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Cavalos: vida e morte repletas de sofrimentos — Produção de Premarin (parte II)

5 de novembro de 2008
Paula Brügger
4 min. de leitura
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Na coluna anterior terminei o Tao do Bicho me referindo à crueldade subjacente ao confinamento de éguas prenhes para produzir o Premarin, uma droga usada em terapias de reposição hormonal que movimenta algo em torno de US$ 800.000.000/ano. Há cerca de 450 fazendas no Canadá e 50 nos EUA, onde aproximadamente 60.000 éguas são usadas na produção da droga. Nessas fazendas, as éguas são engravidadas e cateterizadas1 para que não se perca nada da sua preciosa e lucrativa urina. As futuras mamães são forçadas a ficar de pé sobre um piso de concreto em baias minúsculas (de cerca de 2,44 x 1,07 m) durante os 11 meses de gravidez.

A largura das baias impede até simples movimentos, como virar-se ou deitar-se direito e, por mais da metade do ano, as éguas ficam impossibilitadas de dar mais de dois passos em qualquer direção. Após o nascimento dos potrinhos, permite-se que as éguas pastem junto a eles por um curto período. Durante essa fase, elas são reengravidadas, separadas de seus bebês e recolocadas na linha de produção. Como os bezerros que são tirados de suas mães vacas para serem criados como “vitelas”, os potrinhos também são um “subproduto” dessa indústria cruel.

Alguns são mortos imediatamente ao nascerem. Outros, mantidos vivos (caso das fêmeas cujo destino é substituir as éguas exaustas, ou expandir a produção), mas a maioria é vendida aos quatro meses de idade, aproximadamente. São enviados para engorda e depois abatidos. Fazendeiros que arrendaram suas éguas relataram que elas retornaram aleijadas e com a saúde comprometida. E um ex-funcionário de uma fazenda em Manitoba, Canadá, documentou, inclusive, diversas mortes.

Além disso, os problemas com o processo de fabricação, especialmente o tratamento dado aos resíduos com “cheiro de potro” do produto, preocupam ambientalistas e legisladores canadenses. A expansão proposta nas instalações de produção ameaça assoberbar um sistema de tratamento de esgoto já sobrecarregado, além de sérias conseqüências para o rio Assiniboine (fonte de água potável para a população de Manitoba). Como se isso não bastasse, a terapia com o hormônio apresenta riscos à saúde (adaptado e resumido de http://br.geocities.com/animaissos/premarin.html; http://www.habitatforhorses.org/joincampaigns/premarinpolitics.html.

Um estudo parcialmente financiado pelo grupo Wyeth-Ayrest (fabricantes do Premarin) e pela American Cancer Society revelou que mulheres que fizeram a reposição hormonal durante cinco anos, ou menos, tinham uma chance 80% maior de contrair câncer de mama do que aquelas que não haviam tomado a medicação. Os pesquisadores estudaram 37.000 mulheres durante 11 anos (http://suewidemark.netfirms.com/bc1999.htm). Também a Dra. Joan Borysenko destaca que “o Premarin contém 17 tipos diferentes de estrógeno, a maioria dos quais inimiga dos seres humanos”. O Premarin é o único medicamento para reposição hormonal que usa urina de éguas grávidas.

A venda dessa droga perigosa se mantém graças à falta de informação e porque existe uma indústria que lucra milhões com a sua produção (http://prod.midiaindependente.org/en/blue/2003/08/260206.shtml)2. É incrível constatar como a saúde humana está interconectada com a saúde do restante da biosfera. Existe hoje uma gama de opções para reposição hormonal que inclui tanto os fitoestrógenos (derivados da soja e de plantas menos conhecidas como Trifolium pratense; Cimicifuga racemosa; Angelica sinensis), quanto os alimentos funcionais ou nutracêuticos3. Recomendo que o leitor visite, entre outros, os sites sugeridos no final deste artigo. É preciso, finalmente, repensar a questão da “chegada da idade” a partir de uma perspectiva mais ampla, tanto no plano ético, quanto estético.

Alguns valores estão tão deteriorados em nossa cultura que se chega ao absurdo de ouvir profissionais da saúde se referirem à velhice como uma doença e não como parte de um processo natural, intrínseco à nossa passagem pelo planeta. Essa est(ética), apesar de equivocada, tem respaldado uma busca frenética pela eterna juventude, a qualquer preço, e faz com que muitos de nós nos tornemos um mero arremedo – caricaturas – do que fomos há 20 ou 30 anos. Saúde e beleza andam juntas e existe uma grande diferença entre procurar aprimorar a saúde e a aparência física e ser escravo de expedientes ética e esteticamente questionáveis. Informação e “bom senso” estão na base de um equilíbrio saudável.

1. A cateterização é o processo de inserção de um cateter, ou seja, um ducto ou vaso, em uma cavidade corpórea natural, ou em uma cavidade cística ou de abscesso, que possibilita a drenagem ou injeção de fluidos ou o acesso a instrumentos cirúrgicos; em português utiliza-se mais o termo “sonda” quando o cateter é introduzido por um orifício corpóreo natural (Wikipédia).

2. O site indica um vídeo que mostra como funciona a “máfia” do Premarin; os responsáveis pela investigação foram agredidos, diante das câmeras, ao tentarem filmar um leilão de éguas para matadouros.

3. Alimentos funcionais são os que apresentam um papel metabólico ou fisiológico no crescimento, desenvolvimento e outras funções do organismo humano.

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