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Quem quer, afinal, a liberdade dos animais? - parte 3

11 de abril de 2009
2 min. de leitura
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Quer a liberdade dos animais os criadores de cães e gatos de raça, que tanto anunciam em pet shops e que proliferam pela Internet? Paradoxalmente, são vistos pelo cidadão médio como alguém que traz à vida tantos ‘animaizinhos fofos’, que tanto os ama, e fornece amigos e companheiros para quem também, como eles, adora os animais. Mas quem compra não vê os bastidores, só vê filhotes arredondados, perfumados e com lacinhos, “ai, que lindos”, “mãe, eu quero um”, aquela coisa toda. As velhas técnicas da gigolagem, inclusive descartar a fêmea quando esta não é mais rentável.

Pois as fêmeas servem para dar ninhadas ao ‘dono’, vendidas a peso de ouro conforme a raça da moda, para os pais agradarem os filhos, os maridos agradarem as esposas, ou como sinal de status. Do pitboy que necessita ter um cachorro com cara de malvado preso a uma coleira firme em sua mão, como extensão de seu braço, à patricinha que compõe seu visual com um cãozinho que ‘combina com tudo’, todos recorrem ao gatil e canil, e sustentam esse mercado. Encomendam, às vezes, até detalhes físicos específicos de seu futuro ‘amigo’, com raças de nomes estúpidos como Lulu da Pomerânia e Lhasa Apso, ouvindo conselhos de especialista como “este é melhor para apartamento”, “aquele se dá bem crianças”, só faltando combinar com a cor do sofá.

O curioso é que, ao se visitar um abrigo para gatos ou cachorros abandonados, o espaço é bem democrático – ‘raças’ e ‘misturados’ foram igualmente colocados para fora de casa, e acabaram recolhidos. Alguns são frutos de lares desfeitos, mas a maioria está lá porque a família se cansou deles, já que não são mais uma bolinha redonda e fofa com um lacinho na cabeça, ou porque a criança rodou na escola e o castigo foi perder o cachorro, ou porque o marido se vingou da esposa dando fim no ‘maldito gato’. A coisa é bem democrática.

Alguns desses supracitados quer a liberdade para os animais? Ou quer vê-los como bibelôs, como máquinas de parir dinheiro, como itens do vestuário, como prêmios pelas boas notas escolares, como formas peludas de demonstrar afeto, como placas vivas dizendo ‘não se aproxime, eu faço jiu-jitsu e posso morder’? Mas, no fundo, talvez a razão essencial de se pagar caro por um filhote retirado da mãe e gastar durante anos em ração e banho e tosa é apenas para exercer o mais íntimo e escondido desejo de ter alguém – tão próximo – a seus pés, obediente e pronto a apanhar, conforme a vontade de seu dono. Alguns apanham sempre, outros ficam de prontidão no quintal, a vida inteira.

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