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Picanço-barreteiro: ave do ano em Portugal corre risco de extinção

12 de abril de 2009
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Com apenas 17 centímetros, o picanço-barreteiro (Lanius senator) conseguiu a proeza de impor-se como Ave do Ano de 2009 em Portugal. A escolha da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), como explica um coordenador da organização, Domingos Leitão, não foi só por esta ser “uma ave representativa das espécies agroflorestais”, mas também “por representar as aves que antes eram comuns e agora estão em declínio”.
Para ser escolhido, o picanço-barreteiro teve de bater a concorrência, uma vez que os sócios da SPEA tiveram de escolher entre três espécies. Agora, esta pequena ave tem a responsabilidade de representar todas as espécies agroflorestais e lutar contra a sua progressiva diminuição, que já lhe valeu o rótulo de espécie “quase ameaçada” em Portugal.
Apesar de durante o inverno preferirem terras africanas ao sul do deserto do Saara, os picanços-barreteiros passam a primavera e nidificam na Europa. Até aos anos 80 a espécie era bastante comum nos países mediterrâneos, mas esse cenário está mudando. O biólogo Domingos Leitão explica que estas aves “têm diminuído drasticamente, tendo decrescido 50% nos últimos 30 anos”.
Os motivos do flagelo há muito foram identificados. “A intensificação agrícola e florestal, o aumento do uso de pesticidas, a diminuição dos prados e sebes, a florestação com espécies exóticas e as alterações climáticas têm contribuído para esta situação”.
Quanto às alterações climáticas, ao contrário de outros especialistas da SPEA, Domingos Leitão garante que “ainda não existem provas para podermos garantir que têm contribuído para a diminuição da espécie”. Porém, o biólogo não tem dúvidas em apontar o dedo às novas práticas de agricultura. “A situação destas aves piorou com a adesão de Portugal à União Europeia, pois a modernização da agricultura destruiu paisagens que continham importantes locais de refúgio para o picanço-barreteiro”, explica.
Domingos Leitão acredita, porém, que é possível inverter a situação e aponta soluções. “Para salvarmos estes animais é preciso estimular um tipo de agricultura mais sustentável, como a agricultura biológica, que mantenha as sebes, as linhas de água, a paisagem natural, usando sistemas de proteção”.
Por outro lado, para que o picanço-barreteiro possa ser protegido, é preciso que os ornitólogos o conheçam melhor. No entanto, em Portugal, os processos de monitorização estão ainda muito atrasados.
Estudo sem asas para voar
O picanço-barreteiro foi escolhido como ave do ano, mas é apenas a “espécie-bandeira” para sensibilizar o público em geral para a conservação da Natureza e para as alterações climáticas.
Domingos Leitão explica que “os dados sobre a redução desta espécie não são fidedignos”. Isto porque, em Portugal, a monitorização só começou em 2004, o que faz com que os primeiros resultados sobre o picanço-barreteiro, bem como as restantes espécies, só estejam concluídos em 2014. “Dentro do panorama ocidental, somos os mais atrasados na monitorização das aves”, lamenta o biólogo.
O estudo das aves depende da boa-vontade dos 150 voluntários da SPEA, pois “nestes cinco anos não houve qualquer financiamento estatal”. A organização não tem rendimentos fixos, o que dificulta em muito o trabalho no terreno e impede a concretização de um dos grandes objetivos da SPEA: “sensibilizar a população no geral, através de ações de formação”. Ainda assim as “bolsas de mérito” são suficientes para manter viva a SPEA, que anualmente faz o censo de aves comuns e realiza uma contagem de aves no Natal e no Ano Novo.
Para ajudar as aves, a SPEA desenvolve ações de sensibilização (ver caixa), que têm uma dupla função: angariar fundos e envolver a sociedade civil nos projetos. Por falta de financiamento, os voos da ornitologia em Portugal continuam a ser mais curtos que os do pequeno picanço-barreteiro.
Fonte: Jornal de Notícias

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