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Porquinhos em fuga: a história com final feliz dos “Tamworth Two”

2 de janeiro de 2009
Paula Brügger
4 min. de leitura
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O título acima se refere à história verídica de dois porquinhos da raça tamworth que driblaram a morte no momento em que estavam sendo descarregados num abatedouro na cidade inglesa de Malmesbury, condado de Wiltshire, em 8 de janeiro de 1998. Os porquinhos, depois chamados de Butch Cassidy e Sundance Kid, permaneceram “foragidos” por mais de uma semana. A procura por eles causou sensação na mídia, além de ter despertado um grande interesse por parte do público, tanto na Grã-Bretanha quanto fora dela.

Butch – uma fêmea – e Sundance – um macho – eram irmãos e tinham cinco meses de idade quando foram levados de caminhão, pelo seu proprietário, para o abatedouro. Assim que foram descarregados do caminhão os dois conseguiram se “espremer” através de uma cerca e, depois de cruzarem a nado o rio Avon, se refugiaram em jardins da região. Eles passaram a maior parte de seu tempo de liberdade num denso matagal próximo a Tetbury Hill e, nesse meio tempo, apesar de haverem se tornado celebridades, o proprietário deles declarou que ainda tinha intenção de mandá-los para o matadouro, caso fossem recapturados.

Depois dessa declaração o proprietário recebeu generosas ofertas em dinheiro, por parte da mídia e militantes da causa animal, para salvar os dois porquinhos da mesa de jantar. O jornal Daily Mail chegou a comprar os porquinhos de Dijulio (o proprietário) em troca de direitos exclusivos para contar sua história. Butch foi finalmente encontrada, na noite de 15 de janeiro, quando ela e Sundance foram vistos se alimentando num jardim. E Sundance, embora houvesse fugido mais uma vez para dentro do mato, foi apontado no dia seguinte por dois cães da raça springer spaniel e alvejado com um dardo contendo tranqüilizante. Depois disso, os dois passaram a viver num santuário para animais, em Kent. Há quem afirme que durante a sua fuga passaram, inclusive, por um policial vegetariano que teria fingido que não os viu…
Mas milhares de outros porquinhos não têm a mesma sorte de Butch e Sundance…

A história dos tamworth two revela um sentimento humano assaz contraditório: animais que normalmente são vistos como comida, repentinamente, se tornam pets e passam, de forma muito incômoda, do estômago para o “coração” dos humanos. É patético pensar que a idade em que os irmãos menos afortunados de Butch e Sundance são abatidos é a mesma época em que – em outras condições – esses mamíferos inteligentes estariam brincando como fazem todos os filhotes, sejam de estimação ou não.

Muito triste ainda é pensar que, antes disso, viveram confinados em espaços mal ventilados, tiveram seus rabos cortados para evitar o canibalismo, seus dentes cerrados e foram castrados sem anestesia. De fato, o tratamento tido como “normal” ou “aceitável” para muitos animais que servem de alimento aos humanos é considerado cruel e suficiente para dar voz de prisão, quando aplicado aos animais de estimação. Há denúncias de que animais como porcos e bois são sangrados ainda conscientes. São confinados em áreas apertadas, sofrem com fome, doenças e maus-tratos, como apanhar.

Porcas gestantes são forçadas a parir atadas a uma fivela na baia e uma porca reprodutora, em toda a sua vida, terá uma média de quatro a seis gestações, com 10 a 12 filhotes cada, até ser morta mais ou menos aos três anos de idade por falta de saúde, ou falhas reprodutivas. Os filhotes são separados delas com um mês e abatidos com cerca de seis meses.

Porcas confinadas têm maior incidência de ferimentos nos pés, inflamações nas juntas e lesões abrasivas na pele do que animais criados soltos. Tais injúrias físicas e muitos outros sofrimentos psicológicos são causados pelo fato de os animais viverem confinados em espaços mínimos e sobre pisos de cimento ou concreto. O sistema de confinamento também frustra os instintos dos animais, como fuçar o solo, construir seus ninhos e ter contato físico, social, com outros animais. Isso causa comportamentos anormais, típicos de estresse, como mastigar o ar, ou morder as barras de ferro de suas instalações.

Mais da metade das porcas reprodutoras na Europa é criada nessas condições, em baias tão pequenas que não permitem que o animal sequer se vire. Dessa forma os animais têm que se deitar sobre seu próprio excremento. A situação aqui é basicamente a mesma.

Os porcos, além de sofrerem tudo isso para que sua carne chegue às mesas dos humanos a um baixo custo, são ainda alvo de pesquisas em xenotransplantes, pois alega-se que são fáceis de criar e que seus órgãos têm tamanho semelhante aos dos humanos. Mas, além de extremamente cruéis e ineficazes, os xenotransplantes podem criar novas doenças como a AIDS, porque as transferências de órgãos, de uma espécie para outra, podem permitir que retrovírus de uma espécie se recombinem com vírus humanos (e de outras espécies) e mutem para formas infecciosas após um transplante. Mas seria digressivo discorrer sobre isso aqui. Deixo o assunto para uma outra coluna.

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