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Paradigmas engolidos com a merenda

2 de janeiro de 2009
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“Define-se o abuso ou maus-tratos pela existência de um sujeito em condições superiores – idade, força, posição social ou econômica, inteligência, autoridade – que comete um dano físico, psicológico ou sexual, contrariamente à vontade da vítima ou por consentimento obtido a partir de indução ou sedução enganosa”, diz a socióloga Suely Ferreira Deslandes. A sociedade enfrenta essa realidade no tocante a crianças, mulheres e idosos, basicamente, mas a relação que existe entre a humanidade e os demais animais moradores do planeta está dentro da definição.

Imaginemos o horror cada vez que o cavalo é acordado, às quatro horas da manhã, pelos barulhos de seu dono, sabendo que será mais um dia de exaustão puxando carroça, sem pausa nem sombra. Ou quando se acendem as luzes para mais uma rotina diária em um laboratório de testes, o pavor em cada coelho, macaco, rato ou similar? Ou ainda, exercitando nosso poder de nos colocarmos no lugar do outro, o mal-estar de uma vaca leiteira inchada artificialmente, presa pelo úbere a uma máquina, separada de seu bezerro. Todos poderiam estar livres.

A arrogância humana – ou de certos humanos, já que a maioria consiste  apenas em robozinhos do sistema – mantém confinados milhões de animais para que o preciosismo à mesa não possa faltar, ou para que a culinária esteja seguindo ‘os segredos da vovó’. Como mudar uma sociedade que elege como aceitável este ou aquele tipo de violência, ou considera compreensível, se for contra este ou aquele tipo de ser senciente? Condenar a China por comer cachorro apenas reforça o especismo que lateja dentro das pessoas, pois trata-se do animal mais presente na vida do cidadão médio, então deveria gozar de imunidade quanto às ‘necessidades’ alimentares. Quanto ao resto da fauna, está liberado para o uso na cozinha.

Ainda na escola, aprende-se quanto a animais úteis e animais nocivos, incutindo na cabeça das crianças conceitos questionáveis e tendenciosos. Aquela coisa de podermos/devermos pisar na aranha, mas não na abelha. Desde cedo o especismo, assim como outros preconceitos, entra por osmose no pensamento dos alunos, junto com regras de Português, nomes das Capitais brasileiras e quem era Dom Pedro I. Um pacote completo, e ‘valendo nota’, como os professores adoram assustar. Ninguém vai separar o que são conhecimentos gerais dos paradigmas engolidos diariamente com a merenda. Ainda mais quando se tem sete ou oito anos de idade.

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