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Em busca de água no Pantanal seco, animais acham a morte na BR

14 de maio de 2009
4 min. de leitura
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Todos os dias animais morrem atropelados dentro do Pantanal de Mato Grosso do Sul, um dos mais venerados e importantes santuários ecológicos do mundo. A reportagem do Midiamax flagrou no trecho de 240 quilômetros de Corumbá à Miranda pelo menos 20 corpos de animais de diferentes espécies, como aves, jacarés, tatus, gambás e tamanduás, no domingo (10).
A cada dez quilômetros, um animal é vítima dos abusos dos motoristas em alta velocidade. E pela legislação, os carros que ali transitam não poderiam ultrapassar a velocidade de 80 quilômetros por hora.
Como o ciclo atual é o da seca, os animais caminham quilômetros a procura de água e com isso, aumentam os riscos de acidentes, explica a bióloga Mariana Coelho Miraulti, do CRAS (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres).
Durante o dia, o sinal de que algo de errado aconteceu pode ser visto de longe. Dezenas de urubus no asfalto em torno da carniça. À noite, o risco é ainda maior porque ao verem a luz dos faróis os bichos param no meio da pista ou correm em zigue zague, um perigo para a fauna e também para o motorista que precisa estar alerta para não acabar também vítima da alta velocidade.
Como a rodovia corta a maior planície alagada do mundo, e os condutores desconsideram o risco de atropelar animais na pista, o problema salta aos olhos e deixa mau cheiro pelo trajeto.
Seca
Na região pantaneira sempre é assim durante o ano: seis meses de cheia e outros seis meses de seca. O ciclo natural mexe com os animais nos dois momentos. No primeiro, em janeiro, fêmeas e machos cruzam o Pantanal para o acasalamento, segundo a PMA (Polícia Militar Ambiental). E é nesse período que crescem os registros de atropelamentos.
Na seca, nesta época do ano, as espécies de animais se expõem ao perigo. “O tamanduá filhote acaba vindo para o CRAS (Centro de Recuperação de Animais Silvestres) porque a mãe morre atropelada. Os tamanduás e cágados, por exemplo, são muito lentos”.
A paisagem rica em aves como papagaios e tucanos pode ser apreciada mesmo a partir de um veículo a 80 quilômetros por hora. Na beira do asfalto, tuiuiús vigiam o ninho num cenário seco. As aves são facilmente fotografadas por habitarem em árvore totalmente sem folhas e sombra.
Para Mariana Miraulti, é natural para as aves e os outros animais tentarem achar o melhor lugar. Porém, a BR-262 é uma barreira inquestionável. “A queimada no Cerrado é comum por se tratar de uma renovação da vegetação. O problema é a rodovia no meio do caminho. Se não existisse ela, os animais fugiriam normalmente do fogo. Quando isso ocorre, eles acabam atropelados”, explica.
Impasse
A UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) já produziu pesquisa a respeito do problema e inclusive sugeriu a construção de corredores embaixo da pista para preservação da fauna. Porém, segundo a bióloga, o projeto acabou contestado por conta de uma situação: “se passar uma onça ali embaixo e urinar, os outros bichos não passam mais. É o maior predador da região [onça]”.
Para a PMA, uma sinalização mais rigorosa no trecho de Miranda até Corumbá aliada à campanhas publicitárias nos veículos de comunicação seriam eficientes para que o problema ambiental registrado na BR-262 fosse sanado.
Em caso de acidente, o CRAS orienta os motoristas para que socorram os filhotes. Animais grandes podem ser perigosos, mas tanto a PRF e a PMA que têm postos ao longo da estrada podem ser acionados para prestar socorro.
Hoje, 800 animais passam pela recuperação no CRAS, no Parque dos Poderes, em Campo Grande, para depois serem introduzidos de volta ao habitat natural. Rômulo da Luz (jacaré)/Jacqueline Lopes (estrada)
Alta velocidade e desrespeito às sinalizações em rodovia que corta o Pantanal, perigo aos animais
A legislação ambiental não é rigorosa. Só pune com multa de até R$ 5 mil e prisão de 1 ano e meio [menos de 6 anos são medidas fora das grades] os motoristas flagrados em alta velocidade e que atropelam de propósito os bichos ao jogar o veículo na direção deles na pista. “Mas, isso é muito difícil de ser flagrado. A não ser que haja testemunhas”, explica o capitão da PMA (Polícia Militar Ambiental) Edmilson Queiroz.
Fonte: Midiamax

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