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Cerca de 100 mil cavalos são despachados anualmente dos EUA ao Canadá e México para abate

9 de abril de 2009
5 min. de leitura
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Cavalos emaciados comendo cascas de árvores. Cavalos abandonados amarrados a postes telefônicos. Cavalos que se alimentam de fezes e caminham entre as carcaças de outros animais.
Enquanto a economia continua a tropeçar, policiais do Estado de Kentucky e em outras regiões dos Estados Unidos registram um crescimento no número de cavalos negligenciados e indesejados, alguns deles abandonados em áreas públicas e outros deixados sem comida pelos proprietários.
A situação renovou os debates sobre a reabertura de abatedouros nos Estados Unidos – onde o último deles foi fechado em 2007 –, como possível solução para o problema. Alguns Estados, como Missouri, Montana, Dakota do Norte e Dakota do Sul, por exemplo, estão procurando maneiras de reativar os abatedouros.
Cerca de 100 mil cavalos são despachados anualmente ao Canadá e México para abate, e isso levou o Congresso a considerar um projeto de lei que proibiria a venda e transporte de cavalos a outros países para consumo humano. Mas Arkansas, Geórgia e oito outros Estados se opõem a essa medida, alegando que os proprietários precisam de opções de custo acessível para tratar da questão de cavalos indesejados.
Na semana passada, em Montana, o Legislativo aprovou um projeto de lei permitindo a construção de instalações para o abate de cavalos. O governador Brian Schweitzer, democrata, que apoia a recriação dos abatedouros, suspendeu uma cláusula do projeto que teria limitado o direito de apelação dos oponentes.
Mas Keith Dane, porta-voz da Humane Society dos Estados Unidos, uma organização de proteção aos animais que se opõe ao abate de cavalos, declarou que o projeto de lei de Montana era desnecessário porque o abate de cavalos já era legal no Estado, e que o objetivo da medida era simplesmente privar a oposição do direito de tentar impedir a construção do abatedouro por motivos ambientais e outros.
“Acreditamos que a lei seja inconstitucional, e que represente uma maneira de beneficiar o setor de abate de cavalos”, disse Dane.
Outra questão não resolvida no debate mais amplo é se o fechamento dos abatedouros contribui para o crescente número de cavalos indesejados, o que reduz o preço de alguns animais a apenas US$ 50 em leilões.
“Em resumo, é preciso separar animais de animais de estimação”, disse o deputado estadual Edward Butcher, republicano, o autor da lei aprovada em Montana. “Ninguém precisa enviar um cavalo a um local de processamento. Isso é apenas uma opção para cavalos que não podem ser usados. E é bem mais humano que deixá-los para morrer de fome”.
De acordo com a Humane Society, os Estados Unidos enviaram 98.363 cavalos ao México e Canadá para abate, no ano passado. Até 28 de março, 17.758 cavalos haviam sido sofrido o mesmo destino este ano.
O número crescente de cavalos abandonados dificulta a atuação da polícia, que em um momento de aperto nos orçamentos precisa agora se informar sobre as leis referentes a animais e descobrir como tratá-los. Lidar com os aspectos jurídicos da negligência pode ser ainda mais difícil.
No Kentucky, onde os cavalos representam o ganha-pão de muitos moradores, as leis sobre crueldade são vagas e a jurisdição cabe a cada um dos 120 condados do Estado, muitos dos quais cooperam com organizações de defesa dos animais que mantêm abrigos.
Mark Arenson, encarregado de controle de animais no condado de Calloway, Kentucky, passou sua carreira investigando casos de crueldade contra cães e gatos, e estava entre os 15 agentes de controle de animais, xerifes e diretores de abrigos que passaram por um curso de três dias organizado pelo Kentucky Horse Council, uma organização sem fins lucrativos, na Universidade Estadual Murray.
Em uma tarde ensolarada de março, Arenson foi ensinado a procurar por costelas salientes, um sinal de fome; a observar os cascos, que devem estar aparados e curtos para que o cavalo não manque; e a tomar cuidado ao se aproximar de um animal por trás, porque ele pode escoicear.
“Não sei muito sobre cavalos”, disse Arenson. “Muitas dessas coisas são novidade para mim”.
Brandon Gallimore, xerife assistente do condado de Calloway, cerca de 160 km a noroeste de Nashville, se viu um pasto repleto de cavalos, tentando aprender a distinguir marcas características de modo a poder identificar os animais em processos judiciais.
Não existem estatísticas firmes sobre o número de cavalos abandonados, no Kentucky ou no país, mas a Sociedade de Prevenção da Crueldade contra Animais afirma que tem recebido inúmeras denúncias de cavalos negligenciados, e que havia distribuído toda a sua reserva anual de feno em apenas dois meses.
Nos locais onde há estatísticas, elas assustam. Em Nevada, funcionários do governo informam que 63 cavalos foram abandonados em terras do Estado no ano passado, ante apenas 11 em 2007. Em Sweetwater County, Wyoming, onde anteriormente não existiam cavalos abandonados, 20 foram recuperados no ano passado. E no Texas, 170 cavalos foram apreendidos em um rancho no mês passado.
As autoridades do Estado informaram acreditar que o dono tivesse comprado centenas de cavalos a baixo preço, planejando vendê-los quando o mercado virasse. “Eles estavam tentando manter os animais vivos com o mínimo de gastos”, diz Clint Ward, do gabinete do xerife do condado de Hill.
Muitos Estados estão reforçando suas leis de controle à crueldade contra animais. No Oregon, o Senado estadual aprovou em março uma lei que torna crime o abandono de cavalos, e os legisladores do Arizona estudam criar uma lista pública de locais que resgatam equinos.
No caso de Andy e Rose Cardinale, de Swanville, Maine, eles sempre conseguiram manter os cuidados a seus animais, mas no ano passado perderam sua casa e seu negócio.
O casal levou dois de seus cinco cavalos a um centro de resgate de animais; outros dois estão sendo cuidados por amigos; o último, um garanhão, eles estão tentando manter.
utra proprietária desesperada, forçada a entregar um cavalo que não pode mais manter, é a estudante Erin O’Brien, 24 anos, também do Maine.
“Eu podia pagar a faculdade ou manter o cavalo”, ela disse, no estábulo em que seu cavalo, Amos, fica abrigado, em uma noite gélida de março. Erin estava acariciando gentilmente a crina do cavalo, e o beijou. “Amo você, baby”, ela disse.
Com informações de The New York Times/Terra

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