representa uma quebra na monotonia para ele;

·         Caso não haja tempo ou disposição para o passeio, contrate alguém que o faça. Lembre-se que o cão está sempre esperando pela oportunidade de dar uma volta;

·         Após a caminhada habitual, procure levar o cão a um parque de cães. A sociabilização é um importante fator anti-estresse;

·         Equilibre a alimentação. Rações ou suplementos alimentares com elevado teor de energia podem fazer o cão ter vontade de gastar essa energia acumulada. O que é um problema quando o espaço é restrito;

·         Desde filhote, reserve um momento para a interação entre você e o seu animal. Escove os dentes, mexa na orelha, escove o pêlo, acaricie o cão ou o gato.  Essa técnica é chamada de “imprint” e cria uma relação de confiança, acalma e facilita qualquer manipulação;

·         Caso o cão apresente um comportamento inapropriado, pense que o ambiente e as relações nele impostas podem ser a causa de tudo. Compreenda as relações e os níveis de hierarquia na sua “matilha” e as soluções podem ser mais facilmente encontradas;

·          Ao primeiro sinal de distúrbio orgânico, procure um médico veterinário. Não permita que leigos interfiram e piorem ainda mais a saúde do animal.

 

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