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Todos querem ser livres

16 de janeiro de 2009
3 min. de leitura
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No artigo anterior discorri um pouco sobre a privação da liberdade daqueles que nasceram com asas para voar. Mas não só os pássaros anseiam pela liberdade, é claro. Todos os animais, humanos ou não, querem ser livres: cães acorrentados; cavalos atrelados a carroças, ou aprisionados em baias; felinos enjaulados; suínos, aves, mamíferos, como bezerrinhos, encarcerados em cercados minúsculos… Trabalhos de diversos etólogos – que estudaram diferentes animais nas mais variadas situações de privação da liberdade, desde a parcial, até a total – evidenciaram o sofrimento que lhes é provocado não apenas no plano físico, mas também psicológico. E o pior deles – o mais sutil, porque mais “invisível” – talvez seja o dano decorrente da monotonia, uma consequência inevitável de todo e qualquer tipo de confinamento. Os animais não-humanos, assim como nós, procuram a diversidade de sons, sabores, cores, ambientes e atividades.

Gostaria de ter incluído, na coluna passada, um primoroso poema abolicionista do nosso colossal poeta e jornalista Olavo Bilac. Transcrevo agora o poema, lembrando que não apenas os pássaros querem “saudar as pompas do arrebol”, como diz Bilac, se embevecer com a cor afogueada da aurora, ou do pôr-do-sol. Todos querem a diversidade e a liberdade. Todos nós temos esse direito.

O Pássaro Cativo *

Armas, num galho de árvore, o alçapão;
E, em breve, uma avezinha descuidada,
Batendo as asas cai na escravidão.
Dás-lhe então, por esplêndida morada,
A gaiola dourada;
Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos, e tudo:
Por que é que, tendo tudo, há de ficar
O passarinho mudo,
Arrepiado e triste, sem cantar?
É que, crença, os pássaros não falam.
Só gorjeando a sua dor exalam,
Sem que os homens os possam entender;
Se os pássaros falassem,
Talvez os teus ouvidos escutassem
Este cativo pássaro dizer:
“Não quero o teu alpiste!
Gosto mais do alimento que procuro
Na mata livre em que a voar me viste;
Tenho água fresca num recanto escuro
Da selva em que nasci;
Da mata entre os verdores,
Tenho frutos e flores,
Sem precisar de ti!
Não quero a tua esplêndida gaiola!
Pois nenhuma riqueza me consola
De haver perdido aquilo que perdi …
Prefiro o ninho humilde, construído
De folhas secas, plácido, e escondido
Entre os galhos das árvores amigas …
Solta-me ao vento e ao sol!
Com que direito à escravidão me obrigas?
Quero saudar as pompas do arrebol!
Quero, ao cair da tarde,
Entoar minhas tristíssimas cantigas!
Por que me prendes? Solta-me covarde!
Deus me deu por gaiola a imensidade:
Não me roubes a minha liberdade …
Quero voar! voar! …”
Estas cousas o pássaro diria,
Se pudesse falar.
E a tua alma, criança, tremeria,
Vendo tanta aflição:
E a tua mão tremendo, lhe abriria
A porta da prisão…

(*) Olavo Bilac. Do livro Poesias Infantis. Rio de Janeiro: Ed. Francisco Alves, 1929.

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