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Decifrando e entendendo melhor os gorilas – gravidez e parto

29 de maio de 2009
4 min. de leitura
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Por Fátima Chuecco  (da Redação)

Recentemente, a notícia de uma gorila que teria rejeitado seu filhote no zoo de San Francisco (EUA) circulou pelos veículos de comunicação. Lamentavelmente, a notícia, originária de agências internacionais, não dava nenhuma explicação sobre o fato. Não foi a primeira e nem será a última ocorrência desse tipo. As jovens gorilas que nasceram em cativeiro ou que foram levadas para zoológicos quando muito pequenas, cresceram sem suas mães e nada aprenderam sobre maternidade e muito menos sabem o que fazer quando dão à luz.

Gorilas, chimpanzés, orangotangos e bonobos são grandes primatas evoluídos – mesma ramificação científica em que se encontra o ser humano, embora este esteja num momento evolutivo mais avançado. O comportamento maternal em todas as espécies de grandes primatas é muito semelhante. Existe um período de observação e treino para as tarefas mais corriqueiras do dia-a-dia, como fazer ferramentas para colher cupins de uma árvore ou encontrar uma pedra adequada para quebrar cocos. Filhas aprendem com as mães como lidar com bebês, assistem aos partos e ajudam a cuidar dos irmãos menores. Igualzinho a nós, humanos. É por isso que, quando não passam por esse aprendizado, se sentem perdidas.

Nas matérias publicadas usou-se uma frase para afirmar que a gorila teve “desprezo” por seu filhote: “A mãe nem sequer olhou para o bebê”. Na verdade, a gorila, jovem e inexperiente, não entendeu direito o que estava acontecendo. Nunca viu outras gorilas amamentando seus bebês no colo. Os gorilas atingem a maturidade sexual por volta dos 8 ou 9 anos de idade, mas ainda são adolescentes e jovens demais para serem pais. Surgem brincadeiras sexuais, mas raramente ocorre uma gravidez nessa fase. Os gorilas machos só se tornam adultos com 18 anos e as fêmeas aos 15… Bem parecido conosco, não?

A gravidez dura nove meses e, durante esse período, o macho faz para a gestante camas suspensas nas árvores, a cinco ou seis metros do chão. O vínculo familiar é muito forte. As gorilas se ajudam na criação dos bebês. Os machos também são carinhosos e frequentemente são flagrados na floresta com bebês dormindo em seu peito. Num ataque por caçadores humanos (seus únicos inimigos), o líder, conhecido como silverback ou dorso-prateado, jamais foge. Ele enfrenta a situação até o fim, o que geralmente lhe custa a vida e a do próprio grupo que, sem ele, fica desnorteado.

Eles sabem que o zoo não é o lugar deles

Mas a falta de preparo não é a única razão de casos de rejeição em zoos. Sensível e inteligente, o gorila em cativeiro, geralmente, assume um comportamento melancólico ou agressivo. Se tender à depressão pode adoecer e morrer, mas, se optar por um comportamento antissocial, rejeitará outros gorilas, incluindo fêmeas em período reprodutivo. Se houver inseminação artificial nas fêmeas, é quase certo que o bebê será rejeitado pelos pais.

São raros os casos de gorilas que se adaptaram ao cativeiro. Um exemplo foi o Copo de Neve, único gorila albino do mundo, mantido no zoo de Barcelona (Espanha) desde 1966 e que morreu em 2007 de câncer de pele. Copo de Neve, ao longo dos anos, recebeu muito carinho de seus tratadores e do público. Isso contribuiu para que o gorila atingisse idade tão avançada e tivesse 20 filhos, nenhum albino. Copo de Neve aprendeu a apreciar o convívio com humanos e, como foi parar num zoo quando ainda era um bebê, provavelmente nem se sentia gorila, mas humano.

Caso parecido é o da Koko – gorila mais famosa do planeta, que já foi capa da revista Times. Ela também já viveu dias de rejeição. Embora tenha expressado o desejo de ser mãe, por meio da linguagem dos sinais (que domina muito bem), nunca foi aceita por um gorila macho. Koko cresceu numa casa como qualquer menininha humana. Aprendeu a usar batom (que ela mesma passa em frente ao espelho), folhear livros infantis, assistir à TV e mexer no computador. Koko age como humana e acredita que é humana. Suas atitudes talvez assustem outros de sua espécie que não estão tão adiantados quanto ela. Koko já passou dos 30 anos e continua solteira. Sua vida até os dias de hoje pode ser acompanhada no site www.koko.org.

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