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Veganismo não é moda culinária

5 de dezembro de 2008
3 min. de leitura
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Sempre leio as crônicas de Walcyr Carrasco publicadas pela Veja São Paulo. São, geralmente, bem-humoradas e interessantes. Porém, confesso que na edição de 19 de novembro, o texto não foi o primeiro a me decepcionar, mas o primeiro a mexer comigo diretamente.
Um cronista não tem certos deveres de um jornalista. Ele não precisa, por exemplo, ser imparcial. Também não precisa ouvir “o outro lado”. A crônica expressa seu pensamento e ponto. Porém, quando se trata de uma revista nacional, com grande tiragem, muita repercussão e um cronista famoso, devemos nos preocupar com que sua opinião seja ponto de partida ou, quem sabe, um incentivo para formar outras opiniões.
O texto em questão, intitulado “Os gastrochatos” fala de modas culinárias, pratos tidos como requintados que não passam de comidas simples e até cruas, e dietas diferentes do arroz, feijão, bife e batata frita. Para minha surpresa, lá pelas tantas, ao falar de pessoas radicais e extremamente preocupadas com a saúde, isso mesmo, S-A-Ú-D-E, ele cita os vegans:
“Também existem os gastrochatos da saúde. Os mais extremos são os da linha vegan. É o vegetarianismo radical. Uma conhecida jamais usa em vegetais uma faca que tenha cortado carne, porque está “impura”. Os vegans não desfrutam nenhum derivado de animais. Nem mel.”
Walcyr não sabe que quem adota o veganismo está preocupado com animais? Pelo menos eu não conheço ninguém que abdicou do paraíso da ignorância por saúde. Pelo contrário, quem se torna vegetariano pela saúde, logo vai comer a absurda carne orgânica. Aquela que, entre outras coisas, vem de animais criados em pastos orgânicos e tratados com medicamentos homeopáticos antes de serem assassinados, sabe?
Voltando à crônica, seu texto continua da seguinte forma:
“Um amigo natureba adora cozinhar para as filhas: tofu frito com cebolinha e arroz integral. Comentou, espantado:
– Descobri que elas comem bife escondido na casa das amigas!
– Você está criando duas carnívoras – expliquei. – Quem cresce comendo tofu vai se esbaldar na primeira churrascaria até antes de aprender a dirigir!”
Estranho ler isso. Eu, quando estava com 17 anos, depois de ser criada com carne a vida toda, resolvi virar vegetariana e assim permaneço até hoje. Ah, e tem um detalhe, aprendi a dirigir com 18 anos.
Qualquer pesquisa rápida com vegetarianos mostra que a maioria opta pelo veganismo quando adulta.
Quando se trata de comunicar, a desinformação pode ser muito grave.
Eu já passei por situações constrangedoras com jornalistas. Constrangedoras para eles. Uma vez a repórter de um telejornal me perguntou se vegan era um apelido para vegetariano. Minha vontade era responder: www.google.com.br.
Tanto nesse caso quanto no texto em questão, uma pesquisa para se inteirar sobre o assunto é indispensável. Principalmente para saber que o veganismo existe pelos animais e, cada vez mais, se fortalece pelo meio ambiente e pela vida humana também.
A entrevista seria mais rica, assim como Walcyr Carrasco não teria encontrado motivos para citar o veganismo como uma moda culinária em seu artigo.
Mais difícil que encontrar opções veganas é saber que os meios de comunicação, ao invés de ajudar, atrapalham. Se metade das pessoas que já usaram seu talento para escrever baboseiras sobre o veganismo o tivesse usado para conscientizar pessoas, o mundo seria muito melhor.

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