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Onde está a real diferença entre humanos e demais grandes primatas?

11 de abril de 2009
4 min. de leitura
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Por Fátima Chuecco  (da Redação)
Há décadas alguns pesquisadores de vanguarda vêm defendendo que todos os grandes primatas poderiam ser tratados como “pessoas” dadas as semelhanças comportamentais, físicas e até intelectuais com os humanos. Classificados como grandes primatas (great apes) ou primatas evoluídos (sem rabo) estão os gorilas, chimpanzés, orangotangos e bonobos (também conhecidos como chimpanzés-anãos).
Embora muitas evidências possam atestar que os grandes primatas sejam como nós, apenas vivendo um momento evolutivo diferente, a maioria das pessoas não admite equipará-los ao homem. O filósofo e pesquisador australiano Peter Singer foi um dos primeiros a levantar a hipótese de que todos os grandes primatas deveriam ser tratados da mesma forma e ter os mesmos direitos. Em suas palestras ele sempre lembra que índios e negros também já foram tratados como meros animais pelos homens brancos, o que, como sabemos, resultou em muitos anos de escravidão e extinção de muitas tribos, sejam africanas ou de índios brancos.
Mas do ponto de vista científico, o que afinal nos separa de um gorila, chimpanzé ou orangotango? Aspectos físicos? O corpo revestido por uma grossa camada de pelo é, para muita gente, um elemento que abre um abismo entre humanos e os demais grandes primatas. Mas nós também já fomos mais peludos e com as costas mais arqueadas. E já nos comunicamos, nos primórdios da nossa vida na terra, apenas por gestos e grunhidos. Internamente falando, no entanto, nosso corpo é igual ao deles: mesma disposição de órgãos… tudo igual.
A diferença é o DNA que, em nenhum dos casos, tem 100% de semelhança. São diferenças mínimas entre 2% e 0,5% segundo alguns estudos mais recentes (e polêmicos com DNA de chimpanzés), nas quais os pesquisadores conservadores sustentam suas teses de que o humano é e sempre será um “ser superior”. Mas a resposta pode ser mais simples e esclarecedora, sem esbarrar na questão da “superioridade”.
Adaptabilidade
O que fez o intelecto do homem avançar ao ponto em que se encontra hoje pode ser resumido em uma única palavra: adaptabilidade. Essa foi a chave para um mundo mais complexo e rico de opções. O primata que deu origem ao homem, por necessidade ou curiosidade, abandonou sua região de origem e se deparou com climas e situações com os quais teve de se adaptar para sobreviver. Sua mente precisou buscar novas soluções para novas questões ligadas a alimentação, abrigo e reprodução. Sua mente passou a trabalhar muito mais em comparação à mente dos primatas, que continuaram vivendo em seu habitat natural, convivendo com os mesmos problemas e situações.
Aquela minúscula diferença no DNA pode estar ligada a esse desenvolvimento mental que resultou de uma necessidade de adaptação a novas circunstâncias de vida: sob neve, regiões alagadas, desérticas, com novos animais, predadores, alimentos etc. Até hoje, passados milhões de anos, gorilas, chimpanzés e orangotangos habitam exatamente a mesma região de origem. É a mesma paisagem (embora reduzida e danificada pelo desmatamento) e são os mesmos animais ao redor, as mesmas frutas, o mesmo clima… Só o que mudou na vida dos grandes primatas foi uma maior exposição ao seu grande predador: o ser humano. Nós ainda não temos dados muito específicos disso, mas certamente grupos de chimpanzés, gorilas e orangotangos têm criado novos métodos de fuga e novos sons para avisar o bando sobre a aproximação do homem.
Só para ilustrar esse cenário, certa vez vi um documentário de um casal de pesquisadores que perseguia um grupo de chimpanzés a uma certa distância para obter fotos e dados comportamentais. Eles dormiam na selva, comiam os mesmos alimentos que os chimpanzés e queriam saber se eles tinham um esconderijo secreto. Mas o bando andou em círculos e, por fim, acabou levando o casal de volta ao acampamento da onde tinham partido. E houve até uma despedida. Para deixar bem claro que não queriam mais ser seguidos, ao chegarem próximos ao acampamento, os chimpanzés começaram a atirar várias pedras no casal. Foi como dizer: “Trouxemos vocês para casa, agora deixem-nos em paz”. Parece uma atitude humana, não parece?
Mas esse exemplo foi só para motivar uma reflexão sobre essa questão de tratar ou não outros grandes primatas como pessoas e atribuir-lhes direitos semelhantes aos nossos como, por exemplo, não serem usados em experiências científicas dolorosas ou de reclusão. Vale lembrar que todos eles aprendem a manusear computador, reconhecem números, cores, pessoas e outros animais em foto, se reconhecem no espelho e muitos gostam de folhear livros ou ver TV. A maioria aprende a se comunicar pela linguagem dos sinais. Socialmente falando, eles também formam famílias, casais, grupos de arruaceiros com jovens solteiros… Assim, fica a reflexão: o que de verdade nos diferencia dos outros grandes primatas?

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