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Normas de segurança do Parque Nacional do Iguaçu (PR) não estariam sendo cumpridas

3 de abril de 2009
4 min. de leitura
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Segundo Ângela Kuczach, bióloga da Rede Nacional Pró-Unidades de Conservação, além de não estarem capacitadas para rodar em estradas-parque, as empresas de turismo têm feito visitas cada vez mais rápidas, para que o tempo do turista seja gasto no comércio da cidade. “Muitos guias de turismo da cidade são comissionados por lojas locais, que repassam cerca de 30% do valor dos produtos vendidos nas suas lojas paras eles”, diz.
Quando o turista entra no parque pelo caminho normal, a partir do centro de visitantes e com translado do ônibus do parque, ele passa cerca de quatro horas na unidade. Pelas agências de turismo, esse tempo pode cair para uma hora apenas. “Quanto mais rápido o turista passa pelo parque, mais tempo ele tem para ficar nas lojas e mais turistas as agências conseguem levar para a unidade”, diz Ângela.
E o atropelamento da onça trouxe à tona mais um erro na administração do tráfego de veículos no parque. Segundo Apolônio Rodrigues, vice-diretor da unidade e diretor em exercício no dia do acidente, apenas a entrada dos carros é anotada e não a saída. Isso criou uma lacuna nas informações sobre os carros que trafegaram na unidade na noite do acidente e, por isso, até agora não se conhece o culpado pelo crime. “Esse é um furo que vamos ter que resolver”, diz.
O resultado da não-obediência ao plano de manejo está estampado nas listas de animais mortos na rodovia. Apesar de ser o mais emblemático, o atropelamento da onça-pintada não foi isolado.  Dados oficiais indicam que cerca de 20 animais morrem atropelados todos os meses, como gambás, cotias e veados. No entanto, Ângela Kuczach garante que este número é bem maior, já que muitos animais pequenos não são computados.
Culpa de quem?
A demora na implementação do plano de manejo do parque, segundo Apolônio Rodrigues, deve-se justamente à pressão que o setor turístico exerce na região, que evita a todo custo medidas como a restrição ao trânsito dentro da unidade, por exemplo. A pressão é tanta que, há dois anos, o chefe da unidade, Jorge Pegoraro, chegou a ser intimidado por empresários e um deputado federal para que não barrasse a entrada de empresas turísticas na unidade.
Ontem (1º), novamente o setor turístico conseguiu sua vitória. Após reunião entre Prefeitura de Foz do Iguaçu, ICMBio, Iguassu Convention & Visitors Burau e Conselho Municipal de Turismo, os empresários locais conseguiram que o transito na unidade fosse reaberto, após quatro dias de veto à entrada de agências da cidade e táxis. Pelo acordo firmado entre as partes, as agências terão 30 dias para apresentar uma proposta alternativa de atuação. Até lá, apenas o trânsito diurno está permitido.
Segundo Apolônio Rodrigues, se o setor vier com uma proposta muito permissiva após este prazo, ela será vetada. “Mantemos a posição de fechar de vez o trânsito na unidade. Não vamos discutir mais nada [com empresários]”, garante.
A julgar pelos ânimos do setor turístico de Iguaçu, se daqui um mês a unidade quiser cumprir com sua palavra, terá de ter pulso firme para agüentar o tranco. No início da tarde de hoje, um grupo que se denominou “ambientalista” realizou manifestação pacífica em frente à entrada da unidade. Eles colocaram a representação de um grid de largada na cancela e desenharam uma enorme onça no chão, cortada por uma faixa de pneu.
O que eles querem, segundo Márcio Bortoli, da Associação de Desenvolvimento de Esportes Radicais e Ecologia (Adere), não-governamental que encabeçou a manifestação, é apenas a “conscientização” das pessoas que transitam no parque. Bortoli afirmou ser contrário ao fechamento do parque para agências turísticas e disse que o movimento não apóia tal determinação. “Não adianta brigar contra turistas, o que queremos é apenas conscientizá-los”, disse. Márcio Bortoli também é um dos proprietários do Hotel Bella Itália, no centro de  Foz do Iguaçu.
O Parque Nacional do Iguaçu foi o segundo criado no Brasil, em 1939. Era proposto por Santos Dumont desde 1916. Hoje é o parque nacional mais visitado do Brasil, recebendo cerca de um milhão de visitantes ao ano. Também foi declarado Patrimônio Mundial Natural da Humanidade pela Unesco em 1986. Infelizmente, parece incapaz de proteger seus habitantes mais ilustres.
Fonte: O Eco

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