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Um cão para Obama

26 de dezembro de 2008
3 min. de leitura
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Por pós-conceito dos estadunidenses e seus consumos exagerados, presidentes abobados e outras tantas más características, eu jamais pensei que a maioria fosse apoiar que o futuro cachorro do novo presidente deva vir de um abrigo. Mas é verdade. Uma pesquisa realizada pela CNN apontou que 13% da população prefere que Obama adote um cão em vez de comprá-lo em um pet shop. Desses, 9% acham que o ideal é um vira-lata. Segundo o próprio Obama, um vira-lata como ele: “Nossa preferência seria ter um cachorro abandonado, mas, obviamente, muitos cachorros abandonados são vira-latas como eu”. O mas nesta frase diz respeito a uma de suas filhas que tem alergia e, por isso, a preocupação em encontrar a raça que não a prejudique. Mas Obama pode ficar despreocupado. São muitas opções. Os canis dos Estados Unidos recebem, em média, 7 milhões de cachorros abandonados por ano. Segundo matéria da BBC Brasil, só em Nova Yorque 44 mil gatos e cachorros são abandonados todos os anos e, nessa época de crise, esse número é ainda maior. Por doenças, contenção de gastos, falta de espaço ou cuidados, muitos desses animais são sacrificados.
Não precisamos ir muito longe. A séria realidade do abandono de animais é muito forte no Brasil. São muitos os trancados em abrigos ou soltos perambulando pelas ruas. E esse número cresce assustadoramente nas férias. Chega a ser – pasme! – até 1.000% a mais que em outras épocas.
Animais são tidos como objetos, um souvenir que pode ser descartado depois de um tempo, uma roupa que não serve mais.
Luiz Scalea, gerente da Associação Protetora de Animais São Francisco de Assis, relatou em uma matéria publicada no Portal Terra, que muitas famílias viajam por períodos longos, abandonam seus animais nas ruas e justificam aos filhos pequenos que na volta compram um novo. Que péssimo exemplo a quem está crescendo, formando opinião, índole e personalidade.
A maior ONG de proteção a cachorros do Reino Unido, Dogs Trust, listou as desculpas mais esdrúxulas de donos que resolvem abandonar seus cachorros. Sem dúvidas qualquer pessoa com um pouco de normalidade e compaixão vai ficar tão boquiaberta quanto eu. Veja as 10 desculpas mais absurdas:
1. “Meu cão não combina com o sofá.”
2. “Ele parece o demônio e tem olhos de cores diferentes, como David Bowie [sic].”
3. “Meu cachorro preto não combina com o carpete branco. Posso trocá-lo por um cachorro branco?”
4. “Meu cão está muito velho. Podemos trocá-lo por um filhote ou um animal mais novo?”
5. “Meu cachorro comeu o peru de Natal que estava esfriando na pia.”
6. “Meu porquinho-da-índia fica aborrecido com um cachorro na casa.”
7. “O cão abriu todos os presentes de Natal.”
8. Certa vez, um dono que caiu de joelhos no cocô de seu cachorro enquanto limpava o chão levou o animal no dia seguinte à ONG.
9. A entidade já recebeu um filhote que foi dado de presente a um casal de idosos já com dificuldades mentais.
10. Staffordshire bull terriers já foram deixados na ONG por se parecerem com pit bulls.
Com exceção do ser humano, nenhum animal é doméstico. Nós os obrigamos a ser. Queremos animais em casa para suprir carências e nem assim somos capazes de retribuir o carinho e a vida imposta ao nosso convívio. Basta um pouquinho de reflexão para concluir que mal sabemos cuidar de nossa própria espécie. Somos analfabetos ambientais e agimos sem um pingo de consciência diariamente.
Chega! Paremos de incentivar a existência de pet shops, a procriação para o comércio de animais. É urgente que se crie uma lei para a proibição de qualquer estabelecimento e pessoa que venda animais.
Se alguém quiser um animal em casa, que seja para tirá-lo das ruas ou de um abrigo, dar a ele uma vida digna e mais feliz. Assim como, eu espero e torço, Obama fará.

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